segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Era uma vez uma mulher chamada Zoraide Camargo Sampaio

Ao escrever neste ipad lembro-me de minha mãe, para quem todo pedacinho de papel, mesmo de embrulhar pão, era um material precioso. Sempre com um lápis por perto nele deixava um "recadinho" para um filho ou neto, um poema que lembrava um momento de sua vida, um pensamento alegre pela visão da beleza de uma forma, do canto de um pássaro ou das cores da natureza. Enfim, o lápis e o papel eram o seu instrumento para registrar a sua comunhão com o mundo, com as pessoas, com a vida.
Imagino mamãe com um ipad! Seria sua felicidade completa ter o mundo nas mãos; ter seus filhos, netos e bisnetos ( já tinha três tetranetos quando faleceu com noventa e seis anos), por mais distantes que estivessem, ao alcance de seus olhos e poder com eles trocar idéias em tempo real. Poder ler tudo que desejasse sem correr bibliotecas e livrarias (quase acabou com minha coleção de Dicionário Enciclopédico Ilustrado de Júlio Ribeiro, 1826).
Zoraide, os prêmios e as honras que você recebeu do país e méritos da igreja, foram menos do que o exemplo que nos deixou pelas decisões, coragem e alegria que marcaram sua vida. Meu amor e admiração são tão grandes hoje como o foram quando estava conosco.
Tenho a certeza que meu sentimento e minhas palavras refletem, tal vez nem tudo, o que todos os seus descendentes desejariam falar( com exceção de Leny que não está mais conosco mas que assim sempre demonstrou pensar).
Nesta homenagem quero incluir nossos amigos, as famílias dos maridos de suas filhas e de seus netos que ela sempre admirou e quis bem.
Obrigada ao nosso Deus e a você, mamãe, por sua vida e pela vida que nos deu.

sábado, 1 de dezembro de 2012

A Família Homossexual: Evolução ou Retorno

A sociedade moderna parece estar, finalmente, acordando para a necessidade de encarar de frente o problema da homossexualidade. A situação atual dos homossexuais, tanto masculinos quanto femininos, está se tornando insustentável. Cada vez mais representantes dessa faixa da população, assim como de uma parte da sociedade , estão se movimentando para exigir mudanças. Essa pressão incide principalmente sobre autoridades e serviços sociais através da mídia. Mas até agora esse movimento só tem se manifestado em termos de reivindicações parciais mal definidas e passeatas.
A importância dessa questão justifica uma atenção maior no sentido de expor a complexidade e a relevância dos fatores sociais e individuais que têm mantido os homossexuais, ainda que mais ou menos veladamente, à margem da sociedade.
Uma vez que a família representa o núcleo a partir do qual a sociedade é constituída, deverá ser o casamento a porta de entrada para a introdução do conceito de família homossexual na sociedade.
É meu objetivo neste texto encontrar os fundamentos que justifiquem atribuir ao casamento um sentido mais amplo de união de duas pessoas do mesmo ou de sexos diferentes; entender a função da maternidade como uma decorrência da união sexual entre duas pessoas de gêneros diferentes ou em resultado de inseminação artificial ou, ainda, como uma função recebida através de adoção. Espero, finalmente, poder considerar a família a instituição social destinada a dar estrutura e permanência ao casamento através de leis, normas e a transmissão de valores, usos e costumes, condizentes com as características biológicas, psicológicas e sociais do ser humano.
Ora, a proposição destes conceitos para casamento e família já contém em si mesma a aceitação de que a única diferença significativa entre o casamento homo e heterossexual está no fato de, no segundo caso, ele ter mais um componente biológico, isto é, incluir a capacidade dos dois cônjuges para gerar filhos.
Na medida em que a procriação depende, por sua vez, da estrutura orgânica do indivíduo de sexo feminino e do masculino que se unem, podemos perguntar se seria apenas a diferença de gênero ou somente as funções sociais os únicos responsáveis pelo milagre do amor, do companheirismo, da proteção à família, de sacrifício e abnegação e tantos outros aspectos que justificam a proposta do matrimônio e a instituição da família.
Nesse caso, também o estudo dos fatores biológicos e psicológicos responsáveis pela formação do ser humano deverá contribuir para o melhor entendimento da posição dos diferentes gêneros no casamento e na sociedade.
Para deixar claramente definida minha proposta e seus fundamentos, este texto vai exigir muitas informações e reflexões. Portanto, julgo que deverá ser lido, de preferência, por pessoas de " mente aberta", isto é, que estejam dispostas a ler, compreender e discutir sem preconceito social, ético ou religioso, as relações entre homens ou mulheres que se buscam para construir um lar, uma família, e ocupar legitimamente seu lugar na sociedade.
Pretendemos, pois, abordar o problema da formação da família homossexual pela análise das duas forças que se fundem na formação global do ser humano: a das instituições sociais vigentes no meio em que ele vai nascer e viver e a dos elementos estruturais determinantes de seu gênero, que vão interagir na sua formação biológica, psicológica e social.

Vamos começar com um passeio pela história da vida humana em sociedade sob o foco da evolução do comportamento sexual e suas relações com os usos e costumes estabelecidos nas normas vigentes para o casamento.
- Se considerarmos que pesquisadores já encontraram atividades homossexuais em mais de 200 espécies entre mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e insetos, é possível esperar que tais comportamentos também deverão ter existido entre os homens pré-históricos. O documento mais antigo sobre a homossexualidade na pré-história é o achado de um esqueleto de homem que viveu entre 4.500 e 5.000 anos atrás. A equipe de pesquisa da Sociedade Arqueológica Tcheca, através de conhecimento dos rituais de sepultamento, constatou que os restos de um sítio arqueológico neolítico em Praga indicava um indivíduo de sexo masculino homossexual ou transexual. Isso foi corroborado pela arqueóloga Katerina Sewradova
- No Oriente Médio os estudos e pesquisas sobre a homossexualidade não estão em geral ao alcance do público. Brian Whitaker, jornalista que publicou um livro sobre o homossexualismo no Oriente Médio, relata como os governos censuram retratos positivos do que chamam "fenômeno repugnante" . Mas, em função de dados que aparecem mais comumente, embora sem citação de fonte, esse autor aceita, com algum fundamento, que a grande maioria dos 14 países que compõem essa região criminaliza com punições ou pena de morte as relações sexuais entre pessoas do mesmo gênero. Nos demais países não há tolerância nem aceitação pela sociedade e em raros casos há penalidade apenas para a homossexualidade masculina.
-Na China antiga, entre 960 e 1.127 , no período Sung, o lesbianismo era tolerado como o resultado natural do convívio das numerosas esposas e concubinas nos aposentos das mulheres ("efeito harém") . Entre 1.368 e 1644, no período Ming, inúmeros relatos comprovam a naturalidade com que os chineses viam a homossexualidade e a bissexualidade. Em Fujian havia uma forma de casamento entre homens na qual ambos juravam fidelidade. O mais velho se referia ao mais jovem como " irmão adotivo mais moço" O jovem ia morar com o velho e era recebido pela família como afilhado.
- No Japão, por volta de 1.637, a homossexualidade tornou-se popular sob o nome de "shudo" e aceito pelos monges e pela burguesia como uma filosofia de vida.
O conceito de amor por meninos foi desenvolvido pelos monges budistas e os samurais na época medieval com ênfase na moral e na espiritualidade.
- Segundo o Wikpedia, (em uma publicação de Kabir Altaf, " Os Hijras da India" ) antropólogos observaram que os papeis do homem e da mulher variavam significativamente entre as sociedades e que diversas sociedades ao redor do mundo têm mais de dois sexos. Entre elas figura o hijra indiano ( Schultz e Lavenda, 237 ) . Na Índia hijras são vistas como terceiro sexo e sempre existiram de forma institucionalizada. Adoram uma versão da Deusa Mãe e por ela se submetem à castração. Em troca a deusa dá a elas o poder de abençoar casamentos e crianças do sexo masculino para dar fertilidade.Também têm o poder de amaldiçoar. Embora estejam associadas com o hinduísmo, são aceitas no Islão. Praticamente todas são transexuais. A partir de 1994, quando o direito de voto foi concedido ao enuco, várias hijras ocuparam cargos políticos.
Observamos que, ao lado das punições rigorosas e intolerância vigentes na maioria dos países do Oriente Médio, em outras regiões orientais onde houve tolerância ou aceitação, a homossexualidade adquiriu um significado mais amplo do que apenas a relação sexual, pois abrangia a vida do homem ou da mulher como um todo. Então, é possível supor que, historicamente, uma visão superficial possa ter levado a um julgamento parcial da homossexualidade. É um exemplo o conceito de "anti natural" ( fenômeno repugnante) para o que era "fora dos padrões sociais" e decorrente de proibição governamental, religiosa ou de ambas. Na medida em que a sociedade passa a viver segundo valores mais abrangentes de consideração do homem, a homossexualidade tende a ser vista como uma das características da espécie humana ( conceito filosófico) .
- Caminhando para o ocidente entre os índios norteamericanos onde há mais igualdade social entre os homens e as mulheres, a aceitação da homossexualidade também é maior. O gênero não é visto com a mesma importância social que as culturas orientais lhe atribuem. Entre os nativos da América do Norte, o grupo " dois espíritos " é comparável ao dos hijras.
- Para os Maias, o homossexualismo entre homens e mulheres era considerado natural e normal enquanto para os Incas e Astecas era passível de penalidade. A lei asteca condenava à morte os homossexuais e travestis, tanto homens como mulheres.
- No Brasil, nossas informações começam a partir das primeiras expedições exploradoras. Vários relatos de antropólogos apontam a naturalidade com que os indígenas praticavam a homossexualidade.
- Na história da civilização ocidental, onde o grande número de estudos e pesquisas sobre a evolução cultural possibilita uma visão mais rica do desenvolvimento social, a questão da homossexualidade aparece pobremente representada. Lenin Campos Soares sumaria no seu estudo sobre Homoerotismo e Homossexualismo os vários significados sociais atribuídos à homossexualidade na antiguidade, principalmente nos séculos XV||| e X|X. Por exemplo, em Esparta o homossexualismo era incentivado na educação militar como parte da disciplina para cultivar a união entre os soldados. Enquanto isso, em Atenas a relação sexual entre homens da mesma idade era abominada pois implicava que um deles assumia a posição passiva da mulher, considerada inferior. Mas os atenienses aprovavam essa relação entre um homem mais velho e um jovem, que não podia ter menos de 13 e mais de 18 anos. Quando o jovem atingia os 18 anos, a relação amorosa transformava-se em amizade. O jovem procurava uma esposa, constituía sua família e, por volta dos 30 anos, era a sua vez de apaixonar-se por um rapaz.
De um modo geral, os dados obtidos parecem mostrar uma relação positiva entre o nível cultural e a maior ou menor tolerância e aceitação da homossexualidade; e que essa atitude social está relacionada à influência da instituição familiar tanto nos casos de poligamia como nos de monogamia.
- Edward McNall Burns, na sua História da Civilização Ocidental, , relata que na Renascença, com o exagero do luxo e do individualismo, o nível da moralidade caiu e os vícios mais terríveis se relacionavam com o sexo e a vingança pessoal ( a exemplo dos Bórgias).O efeito da Reforma foi menos significativo. Vários reformadores protestantes consideravam a poligamia menos pecaminosa do que o adultério e o divórcio. A prostituição tinha defensores. Buffon dizia: " No amor não há nada de bom senão o lado físico".
Se a história da civilização no ocidente evidencia a influência dos interesses do governo e da igreja na constituição e nas funções da família, nestas duas últimas épocas são raros os registros confiáveis sobre a posição da homossexualidade na sociedade e muito menos na família.
Entretanto parece clara a relação entre o nível cultural e a aceitação da homossexualidade e que essa atitude social está relacionada à influência da família.

Propomos então, com Burns, uma volta à cultura neolítica para que se possa entender o conceito de instituição social aplicado à formação do grupo familiar. Esse conceito pode revelar a importância da influência da família na posição social da homossexualidade.
O aspecto mais importante da cultura neolítica foi o desenvolvimento das instituições
e uma das mais antigas instituições humanas é a família. Historicamente, ela sempre significou uma unidade mais ou menos permanente composta dos pais e sua prole, cuja função é proteger os menores, estabelecer e gerir a divisão do trabalho, a conservação e transmissão de propriedades, assim como das crenças e costumes. Ela parece ter existido desde essa época tanto sob a forma poligâmica ( matrimônio plural ) como monogâmica. Sob quaisquer dessas formas a família, como instituição social, sempre teve a função de extensão do poder do governo e da igreja para o controle dos valores a serem transmitidos à sociedade e às gerações futuras.
A partir do panorama geral e de alguns exemplos que aqui couberam podemos afirmar que em nenhum momento e em nenhuma cultura - a não ser em tentativas muito recentes - foi revelado interesse tanto das autoridades do estado quanto da igreja em compreender ou atender as necessidades bio-psicológicas e sociais dos cidadãos homossexuais - homens e mulheres. Do mesmo modo não houve disposição para propor medidas, leis ou normas sociais e religiosas visando a união pelo casamento ou alguma outra forma, de modo a que a família homossexual viesse a ser aceita pela sociedade. Ao contrário, como já observamos, a família, como instituição social, desde o início e até os dias de hoje tem servido aos interesses dos governos quando deveria ter nos governantes os defensores dos interesses e necessidades de seus componentes. O reconhecimento da homossexualidade, tanto masculina como feminina, tem sido um dos aspectos que tanto o estado como a igreja negligenciaram ou interpretaram de maneira tendenciosa ao longo da história do homem.
Ultimamente as atitudes de aceitação em relação aos homossexuais tornaram-se mais frequentes no mundo todo principalmente nos países ocidentais democráticos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a aceitação da homossexualidade cresceu bastante, comparativamente, nos últimos 50 anos. Numa sondagem realizada no Instituto Gallup em 1.999 , a aceitação pelos americanos de um homossexual para cargo eletivo igualou à dos mórmons ( 79% ) e superou a dos ateus (49%).
Mas continua a haver desinteresse por um melhor conhecimento das relações entre os aspectos biológicos e psicológicos do ser humano e a constituição da família. Tal conhecimento poderia definir medidas para eliminar a existência de uma parte, felizmente cada vez menor, de discriminação velada que pode ser atribuída ao ranço dos valores que ainda persistem nas gerações mais velhas.

Precisamos entender, então, como as forças sociais deveriam atuar tendo em vista o conhecimento do ser humano hetero e homossexual em seu contexto biológico, psicológico e social. Em outras palavras, o conhecimento do ser humano como um todo uma vez que ele não é formado de uma simples soma de partes.
Neste sentido, recorreremos, como fontes de informações, dentre outras, a livros como o de Allan Pease ( Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor? ...; R.J.; Sextante, 2.000), a publicações de pesquisas e relatos, assim como história de casos.
As pesquisas relatadas por Pease representam a teoria mais aceita porque até o momento não foram realizadas pesquisas experimentais sobre a diferenciação sexual com o ser humano. Elas mostram que o padrão básico da formação do corpo e do cérebro do feto da espécie humana é feminino (XX)
- Entre 6 a 8 semanas depois da concepção, para se transformar em masculino (XY), o feto recebe uma dose maciça de hormônios masculinos (androgênios) que primeiro formam os testículos e depois alteram o cérebro de um formato feminino para uma configuração masculina. Quando nessa época certa esse cérebro não recebe a quantidade suficiente de hormônios masculinos duas coisas podem acontecer: Primeiro, nascer um menino com cérebro estruturalmente mais feminino do que masculino e que na adolescência vai se descobrir "gay ". Segundo, nascer um bebê com genitais masculinos e o funcionamento do cérebro inteiramente feminino - um transgênico ou transexual. Pertence biologicamente a um sexo mas sente atração pelo outro. Não são raros os casos de indivíduos que após casarem e terem filhos descobrem, com grande conflito emocional, sua atração por outro homem. No dia 20 de novembro deste ano foi publicada uma matéria a qual , divulgada na rede da TV britânica BBC, foi enviada por Carolina de Andrade ao jornal Folha de São Paulo sob o título "transtorno de identidade divide especialistas". Conta o caso de um menino inglês, Jack, que aos quatro anos já afirmava ser menina e queria se comportar como tal. Sofreu "bulliyng" na escola e entre onze e dezesseis anos fez sete tentativas de suicídio. Com essa idade foi operado na Tailândia pois a lei inglesa proíbe a cirurgia para mudança de sexo em menores. Hoje é modelo e finalista no concurso Miss Inglaterra. A matéria relata opiniões de especialistas e as divergências ainda existentes sobre aspectos desse caso.
- De outro lado, quando o feto feminino ( XX ) recebe no prazo certo (6 a 8 semanas) uma carga grande de hormônio feminino (estrogênios) o bebê nascerá uma menina. A presença de hormônio masculino é insignificante ou nenhuma. Assim se formarão os genitais e o modelo do cérebro continua feminino e receberá a configuração dada pelos hormônios femininos e desenvolverá as capacidades esperadas para esse sexo. As vezes por acidente o feto do sexo feminino recebe uma dose significativa de hormônio masculino na fase da diferenciação sexual ( 6 a 8 semanas após a concepção). Daí resulta o nascimento de uma menina com cérebro até certo ponto masculino que futuramente se reconhecerá homossexual lésbica. A palavra " lesbianismo" vem da ilha grega de Lesbos e surgiu em 612 a. c.
Aparentemente a homossexualidade feminina não é vítima de tanto preconceito quanto a masculina mas isto talvez por se manter mais na intimidade, " oculta" da sociedade. Isto poderia explicar porque os homossexuais masculinos parecem ser mais numerosos do que as femininas. Para cada lésbica são encontrados de 8 a10 " gays ".
Podemos ver, então, que a determinação biológica do ser humano não é uma opção portanto não é um problema mas um fato. Os problemas que existem são impostos pela sociedade, através das leis, da tradição e dos mitos e ritos. Do mesmo modo que os heterossexuais os homossexuais não têm opção quanto ao seu gênero. Até o momento força alguma, quer social, religiosa ou científica conseguiu modifica-los, a não ser violenta-los em seu comportamento social, moral e ético. Vejam por exemplo aqueles homossexuais cujas atitudes parecem deliberadamente afrontar a moral social. Seria isso produto de insegurança, de sentimento de inferioridade quanto ao seu gênero ou uma atitude de revolta perante uma sociedade insuficientemente organizada? Porque atitudes igualmente afrontosas, quando exibidas por jovens heterossexuais, não são julgadas segundo os mesmos padrões de valores.
Maltratar um ser humano porque é homossexual é o mesmo que maltratar, por exemplo, um negro por sua cor ou um judeu por sua raça.

A relação entre a formação biológica e as funções psicológicas é relatada na pesquisa da cientista e pesquisadora canadense Sandra Witleson que testou homens e mulheres para localizar a emoção no cérebro. Antigamente se pensava que os hormônios só afetavam o corpo. Hoje se sabe que eles programam o cérebro antes do nascimento ditando pensamentos e atitudes. Candice Pert, do American National Institute of Health, em uma pesquisa pioneira descobriu os neuropeptídeos que são filamentos de aminoácidos que circulam pelo corpo e se juntam a receptores compatíveis. Eles seriam os responsáveis pelas emoções de amor, medo, confiança, segurança etc. Mas como essa teoria científica explicaria o fato de que o idoso é, em geral, mais emotivo do que o jovem? Com a idade não deveria haver desgaste também das" emoções-células" ? Seria possível uma explicação e uma justificativa biológica da permanência do casamento heterossexual, assim como do fortalecimento das relações sentimentais entre os cônjuges até o final de sua vida (quando os hormônios já chegaram ao final da sua vida) ? O que parece ser coerente é pensar que o amor não está circunscrito ao gênero mas que a sua manifestação pode se modificar e se estender muito além de uma função hormonal e é esta emoção-sentimento uma das bases da permanência do casamento. Ora, se considerarmos que a espécie humana, em decorrência de sua constituição biológica, psicológica e social está representada por indivíduos pertencentes a três gêneros: masculino, feminino e homossexual, as funções do amor e da reprodução ocuparão seus devidos lugares na constituição da família e da sociedade.

Podemos, então, concluir este texto dizendo que:
- o comportamento sexual do homem tem sido influenciado em grande parte pelas forças sociais, especialmente pelas necessidades e interesses governamentais frente às demandas notadamente de conquistas territoriais; e isto é válido principalmente quanto ao sexo masculino.
- as funções da família, como uma instituição social, têm servido ao estado e a igreja como órgão facilitador da introdução e disseminação de leis e normas sociais com vistas à sua assimilação na forma de valores, usos e costumes.
- tendo em vista as funções sociais do homem e do grupo familiar, entendemos que a
educação do ser humano tem sido parcial no sentido de não ter sido levada em conta todas as suas características individuais notadamente as decorrentes da diferenciação sexual.
Uma vez que até o momento é irreversível a determinação do gênero no ser humano e que o fato de ignorar ou descartar a existência de uma terceira modalidade de gênero - a homossexual - tem causado graves problemas individuais e sociais, fica óbvia a necessidade de ser repensada a posição desses três gêneros na sociedade moderna. A posição do homossexualismo na história do homem assim como as descobertas da sua determinação biológica mostram que essa proposta não é mais um resultado de ficção científica mas de evolução social.
Neste sentido consideramos essencial que de início fique claramente definida a posição desses três gêneros perante a sociedade a partir de um novo conceito de casamento e de família uma vez que é patente a sua importância como " celula mater" na formação das novas gerações.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Nossos Medos e o Poder para ser Feliz

Certo dia lí um livro que achei muito interessante. Nele encontrei uma abordagem de aspectos da vida humana -e do além da vida -os quais geralmente não procuramos analisar nem compreender. Trata da relação entre a luta do homem contra os medos e bloqueios envolvidos no existir e a busca da paz e harmonia a que chamamos felicidade. Realmente, observamos que em todos os temas abordados por escritores e pesquisadores sobre a vida humana no campo dos acontecimentos sociais, das religiões, das artes e da filosofia, sempre houve referências a situações de antagonismo. É a dualidade atávica das forças opostas que coexistem no homem e no mundo: corpo x alma, bem x mal, belo x feio, luz x escuridão e assim por diante. Independente da crença ou religião de cada um, o que Sylvia (a autora do livro do qual falo) mostra, julgo relevante para a reflexão de toda e qualquer pessoa. .Ela reúne situações importantes da vida humana e sabiamente isola e analisa aspectos cruciais da existência que definem as forças e fraquezas do homem enquanto ser vivo e ao mesmo tempo eterno. Distribui essas situações em dois grupos: o dos sentimentos que bloqueiam nossa visão da magia e dos milagres que nos aguardam no dia a dia e o dos medos que tolhem nossos esforços para encontrar o poder de ser feliz.
O que pretendo é analisar alguns desses aspectos e mostrar a sua importância para a vida de todo indivíduo. A fim de que o leitor deste texto possa ter em mãos a obra da qual falo e não conhecer seu valor apenas através de meus olhos e pensamentos, aqui vão as indicações para encontrá-la: Browne, Sylvia e Lindsay Harrison; O Outro Lado da Vida: um guia psíquico para o nosso mundo e o outro- Rio de Janeiro; Sextante, 2000 .

Magia e Milagres de todos os dias : Eles estão à nossa volta mas para vê-los precisamos aprender a compreender e a lidar com alguns sentimentos que os bloqueiam. Por exemplo:

- A Monotonia - Tudo o que é novidade ou diferente causa alegria, surpresa, expectativa, interesse, enfim, motiva para a ação. A repetição conduz à monotonia, ao alheamento, ao desencanto. O hábito e a repetição são exemplos da monotonia que levam ao desinteresse. Para combater a monotonia, ao observar a sua aproximação devemos modificar a rotina substituindo-a ou introduzindo coisas novas que tragam alegria e bem-estar a nós e a outros pois estes voltarão para nós. A monotonia pode explicar a queda na qualidade de um trabalho profissional repetitivo e na saúde do trabalhador assim como o aumento da produtividade e da disposição dos funcionários com a introdução de programas de atividades físicas e sociais.
- O Sentimento de Culpa -Alguma coisa que fizemos ou deixamos de fazer pode causar tristeza e sentimento de culpa os quais nos afastam do convívio social. Por exemplo quando ofendemos alguém, muitas vezes sem intenção, podemos desencadear longos desentendimentos e mal- estar em ambas as partes, ainda que os motivos iniciais tenham-se perdido no tempo. Há pessoas que têm sentimento de culpa doentio por tudo e por todos. Por comer bem com tanta gente passando fome; por morar em um lar confortável quando há tantas pessoas sem teto, e assim por diante. Ela está sempre ressentida e amarga quando deveria pensar em como é feliz por ter condições de contribuir para a alegria e felicidade de outras pessoas.
Em todos os casos a culpa afeta a auto- estima, causa tristeza e afastamento. É preciso livrar-se desse sentimento, por exemplo combater um falso amor-próprio e procurar honestamente encontrar as razões da ocorrência e desculpar-se. Pode ter a certeza de que sairá mais forte, mais livre e mais grata a si própria e à pessoa ou pessoas envolvidas na situação.
Enfrentar o sentimento de culpa é canalizar a força desperdiçada e maximizar as chances de criar magia e milagres na vida diária. Olhar a vida de frente é procurar ser feliz e fugir, sim, do negativismo das pessoas que não nos fazem bem ou tentar modifica-las. Garanto que sua saúde vai agradecer pois corpo e mente estão interligados ; sentir- se culpado deixa doente enquanto a alegria melhora a disposição e a saúde.
- As Crendices e Superstições - são influências negativas que bloqueiam nossas forças positivas naturais dirigidas para a alegria e a felicidade.
Todas as pessoas já "sentiram" uma impressão boa ou má em algum objeto. Por isso eles foram desde épocas antigas utilizados na forma de amuletos para trazer boa ou má sorte. Para aqueles que acreditavam, os amuletos realizavam desejos ou maldições pois essas pessoas estavam predispostas a isso. Quando um objeto preparado para agradar nos chama a atenção, uma oferta milagrosa de utensílios de cozinha, por exemplo, deixe que sua intuição e atenção examine o que deseja comprar antes de dar a última palavra. Pois se o adquirir no entusiasmo do momento pode acontecer que não entenda por que toda comida sempre queima naquela panela. Ou ainda você pode não explicar por que coisas alegres acontecem e a sorte a acompanha quando está com certa roupa ou certo objeto pois ela ou ele a deixa bonita , alegre e confortável.
As pessoas também parecem trazer sorte ou azar, provocar simpatia ou mal-estar. Exemplos do poder da crendice e da superstição são a maldição e a possessão. Fuja dessas forças negativas e da sua cura pois elas sempre têm por trás pessoas mal intencionadas e criminosas. E você mesmo pode se exorcizar ou exorcizar algum coitado fragilizado criando com a alegria e a fé uma barreira do bem mais poderosa do que o mal. Como diz Sylvia, a verdade é que a única pessoa que pode te fazer mal é você mesmo ou aquela a quem você der esse poder.

Os Dez Medos em nossa Vida : A autora salienta dez formas que o medo assume e chama a atenção para a sua ação destrutiva, como nos isola, reduz o nosso mundo e nos afasta da nossa dignidade e oferece exemplos de casos que mostram como combatê-las.

- Rejeição e Abandono - Ambos estão profundamente relacionados. O medo da rejeição e/ou do abandono pode prejudicar os relacionamentos de uma pessoa durante toda a sua vida. Tanto pode levar um indivíduo a se isolar para que ninguém mais lhe cause dor ou sofrimento como pode conduzi-lo ao apego exagerado a alguém sufocando-o. A diferença entre esses dois medos- rejeição e abandono - é o mesmo que entre o afastar o outro ( mandar para longe) e o afastar-se do outro (ficar longe ). Por exemplo, não querer uma pessoa em sua casa é rejeitá-la afastando-a da sua vida; tirar uma pessoa de sua casa para morar em uma casa de idosos pode ser sentido como um abandono, um afastar-se dela. E o abandono ( quando os parentes não mais a procuram) pode ser sentido como rejeição pela pessoa deixada só. Em ambos os casos existe o "adeus" a ausência sem data para retorno.
- Fracasso e Sucesso -Todos nós sentimos as consequências do fracasso e do sucesso com maior ou menor intensidade no decorrer de nossa vida. De início os fracassos são os "nãos" que uma pessoa recebe, a desaprovação em situações em que se esperava aprovação. Quando não se referem a aspectos importantes de nossa vida fazem parte da cadeia de acontecimentos na rotina diaria. Na medida que afetam aspectos profundos ou cruciais da vida podem provocar sentimentos de rejeição e abandono. Podemos dizer que o sentimento de rejeição e de abandono são a interiorização do fracasso. Um pessoa não está triste e deprimida somente porque não mora com sua família. Até pode entender a sua incapacidade(fracasso) de se cuidar e de participar do convívio e atividades normais da família mas se sente abandonada porque está longe de seu ambiente usual de vida e esse abandono dói porque é sentido como rejeição das pessoas que "davam vida" a esse ambiente, portanto, davam significado a sua vida.
Enquanto o fracasso e o sucesso são facilmente compreendidos porque vêm " de fora", a rejeição e o abandono são mais devastadores porque vêm " de dentro", de uma reação emocional complexa a um fracasso.
O fracasso, assim como o sucesso, estão enraizados na relação entre o sujeito e seu objetivo, na sua incapacidade ou capacidade para vencer os obstáculos e alcançar o que deseja. Daí a importância da análise e da ponderação da sua capacidade de um lado e de outro, do valor do objeto de seu desejo para a sua vida antes de tentar alcançá-lo. Isso lhe dará condições de maximizar suas possibilidades de sucesso, ou seja, de nunca procurar "alcançar as estrelas".
- Traição - É outro " monstrinho" que em cada esquina de nossa existência perturba a harmonia e o prazer de viver.
Ela ocorre nas relações interpessoais e se traduz por uma emoção ou sentimento de revolta e desprazer em resposta a uma ação contrária à esperada. Sendo uma emoção, ela decorre muito mais de uma interpretação do que da compreensão e sua intensidade depende do tipo de sentimento afetado por ela. Assim, uma pessoa pode sentir-se traída quando sua melhor amiga ou amigo faz uma nova amizade pelo medo de perder a segurança e o apoio que ela sempre lhe ofereceu e pode igualmente sentir-se traída em seu casamento. No primeiro caso a compreensão e a recuperação são mais fáceis do que no segundo. Neste caso o sentir-se traído ou traída é tão complexo, abrange tantos aspectos da vida e das emoções que frequentemente afeta a saúde física e mental por um período de tempo. Em vários outros casos o sentimento de traição pode nem ser reconhecido pela consciência, sentido apenas como um mal- estar como se algo não estivesse certo. Por exemplo uma mãe dizer à sua filha que ela nasceu para ser dona-de- casa quando ela tem outros sonhos para sua vida.
E ainda há a auto- traição quando você estabelece para si limites muito abaixo da sua capacidade( julgar-se sempre incapaz) ou muito acima ( julgar-se dono da verdade ou do mundo). Em ambos os casos significa viver fora da realidade, trair-se a si mesmo.O interesse pelo conhecimento de si próprio e dos outros ( não a curiosidade interesseira) pode nos dar a verdadeira dimensão do valor das nossas aspirações e da humildade.
- Solidão - O sentir- se só é um sentimento que está ligado a todos os medos dos quais falamos e outros mais. Vemos a solidão como o medo maior, o que está no núcleo de todos os medos. A solidão assim como a sua cura não depende da presença ou ausência das outras pessoas; ela está dentro de cada um independente de estar ou não rodeado por pessoas. Portanto, solidão não é estar sozinho; você pode estar sozinho e não sentir solidão e estar com muitas pessoas e sentir-se solitário. Somente você pode preencher sua solidão. Ela explica porque a esposa embora maltratada pelo marido se recusa a abandoná-lo desfazendo a família. Mas a solidão não pode ser curada simplesmente tendo pessoas perto. Em lugar de atrair pessoas que às vezes você nem aprecia, por que não começa por apreciar a si mesmo? Você já deve ter observado que a pessoa capaz de estar bem consigo própria escapa da solidão pois cada vez mais pessoas procuram a sua companhia. A solidão torna uma pessoa amarga e depressiva e faz os demais não se sentirem bem a seu lado.
Procure se conhecer, conhecer os outros e o mundo fazendo perguntas sobre tudo que acontece, os interesses das pessoas, o que antes você gostava e agora está esquecido e deve ser lembrado, procure velhos amigos, atividades de lazer e cultura, oportunidades de ajudar alguém, etc. Participar é viver, ficar na solidão é morrer.
- Doença - Todas as pessoas tendem a aumentar seu medo da doença com o decorrer da idade . A criança nem quer saber da existência de doenças, o jovem não se interessa por conhecer as suas causas e consequências, o adulto procura conhecer e se precaver delas sempre que for possível, o idoso frequentemente tem fobia e muitas vezes fica hipocondríaco em relação a muitas formas de doença . Entretanto com idade bem avançada observamos uma tendência para o idoso se desligar das preocupações com as doenças, esquecer-se de médicos e de medicamentos.
Elas podem ser vistas como parte natural da nossa experiência de vida, um desafio para aprendermos a superá-las tanto física quanto emocionalmente.
Há pessoas para as quais as doenças constituem assunto obrigatório em todas as conversas. Ficar falando, sempre que puder introduzir na conversa, que não se sente bem é dizer ao seu corpo para estar ou para ficar doente.
Várias religiões, filosofias de vida e até mesmo o bom senso mostram os benefícios de certos rituais e exercícios para manter e proteger a saúde e até mesmo para ajudar na cura de muitas doenças.
- Velhice - Ninguém pode impedir o aumento paulatino de sua idade cronológica, mas pode impedir certas consequências ou retardar o envelhecimento, isto é, o aparecimento das características socialmente esperadas da velhice. Em outras palavras, uma pessoa pode recusar- se a se identificar com a velhice sem que isto signifique negar suas condições orgânicas e mentais. Se continua a gostar de música e dança, deve procurá-las; entretanto não deve, só para não ser vista como velha, se violentar física e moralmente forçando-se a cultivar músicas modernas tão a gosto de certa clientela adolescente ou entregar- se a malabarismos para acompanhar as danças coreográficas dos jovens modernos. Deve procurar as atividades que lhe façam bem. Ocupar o corpo e a mente com planos, projetos e atividades físicas e sociais é a única maneira de viver plenamente a sua Idade de Vida qualquer que seja a sua Idade Cronológica.
- Perda - Assim como o ganho, a perda faz parte de nossa vida. São valores opostos portanto provocam reações opostas. Se ganhar é bom, traz alegria, satisfação, acrescenta algo em nossa vida, todos a desejam. Em contrapartida, todos temem perder pois algo é retirado de nossa vida e isso significa uma redução o que traz tristeza e medo.
Ninguém quer perder e por isso é tão difícil dar, doar, entregar algo pois todos sentem como se o dar fosse sempre perder para alguém. Para o homem, seja ele criança, adulto ou idoso, o doar sempre tem significado de redução, perda, enfraquecimento.
É preciso pensar gestalticamente, isto é, esquecer a lógica da perda como de uma ou mais das partes que compõem o todo, das sobras numa subtração e de pedaços resultantes da divisão e pensar na forma e qualidade do produto dela resultante. Então veremos que dar não é sempre perder porque o que é dado volta maior e melhor. Por exemplo, quando damos amor não perdemos, recebemos mais amor; quando usamos nosso tempo com trabalhos para a família e para os outros ganhamos muito mais do que gastamos em carinho, respeito e saúde. Até quando recebemos de volta a maldade, a ingratidão, a injustiça, aumentamos nossa paciência, aprendemos a compreender e ganhamos experiência.
Como explicamos, então a perda por morte? É triste, sim, traz sofrimento pela ausência da presença física de todos os dias, do apoio em todas as horas, de uma parte da nossa vida. Mas ainda assim podemos encarar essa perda que na verdade tem origem emocional uma vez que racionalmente ninguém pode negar que é um fato esperado para todo ser vivo. Sentimos essa perda como abandono, solidão, um vazio que a fé e o tempo - se houver - se encarregarão de preencher.
- Morte - Este medo é tão geral que é denominado angústia universal. Está centralizado no sentido que a morte encerra de ser um fim definitivo, do " nada" além dela e se expressa na interrogação que fica em todas as mentes: " existe algo após a morte?"
Este medo só pode ser enfrentado pela fé e pela crença de que ela não é um fim, de que depois dela existe algo, uma outra vida, dimensão, outro lado, eternidade, céu, e outras tantas denominações dadas a um reino eterno e a um Deus que é também Pai e que não abandona seus filhos. A maioria das religiões está fundamentada na crença da existência de Deus e de Seu poder para criar e administrar um mundo que parece estar cada vez mais perdendo sua perfeição original. Enquanto o homem não for capaz de explicar e provar com os princípios das ciências humanas os milagres da natureza e da vida, do corpo e da mente do homem, a crença em Deus - Poder e Perfeição Absolutos - permanecerá. Assim terão sentido e significado a vida e a morte como algo transitório e necessário para o homem alcançar, além da vida, seu objetivo maior de perfeição absoluta de paz e harmonia.

Acabou? E onde está a famosa felicidade? Não foi colocado seu endereço e nem o caminho para lá chegar! Sabem por que? Esse endereço não existe. Ela não consta de um GPS porque não está fora de nós mas dentro de cada um e o caminho para alcançá-la está na maneira como o ser humano se relaciona consigo mesmo, com os outros e com o mundo.
Somos felizes quando damos e recebemos amor, alegria e respeito de nossos familiares e amigos, quando vemos a felicidade de um velhinho com o qual passamos meia hora ouvindo suas experiências de vida, com o sorriso alegre de uma criança ao receber um presente no Natal, com o nascimento do primeiro e de cada um de nossos filhos, quando com nosso trabalho conseguimos pagar a última prestação de uma conta ou ainda quando conversamos com um amigo no banco da praça. Portanto, em todas as situações de nosso dia a dia o milagre da felicidade pode estar aguardando o momento de ser encontrado mas ela nunca será definitiva pois o caminho para ela deve ser construído diariamente.
Quando olhamos para traz podemos ver os milagres e alegrias que criamos e encontramos muitas vezes sem lhes dar valor. Pense quantas coisas boas aproveitamos e quantos sofrimentos nos deram oportunidade de aprender! Quando ambos significam crescimento, só podemos agradecer e procurar contribuir para o crescimento dos que nos são caros.
Então podemos dizer que a vida tem como componente mais valioso a fé que nos dá o poder para vencer a escuridão do medo e na luz encontrar a magia dos sinais da felicidade em cada um de nós.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Casamento, Mito e Rito

Dia 20 de outubro deste ano de 2012. O casamento de minha neta!
Já assisti a tantos casamentos em minha vida e tive até o meu próprio sem nunca questionar tal fato! Finalmente decidi que é tempo de pensar mais profundamente na importância de um acontecimento que tem perdurado através do tempo e existe, ao que se saiba, em todas as culturas. Se eu puder encontrar as prováveis razões de sua existência e permanência até hoje, talvez seja possível compreender melhor a sua necessidade e importância na nossa vida.

Se, inicialmente, considerarmos o casamento a escolha e aceitação de um companheiro ou companheira para uma vida em comum, ele poderá ser visto como um compromisso de aceitação também das normas impostas pela sociedade e pela religião para concretizar essa união . É, pois, a sanção do estado e da igreja, a resposta esperada para uma necessidade que surge com o próprio aparecimento da vida. Neste sentido ele pode ser entendido como uma narração mítica ou sobrenatural dessa força primordial que une um casal através de ritos sociais e religiosos. Por tais características o casamento tem um caráter mágico ou mítico que empresta poderes e qualidades aos personagens do ritual e suas ações. Nas sociedades antigas o mito era a estrutura básica da organização que mantinha a ordem social. Talvez esse caráter mítico do casamento esteja ligado ao fato de a família ter sido sempre considerada a célula básica da sociedade.

O mito e o rito são, pois, altamente conservadores. O casamento como mito pode ser considerado uma representação da força natural a todo ser vivo dirigida à sobrevivência da espécie, cuja origem está na magia, no sobrenatural, pois não há explicação racional para o seu surgimento.
Uma vez que as técnicas racionais não explicam tal força natural que possibilita a continuidade da espécie através da reprodução, os ritos aparecem como técnicas de magia ou religião que visam o controle dessa força a fim de que ela seja mantida dentro dos modelos míticos estabelecidos. Assim, o mito é o coração do rito, sua estrutura significativa. Ambos são faces de uma mesma realidade. O casamento adquire significado primordial no mito, isto é, a manifestação de uma necessidade natural inata, não só humana, enquanto o rito é sua expressão social que pode variar de acordo com a época e a cultura.

Mas, enquanto ser vivo como tantos outros no universo o homem nasce com esse impulso para a sobrevivência, diferentemente dos outros seres nasce também com uma consciência que lhe dá a dimensão de si próprio, dos outros e do mundo. Por isso ele procura no casamento não só uma sanção espiritual e social para, com uma nova família, participar da comunidade como também espera dele o poder mágico de um sustentáculo sobrenatural ( caráter mítico do amor) para a vida futura do casal.
Alem disso a consciência dá, a cada um, a capacidade de manter a sua identidade no decorrer de toda a sua vida, de reconhecer-se como sempre o mesmo e diferente dos demais. Tais características compõem a personalidade de cada indivíduo.
Mas, ao mesmo tempo que a consciência marca a evolução do homem e o diferencia das outras espécies animais, ela inclui uma capacidade crítica que, na vida conjugal, permite ao casal redefinir valores, hábitos e principalmente repensar até que ponto uma restrição do direito de cada um à sua total liberdade pode afetar o equilíbrio das relações e a harmonia no casamento. A discussão e análise das diferenças individuais decorrentes da personalidade de cada um e das necessidades pessoais oriundas de hábitos e costumes anteriores tendo em vista o conjunto familiar como ponto de convergência da preocupação do casal, torna possível a conscientização crítica e a busca de soluções satisfatórias para os problemas que surgem.

Grande parte desses problemas, decorrências da própria evolução social com as mudanças nos valores, usos e costumes, influenciaram as maneiras de ver e tratar muitas das tradições da cultura que foram sendo modificadas. Com isso, muitos desses valores começaram a fugir ao controle dos poderes que antes os moldavam, principalmente aqueles míticos fortemente ligados ao poder religioso.

Assim começaram a fugir cada vez mais ao controle religioso o casamento e a natalidade, duas forças nas quais se baseia a estrutura da sociedade. Se o mito não pode desaparecer, ele pode ser modificado, renovado e reatualizado através dos rituais e da evolução das culturas. A modificação de um mito principalmente como o casamento, tão enraizado nas tradições sociais, leva fatalmente em seu processo a desordens e desorganizações na estrutura familiar com reflexos na organização social.

Por razões desta natureza, pouco a pouco o estado vem, cada vez mais,assumindo certos poderes com a finalidade de corrigir distorções na estrutura familiar causadas pelas próprias mudanças que o progresso vem imprimindo na sociedade. Por exemplo, hoje o estado facilita as condições para o divorcio, a segurança da família no caso de separação dos cônjuges assim como os direitos dos membros daquela família que se formou independente do casamento.
A religião também tem procurado se atualizar, mas em ritmo muito lento frente às exigências sociais. Por exemplo, Jean Yves Leloup, doutor em psicologia e sacerdote hesicasta, (uma linha do cristianismo voltada para a paz -"hésychia") defende essa linha que é mais discreta, menos dogmática, voltada para a meditação e a prática de uma oração que busca conectar o seu praticante com a Origem, através de uma intimidade com a Fonte à qual Cristo denomina Pai.

A separação entre estado e igreja - por vezes oposição - dificulta a harmonia no processo da evolução social. Ambos parecem ver o homem dividido em partes isoladas como corpo e alma, matéria e espírito e, ainda mais, consideram essas partes antagônicas. Isto parece ser, a meu ver, um dos grandes obstáculos para a harmonia dos homens entre si e com o estado.
O homem é uno em suas características e esse conjunto forma a sua personalidade que lhe permite reagir ao mundo como um todo. Ele faz parte de um mundo que também é uno e inclui, como um todo, os seres e a própria natureza. Então por que compartimentalizar o homem, seus pensamentos e as ciências que levam ao conhecimento de si próprio e do mundo?

Parece haver hoje uma clara e generalizada tendência no mundo contemporâneo a fim de resgatar o valor do mito e do rito em todas as grandes tradições do pensamento. Uma valiosa contribuição para isso pode estar em uma abordagem interdisciplinar que representa a necessária dialogicidade da ciência com a arte, a filosofia e a tradição espiritual. A transdisciplinaridade que impede a tradicional compartimentalização dos conhecimentos e das atividades humanas está sendo considerada por grandes estudiosos da pós-modernidade e tem produzido valiosos documentos através do Fórum da Ciência e da Cultura da Unesco. Esses estudos estão focalizados nos quatro pilares de uma educação transdisciplinar: educar para conhecer, para fazer, para conviver e para ser.
E sabemos, de sobejo, que qualquer interferência com vistas a mudanças na sociedade terá, necessariamente que começar pela educação das novas gerações, principalmente em seu contato com os valores culturais tradicionais.

Enfim, tal como desde o início, o casamento guarda seu valor mítico e se mantém como um rito festivo de união, de fortalecimento dos laços familiares, de reunião de parentes e amigos que, por vezes, não se encontravam há muito tempo. Neste ritual os noivos se comprometem perante seu Deus e seu país a constituírem uma família digna desse Deus e da sociedade. É um momento mítico em que todos unem suas preces e desejos a fim de que, como forças mágicas, as virtudes desejadas acompanhem o casal por toda a sua vida.

Uma nova esperança pode, então, ser colocada nos novos casais quando, melhor preparados para administrar as mudanças que ocorrem no mundo, fizerem de seus lares centros de harmonia e de seus filhos sementeiras de uma nova cultura global para o homem sem discriminação de raça, credo e religião.
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Entretanto, a discussão do tema proposto neste texto abordou apenas alguns aspectos gerais deixando de lado muitas questões particulares importantíssimas que não puderam ser tratadas aqui e agora. Citaremos como exemplo duas por serem cruciais : A primeira seria uma abordagem descritiva e analítica, sem ser crítica, do impulso humano, ao que tudo indica tão natural quanto os analisados anteriormente, de buscar, através do casamento, um companheiro ou companheira do mesmo sexo. E, dentro disso, qual seria o papel da paternidade sem o acasalamento. A segunda questão seria o estudo objetivo e analítico das relações da homosexualidade com o estado e as religiões.
Para tal abordagem pode constituir uma rica fonte de informações a mitologia ocidental e oriental, assim como a indígena. Seria uma análise que incluiria, como um todo, as contribuições de todos os campos de estudo do homem e seu mundo.

sábado, 22 de setembro de 2012

Querer é Poder?

Minha experiência de vida me mostrou que é muito importante entender claramente o significado de certos conceitos, pois eles têm o poder de determinar nosso comportamento presente e futuro. Por exemplo:

O "querer" envolve escolha, julgamento, decisão, um ato de vontade.
O "desejar" contém um componente emocional, a expectativa de uma satisfação, de uma experiência agradável, do gostar.
O "precisar" conduz à busca da resposta a uma necessidade, a uma carência, ao preenchimento de uma falta, de uma ausência.
O "dever" inclui uma obrigação imposta ou auto-imposta de fazer algo.

No decorrer de toda nossa vida queremos, desejamos e precisamos de coisas e pessoas, ou, ainda, pensamos ser nosso dever fazer algo. São conceitos que definem as forças motivadoras para vivermos.
Aprender a analisar esses conceitos nos permite compreender a natureza dos fatores que nos levam a decidir sobre as mais variadas formas de comportamento, pois eles podem determinar o caráter de um indivíduo, sua personalidade e, em última análise, seu futuro.

A primeira forma - o querer - constitui o resultado das duas seguintes, o desejar e o precisar. Eu desejo porque eu preciso, então eu quero. O querer envolve a consciência e a decisão para se fazer certa coisa embora nem sempre se goste, não se fique satisfeito ou ainda pode acontecer que se sofra com isso. Eu posso deixar de fazer um passeio porque minha mãe está doente e, embora não fique satisfeito com isso, é uma decisão que eu tomei. Às vezes pode até não haver necessidade, mas eu decidi e quero fazer tal coisa. Neste caso a necessidade é criada por alguma circunstância externa. Ela não é natural mas auto- imposta.
Um caso clássico de decisão por necessidade imposta é a do filho que escolhe uma profissão por influência do pai. É o exemplo do filho que estuda medicina porque o pai sempre quis ser médico. Também observamos a pressão, as vezes involuntária, da família (por exemplo de militares) para que os filhos sigam a mesma carreira.

Em todos esses casos citados a decisão foi tomada sem a consideração de dois fatores importantes para o futuro do jovem: a vocação e a aptidão exigidas para a harmonia do indivíduo e sua atividade futura. O jovem pode gostar (ter vocação) ou ser levado a gostar de uma profissão mas não ter a aptidão necessária ao seu bom desempenho. Ele será sempre medíocre e infeliz a não ser que encontre uma atividade na mesma área para a qual tenha aptidão (capacidade). É um exemplo deste caso o do indivíduo que gosta e entende tudo de futebol mas não tem a habilidade necessária para ser um bom jogador. Entretanto ele poderá se um ótimo juiz ou técnico. Mas nem todo bom jogador será um bom técnico, assim como um bom técnico nem sempre precisa ser ou ter sido um bom jogador.

Por razões dessa natureza é que nos cursos profissionalizantes existe um período de prática, estágio ou experimentação no final dos estudos, a fim de que os futuros profissionais se familiarizem com o seu trabalho. A meu ver isso é um grande erro. É com a demonstração, a experimentação e a participação que o aluno pode avaliar e julgar sua vocação e aptidão. Então, esse período não deverá ocorrer no final do curso mas sim no início, para o aluno ter condições de julgar e redefinir sua opção de estudo e profissão. A frequencia das mudanças que ocorrem nas primeiras etapas desses cursos profissionalizantes demonstram cabalmente a procedência desta afirmação.

Saber discernir as coisas, entender quando se deve fazer algo, seja atuando, recebendo ou simplesmente deixando acontecer (observando), é importante para se poder controlar os resultados ou consequências de uma ação. Para que se possa tomar sempre a melhor decisão é necessário o conhecimento e a análise do maior número possível dos fatores envolvidos na situação.

Estamos continuamente fazendo julgamentos e escolhas em nosso dia a dia. Entretanto, uma decisão é um ato muito complexo ligado a uma multiplicidade de fatores mentais que decorrem de experiências passadas, de situações do momento e de previsões futuras. Daí o valor da experiência na tomada de decisões, o que explica a importância da idade dos membros de "Conselhos " principalmente em épocas anteriores. No entanto, com a modernidade, as mudanças aceleradas e o acesso cada vez mais fácil e rápido às informações, o peso da palavra dos idosos parece não só diminuir como se tornar inócuo ou ridículo perante a importância de certas decisões. Assim, vemos que, enquanto a criança não tem suficiente experiência de vida para tomar decisões satisfatórias nas situações que se apresentam, as decisões que os idosos propõem não são consideradas satisfatórias por ultrapassadas.

Este é um exemplo de conclusão falsa pela desconsideração de um fator, o sensato julgamento da capacidade intelectual do idoso. Se ele for mentalmente são e tiver o domínio dos mesmos recursos tecnológicos tão familiares aos jovens, imagine a força de sua capacidade de opinar considerando-se sua experiência acrescida das informações disponíveis! Não é pois, para se jogar fora como inúteis as opiniões e os julgamentos dos nossos pais e avós, pois a natureza das diferentes situações e problemas da vida, se retirarmos as variações circunstanciais da época e do momento, é basicamente a mesma, quase cíclica.

É possível, portanto, os pais se apoiarem em certos parâmetros para tomarem decisões a respeito de suas atitudes em relação aos problemas com seus filhos pela análise cuidadosa dos fatores ( forças motivadoras) envolvidos nas situações. Tais parâmetros podem incluir ajuda especializada, pesquisas de casos, conselho de família, ou apenas apoio moral através de diálogo. Uma das medidas mais importantes seria ajudar o filho a aprender a tomar suas próprias decisões pela análise da situação. Isto seria o "não dar o peixe mas ensinar a pescar", algo que ficará com ele pelo resto de sua vida.

Quando o jovem aprender a analisar dessa maneira todas as situações que envolvem problemas de difícil decisão, ele estará mais apto para enfrentar os desafios da vida. Sua personalidade e caráter "amadurecem" mais rapidamente, crescendo em sua capacidade de decisão com maior probabilidade de ser um vencedor nas competições do dia a dia. Ele aprenderá a querer e desejar o que lhe trará benefícios não somente materiais, mas também morais e éticos, capazes de torná-lo respeitado não no pódio do sucesso discutível mas da confiança . Aprenderá a desejar o que possa alcançar com sua própria capacidade e a respeitar os direitos dos outros ( sem usá-los como escada). Aprenderá a fazer respeitar os seus direitos para isso impondo-se objetivos e deveres. Enfim, aprenderá a julgar e decidir com responsabilidade.

Apesar de parecer difícil, tais normas constituem uma filosofia de vida muito satisfatória por trazerem alegria, paz, respeito e amor da e pela família, pelos amigos , por si próprio e pela vida em geral.

domingo, 26 de agosto de 2012

Porque Te Amo!

O homem nasce uma "tabula rasa" ? Hoje sabemos que não. Ele nasce bem" suprido", como uma sementeira onde um conjunto de forminhas embrionárias determinarão seus traços físicos e comportamentais. O DNA de seus ancestrais se encarregará de compor o novo ser com aspectos e comportamentos futuros que serão revelados progressivamente ao longo do seu desenvolvimento.
Esse conjunto de traços vem com duas orientações básicas: a de formar um ser que será único e distinto de todos quantos existirem além dele e a de que o seu desenvolvimento não será fatal nem homogêneo no decorrer da vida mas sofrerá mudanças e variações sob a influência dos fatores ambientais onde irá viver.
Estou fazendo estas afirmações gerais, provavelmente de conhecimento de todos, porque são importantes para clareza de meu ponto de vista a respeito do amor na vida humana.

A meu ver o amor é a característica fundamental do comportamento do homem. Sua origem antecede a dos traços ancestrais, é encontrada na origem da própria espécie e vai além, talvez esteja na própria essência do ser vivo pois, de uma forma primitiva, reações de amor parecem existir também na vida animal. Vejam por exemplo o "amor- proteção"das fêmeas por seus filhotes, o "amor-adoração" do cão por seu dono.

De um modo geral, o amor se expressa como uma dádiva e um ato de proteção. O sentido do amor está intimamente ligado ao da morte. O amor dá a vida e para defende- la da extinção dá a morte. A questão do amor- morte permeia , direta ou indiretamente toda vida do homem a tal ponto que em certos casos extremos o ato de amor pode se confundir com o de morte."Eu mato porque te amo!" Faz sentido para você? Pensada friamente, não. Mas para quem assim age em situações extremas faz e muito! Exemplos disso são os crimes passionais e a eutanásia.

Mas para que minhas idéias fiquem claras para todos - até para mim, pois o amor é bem complicado - vou tratar dele como o vejo e experimento, pois esta questão me veio à mente quando comecei a pensar: Puxa! Como pode caber em mim tanto amor quando minha família está tão grande! Afora os amores antigos por avós, pais, marido, alguns tios, primos e amigos, todos já falecidos (e o amor continua presente na lembrança), ainda há os amores vivos e participantes pelos filhos e suas novas famílias, netos, bisnetos e daí por diante... Cruzes! E todos cabem no meu coração! Alegro- me com eles, sofro por e com eles! Então penso que amor e dor também convivem como partes de um todo, unidos pelo medo do sofrimento pela perda - morte do amor ou da vida- do ser amado. " Quem ama sofre" diz sabiamente um ditado popular. Nem sempre eles são simultâneos, mas até podem ser. A saudade, por exemplo, é um amor pungente que traz em si própria um sofrimento que até parece físico, um aperto no coração. Ora, já ouvi dizer que a sede do amor é o fígado mas eu - e acho que todas as pessoas que a sentiram - não acredito, pois a sinto no coração.
O amor, então, pode trazer alegria, satisfação e ao menor sinal de perigo, inquietação e sofrimento. Ele é sempre uma dádiva, uma doação de alma que pode ou não se traduzir em ação. Eu acho que deve sempre levar a uma ação pois um ato de amor que fica na intenção e deixa passar a oportunidade da ação guarda para sempre um laivo amargo de remorso e arrependimento.
Às vezes o amor é manifestado por uma ação que na verdade não o traduz claramente pois foi impulsionada pela dor e pelo sofrimento e daí.... não se pode mais "deletar" o ato. Por exemplo é comum a gente, por excesso de preocupação além do razoável, dizer o que na verdade não queria... e o mal está feito! Resta explicar o mais honestamente possível as razões que determinaram o ato. Mas então entra o orgulho e o amor-próprio que impedem voltar atrás.Vejam como não é fácil "dar a volta por cima" nos casos de amor! O dar e receber amor exige em primeiro lugar a confiança, isto é, a certeza de que " chova ou faça sol" ele existe e de que, no fundo, ele é o esteio que garante a continuidade e impede a extinção, a morte do amor.
O exemplo mais sublime do amor/dádiva é o de Cristo na crucificação. Dar a vida pelo homem sem perguntar se a quer, sem esperar compreensão ou aceitação? Isto é no mínimo um ato de tremenda coragem e confiança! É Amor!
Quando uma mãe deixa de comer, rouba ou até se prostitui para dar alimento a seus filhos ela faz uma doação, uma escolha, embora envolva sofrimento. E onde está o amor da mãe que deixa seus filhos subnutridos até a morte para freqüentar o bar da esquina? Vemos constantemente notícias de casos de abandono de crianças, de assassinatos de recém- nascidos. Será que o foram por amor? Precisaríamos conhecer as causas destrutivas do amor materno no ambiente de vida dessas mães e averiguar quais fatores foram suficientemente fortes para bloquear o amor materno transformando o valor da vida do filho em valor do descanso da morte! Talvez essas mães tenham pensado que morrendo o filho estaria a salvo do sofrimento da vida que ela conhecia tão bem.
Um processo mental semelhante poderia ocorrer, por exemplo, no descaso pela vida e bloqueio do amor na mente de criminosos, especialmente no sistema carcerário. Mas em uma coisa eu acredito: Se "descascarmos essas cebolas podres", bem lá no fundo estará o amor obstruído pelo medo do mundo e do homem, sem poder fugir mais. Se fosse possível recomeçar de novo o amor poderia ressurgir. Infelizmente em raros casos isto acontece e um novo ser emerge.

Então é impossível ao homem viver somente pelo amor - e seu correlato, a paz? "Paz e Amor" como queriam os " hippies"- hoje praticamente substituídos por outros movimentos menos pacíficos - seria o Paraíso na Terra? Não sei, o que sei com certeza é que o homem não é tão inteligente quando se trata de viver. Tenta chegar às estrelas com sua inteligência e ao mesmo tempo, muitas vezes, pode "cair no fundo do poço" levando seu bom senso e sentido de vida pessoal.
Olhando a vida da humanidade parece ter havido sempre um descompasso entre a Paz /Amor e a Violência/Morte. Seria possível conciliar ambos ? Talvez se o homem buscasse a Harmonia! Nela se encontraria o equilíbrio da vida humana: o bem e o mal, o amor e a morte, o dar e o receber. Várias civilizações do mundo em diferentes épocas têm buscado esse equilíbrio e a harmonia dele decorrente através de filosofias de vida, disciplinas sociais e preceitos religiosos. Mas até o momento, com exceção de alguns grupos sociais, as nações não se esqueceram das disputas, das guerras, da destruição do homem e de seu mundo. Isso quase sempre em nome da Paz, do Amor, da Religião e da Justiça, o que mostra a deformação imposta pelo homem no sentido primitivo de amor e morte na vida humana. O amor fazia a vida, a morte a defendia dos predadores. Entretanto, com a evolução e o progresso, o ato do amor foi se sofisticando e os predadores desapareceram mas o homem parece não perceber que o único predador do homem que restou é ele próprio.
Mas a literatura que defende certas teorias filosóficas assim como práticas de vida, a exemplo do "tai-chi-chuan" e linhas correlatas, mostram a satisfação e o vigor da vida alcançada por seus seguidores em busca da harmonia com o mundo. Estas filosofias não pregam uma paz estagnada mas também a defesa dessa paz através de movimentos corporais que seguem os movimentos da natureza e do universo. Segundo as práticas corporais chinesas as artes marciais fazem parte da harmonia do homem consigo próprio e com o universo pelo equilíbrio do corpo em movimento. Com o movimento do corpo o homem dá origem à vida, a um novo ser; com o movimento do corpo o homem a defende e dá a morte.

É, então, da maior importância para a vida do homem ( não apenas a sua existência ) buscar essa harmonia e acho que ela está viva e embrionária no amor. Vejamos se é possível descobri-la e resgata-la pela observação do amor no decorrer do desenvolvimento do ser humano desde o seu nascimento.

O desejo de lutar pela vida do filho começa antes mesmo do seu nascimento. A gestação coloca a mãe num estado de alerta emotivo todo especial. O mundo se torna diferente e ela começa a sentir que seu corpo não é mais só seu mas o responsável por uma nova vida que começa. Vive esse período com a preocupação de saber como será e viverá seu filho. Hoje a tecnologia já permite levantar a ponta do véu desse antigo mistério. A mãe perde um pouco de sua ansiedade quando,a partir do quarto ou quinto mês de gestação ,ficar conhecendo as condições da saúde e o sexo do filho. Atualmente, ao nascer a criança encontra tudo facilitado para ela, até seu próprio nascimento pois são raros os casos de parto natural. A mãe quer tudo de melhor para seu filho e defende sua vida com o amor/ proteção.

Pensem um pouco o que era ter filhos antigamente . No meu tempo a criança nascia em uma cama, no quarto, às mãos da parteira (melhores do que muitos obstetras que marcam cesariana às sextas feiras para não perderem o descanso do fim de semana ou em dias que não atrapalhem suas viagens! ). E o bebê? Não tem seu dia certo e natural para nascer? A natureza tem seu relógio, o homem o altera. O parto forçado apareceu para beneficiar o bebê em caso de complicação e não para "descomplicar" a vida do médico. Está muito claro para mim que no parto natural a mãe não só "sabe" mas "sente" o seu bebê nascer. Ela e o filho " trabalham" juntos o nascimento e seu amor o acompanha.

Do nascimento até quatro ou cinco meses a criança dá trabalho pra valer. Quase não há tempo para os pais externarem a alegria com sua presença. Hoje o pai colabora muito mais do que antigamente nos cuidados com o bebê e assim mesmo haja saúde e amor/paciência! A criança chora e ninguém sabe o porque; dorme e acorda às horas mais inusitadas e não para de fazer xixi e cocô....e tudo recomeça noite e dia, dia e noite. Parece não acabar nunca... mas a mãe mesmo " acabada" sempre tem um sorriso lindo quando diz feliz: "Meu filho está ótimo, já engordou e cresceu bastante!" É o "padecer no paraíso" como diziam os antigos sobre o amor materno.
Finalmente a criança encontra sua rotina e percebe que há uma noite para dormir e um dia para ficar mais acordada do que dormindo. Arre! Agora a mãe pode brincar, amar e exibir seu "trofeuzinho "para os parentes e amigos.

Esse amor/proteção dos pais acompanha a vida do filho durante toda a infância quando ele vai aprendendo, aos poucos, hábitos, normas e os primeiros valores da vida na família. Na infância ele ainda recebe e aprende o que os pais ensinarem, principalmente pelo exemplo. No final da infância o papel do pai - até então um amigo brincalhão - adquire importância com a participação em atividades que alargam o campo das experiências sociais da criança. Cabe a ele impor e explicar algumas regras da vida- não mais só as da casa. Seu amor tem uma expressão nova, a da disciplina, da força de vontade, da coragem, da aceitação dos desafios da primeira comunidade da qual a criança irá fazer parte- a escola. Ele é o " durão" mas também o companheiro, o que ensina e cobra deveres, elogia, incentiva e castiga quando necessário. Ao filho ou filha sem um dos pais falta uma parte vital em seu desenvolvimento. Acredite, a vida conjugal da mãe com o pai, segundo a minha experiência, representa o conjunto das partes da vida dos filhos a serem desenvolvidas.

O início da puberdade e da adolescência marca uma fase totalmente nova para o ser humano em desenvolvimento. Ele começa a sentir em si novas forças, energias e a fazer indagações que irão desenvolver seu espírito crítico e o questionamento do que é sua vida e de quem ele é. Sente- se capaz de fazer tudo sozinho e quer provar sua independência dos pais e da família. Há uma desconfiança e afastamento dos valores recebidos e uma busca por novos valores. É preciso muito amor dos pais para uma convivência pacifica com os filhos nessa idade e para compreende- los. Obviamente a cobrança aumenta assim como as reclamações e as punições e o filho ou filha começa a se ver como um intruso na família. Então procura os amigos, " irmãos de infortúnio". Eles representam a compreensão, a aceitação, os elogios, as alegrias e tentações fáceis, a seu alcance porque " estão no mesmo barco" . Felizmente há os bons amigos que são menos acessíveis, mais reservados, menos atraentes e que precisam ser reconhecidos como tal pelo adolescente. Somente a capacidade de ponderar e julgar, aprendida com os pais é que irá possibilitar esse reconhecimento.
Os bons amigos o amam pelo que ele é; os outros amigos - inimigos ocultos- só o amam como espelho do amor egocêntrico que sentem por si próprios.
Mas então, como reconhecer o bom e o mau amigo? Primeiro é preciso que o adolescente aprenda a distinguir o Bem do Mal, o que não parece fácil, principalmente nessa fase tumultuada. Cabe aos pais mostrar de maneira simples e prática que será o Bem tudo que não cause sofrimento atual ou futuro para outra pessoa. Um bem pode não ser agradável no momento ( como o castigo, por exemplo) mas certamente trará satisfação no futuro. O mal sempre trará sofrimento no futuro embora possa parecer agradável no momento ( as drogas, por exemplo). Se o adolescente conseguir raciocinar poderá ver facilmente o logro. Aliás, na maioria das vezes o adolescente tem consciência do mal presente em seu comportamento mas fecha os olhos para as conseqüências.
No meu entender, por trás dos males do mundo está sempre o inimigo do amor - o medo. O medo do mundo, dos pais, da sociedade e de não poder mais confiar em suas próprias forças leva o adolescente a " fugir da luta" e aceitar a satisfação fácil, já conhecida. O medo pode impedir que o filho ou filha procure a ajuda dos pais e/ou da sociedade e pode conduzir ao crime contra si próprio ( enfrentamento da morte) ou contra outros (sofrimento ou morte). Ele ou ela encobre o medo com falsas justificativas: " Eu não preciso confessar nada"," Eu assumo meus riscos" , " Sou homem (ou mulher) suficiente para fazer isso". Por isso, a confiança- que é uma prova do amor- deve ser demonstrada pelos pais sob a forma de apoio moral e material no momento em que o filho ou filha puderem recebe- lo.

Uma família desestruturada é um conjunto de abismos onde o amor não encontra caminho para se expressar o que obriga o filho a procurar o amor/ apoio com outras pessoas. Mas ainda que encontre bons amigos, o adolescente não fica inteiramente satisfeito. Ele sente a necessidade crescente de um amor diferente que o complete. É um impulso que leva a jovem ou o jovem a buscar seu companheiro ou companheira.

Finalmente o filho ou filha "cresceu" e arranjou uma namorada (o)! Parece ter saído da fase mais crítica da "aborrescência". E os pais com alívio acham que agora vai " assentar a cabeça". Já não demonstra tanto interesse pelos amigos do "oba! oba!" e começa a ver outras atividades com bons olhos: cinema, teatro, festas familiares e outros lugares onde possa levar a companheira ou o namorado. Nesse momento a preocupação com o futuro do filho é maior do que com a filha. Será ela, a namorada, sua futura esposa? Terá ele uma futura esposa quando, nos dias de hoje, a "paquera" e o "ficar" podem levar ao mesmo lugar que a esposa? E o amor dos pais se desdobra novamente em preocupações mas já menos sofredoras, com mais alegria e expectativas. Seu amor será menos protetor e ficará mais à distância ( não distante) a fim de deixar espaço e liberdade para planejamento da vida futura dos dois.
Nesta época maravilhosa do amor/paixão, o mundo todo é belo e é deles. É hora de definir seu caminho e planejar seu futuro e a família estará a seu lado para apoia-lo. Para o novo casal o amor está na sua forma mais completa, pois envolve o ser humano como um todo e seu ambiente de vida: corpo, sentimento e participação na sociedade. É preciso re conhecer este valor e não malbarata- lo. Entretanto, esse amor completo pode ser banalizado, vilipendiado e até desvirtuado por hábitos sociais de jovens que dele retiram a mera satisfação física (é a "química do amor", dizem eles) . O amor que vem somente do desejo conduz ao ato sexual que mutila o amor, o que talvez explique por que muitas vezes não é amada a vida que ele gerou. O amor na juventude é uma doação de corpo e alma. O parceiro é parte da sua alma, a "outra metade da laranja", " da maçã" ou seja lá de que fruta for!

É preciso, então, encontrar algumas regras de vida para que o casamento não "vá para o espaço". Sentar e conversar para acertar as coisas. Lembrar que cada pessoa é uma individualidade e ninguém é, nem irá ficar, cópia do outro- só porque o outro quer. Então, a individualidade de cada um deverá ser respeitada assim como a sua privacidade de pensamento e opções sabendo que tudo que for feito o será com amor/confiança ,pensando no bem comum dos dois. Em segundo lugar deverá haver, sim, lugar para mudança de comportamento. O homem precisa e deve mudar sempre que for para melhorar a sua vida familiar. Assim, com sorte e boa vontade a vida do casal vai se estruturando e seu amor se torna mais forte e amplo, pois alem da paixão começa a incluir a cumplicidade nas ações dos dois. Mas esse amor tamanho família, não significa que a vida será " um mar de rosas". Sempre haverá dificuldades, ameaças ao amor e alguns desentendimentos.

Com os filhos pouco a pouco saindo da casa dos pais, a vida destes entra em uma nova fase, a do amor/ ternura, caracterizada pelo companheirismo, busca de novas atividades e valores, de uma nova filosofia de vida. O casal ( ou um deles, se o outro já não estiver mais junto) terá mais tempo para si próprio. O seu amor se amplia cada vez mais abraçando os novos membros de sua família e se alegrando com as novas vidinhas que vão chegando.

Não há limite para esse amor. Ele não tem mais a intensidade do amor/paixão, mas abrange tudo e todos, os porteiros do prédio, as pessoas que passam e desejam um bom dia, as árvores da praça, as ondas do mar e até seu cão que o recebe em casa abanando a cauda. É uma época de plenitude mas não de apatia. De busca de atividades com qualidade de vida, de fazer o bem sempre que possível, de buscar a harmonia consigo próprio, com a natureza e com o mundo. É saber que nunca estará sozinho pois faz parte de uma família cada vez maior que sempre lhe dará o amor.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Portas Para o Mundo

O mundo terá portas? Então o homem ainda não as achou e, muito menos, encontrou chaves que as abrissem. É de conhecimento geral a afirmação de que se o homem não tivesse uma linguagem falada e escrita estaria no estágio dos animais irracionais. Será mesmo? Será a linguagem a única chave para o homem interagir com seus semelhantes no mundo? Daí a grande interrogação: o homem fala porque pensa ou pensa porque fala ? A dificuldade crescente que o idoso manifesta para se comunicar, seria decorrente de falhas em seu pensamento ou perda de vocabulário? Tanta gente fala, fala, e não diz nada e quantos, com  uma simples frase "mandam claramente o seu recado" ! Vamos pensar um pouco (falar consigo próprio) sobre a linguagem humana e tentar não partir de premissas falsas para não chegar a conclusões erradas.

Certa vez, em minha carreira profissional, realizei um estudo com o objetivo de identificar e analisar alguns aspectos da aprendizagem da leitura e da escrita por crianças recém-alfabetizadas. Em outras palavras, eu queria saber em que medida o aluno demonstra, com a aprendizagem da linguagem falada e escrita, estar encontrando um instrumento eficaz para interagir com as outras pessoas em seu ambiente de vida.
Nesse trabalho, procurei focalizar os exercícios de redação de alunos da 1a. série do ensino fundamental realizados do início ao final do ano letivo. 
Obtive várias informações interessantes e, dentre elas, alguns resultados se destacaram pela importância que me pareceram ter diante da questão proposta sobre o papel da internet no dia a dia do homem em todas as idades.


Oque pude observar, a partir dos resultados em destaque, ficará mais claro pela análise de dois exemplos de exercícios escolares nos quais os alunos deveriam formar sentenças (frases) com palavras dadas. 

Em um dos exercícios examinados, realizados no início do ano letivo, a criança deveria formar uma sentença utilizando a palavra " boneca". A aluna escreveu: "Ganhei uma boneca loura com cabelos louros". A professora riscou em vermelho "...com cabelos louros." e explicou à criança que a frase estava errada porque "uma boneca loura" já significava que tinha cabelos louros. Não deveria repetir, era uma redundância dizer a mesma coisa duas vezes.
No caderno de um aluno de outra classe, também realizado no início do ano, o exercício era escrever uma sentença com a palavra "galinha" . E o aluno escreveu : "Minha mãe pôs para chocar uma galinha choca ". Do mesmo modo a professora considerou errada a frase, pois não se poderia colocar para chocar uma galinha que não estivesse choca!

Ora, em ambos os casos as professoras é que estavam erradas em sua avaliação dos dois alunos.
No primeiro exemplo porque não levou em consideração o fato de que nem todas as pessoas de pele clara (louras) têm cabelos louros, assim como muitas morenas se apresentam louríssimas (os cosméticos que o digam!). E, naturalmente, para a criança as bonecas representam pessoas como as que conhece.
De maneira semelhante, a professora errou no segundo exemplo por não saber que nem toda galinha choca é deixada para chocar. Ao entrar em choco, a galinha pára de pôr ovos durante um certo período de tempo. Entretanto, se não encontrar ovos nem puder fazer ninho, em pouco tempo ela sairá do choco e voltará a pôr ovos. Nas zonas rurais, é o que as pessoas as vezes faziam: prendiam a galinha no galinheiro. Sem ter ninho nem ovos para deitar sobre eles e chocar, em dois ou três dias a galinha choca saía do choco e a sua postura não ficará interrompida.

Então, o que faltou, a essas professoras, aprender para que o seu ensino da linguagem pudesse desenvolver no aluno a capacidade de se comunicar de modo claro pela escrita, mas sem perder a capacidade de nela expressar a sua maneira de ver e sentir o que desejava comunicar?

Ficou patente que, antes de ensinar a criança a falar e escrever com a "sua" 
linguagem (da professora), cada professora deveria procurar conhecer as razões que levavam seus alunos a perderem a sua linguagem própria. Deveriam  procurar, no ambiente do aluno, os fatores (forças), responsáveis pela formação e pelo significado das expressões peculiares que a criança, na escola, aprende a desprezar na sua escrita.
Essa constatação justifica, por exemplo, o fato de que, para o aluno de zona rural, não tem sentido resolver um problema sobre a deterioração de alimentos em "conteiners" por greve dos funcionários da "Libra Terminais" assim como para o aluno da Baixada Santista não interessa o problema dos efeitos desastrosos para os trabalhadores da cidade, causados pela paralisação do Metrô.

Pude observar, não só a distância entre a linguagem expressiva que a criança traz para a escola e a linguagem do professor, como as mudanças na linguagem da criança, sob a influência do professor no decorrer do ano letivo. Este  resultado importante do estudo foi obtido pela comparação da evolução dos primeiros aos últimos exercícios, dos mesmos alunos, realizados no ano letivo. Verificamos que, muito freqüentemente, no final do ano o trabalho escolar do aluno refletia as características da linguagem do professor. No decorrer do ano letivo o aluno aprendia a "copiar" a linguagem do professor provavelmente com a perda correspondente da sua espontaneidade e autenticidade de expressão.

Posso entender, então, que, enquanto com o ensino da linguagem escrita e falada, o professor abre para seu aluno uma porta para o mundo, ele pode estar, também, reduzindo ou desvirtuando sua capacidade criativa e sua espontaneidade. Você já não teve a sensação de que, quanto mais se tenta escrever corretamente, mais vazio e insosso parece ficar o pensamento que pretendemos transmitir através das palavras? Nossa mensagem fica fria e impessoal. Transmite o que criamos intelectualmente, o que é tudo o que sentimos emocionalmente. O processo da transmissão esvazia e muda o sentimento que quisemos comunicar. A linguagem de comunicação, é uma porta para o mundo intelectual, das idéias, da ciência, da tecnologia, não acessível a todos os indivíduos, nem a mais adequada a todas as situações.

Sozinha, a linguagem de comunicação é insuficiente, ... e o homem dela se defende!
Ao lado da linguagem falada e escrita, destinada a ser instrumento de comunicação, se desenvolve um outro tipo de linguagem, a de expressão. Enquanto a primeira é ensinada e aprendida, portanto se forma de "fora para dentro", esta, a de expressão, não é formada- ela nasce com o homem e se desenvolve segundo forças internas do indivíduo e compartilhamento da sociedade; portanto,"de dentro para fora".
Há uma imensidade de sinais sonoros, gráficos , visuais e táteis ligados aos nossos órgãos dos sentidos, que compõem uma linguagem universal entendida por todos. Esta linguagem, a expressiva, constitui uma porta para o mundo do pensamento, da emoção, do sentimento, enfim, toda a "manifestação"do que cada um tem de particular e que não cabe, inteira, na comunicação. É um meio de "pôr pra fora " algo que não suportamos guardar e que está além de uma comunicação fria e impessoal.
Inicialmente, o ser humano expressa suas necessidades pelo grito e choro, sua alegria pelo riso, seu interesse pelos movimentos. Mais tarde, estas reações vão ficando cada vez mais sofisticadas . Uma criança pode chorar quando tem dor, mais tarde chorar de saudade, de tristeza, ou de alegria por ter merecido uma medalha nas Olimpíadas ou, ainda, de emoção pela homenagem recebida dos filhos em seu aniversário. E ninguém deixará de entender o sentido de cada "choro". De outro lado, a expressão de uma emoção muito forte pode ir além das palavras e se traduzir por uma reação espontânea de movimento . A raiva pode levar à agressão física a outra pessoa ou mesmo a uma parede, com risco de quebrar a mão! 
As manifestações artísticas constituem a linguagem de expressão em sua forma mais sofisticada. São eternas e universais e têm merecido um lugar especial na escala das comunicações expressivas do homem.

Ainda que a linguagem expressiva não precise ser aprendida, para ser transmitida ela assume uma forma especial de comunicação; quando a sua manifestação exige  um instrumento, uma técnica. Por exemplo, técnicas de pintura, de escultura, de música etc. Ela é prazerosa e tem um efeito catártico no indivíduo mas, frequentemente é uma comunicação através dos sentidos. A linguagem de expressão não tem fronteiras. Pode ser reconhecida e interpretada por todos, e essa interpretação é particular, de cada um. Uma bailarina pode criar os movimentos de sua dança, assim como numa tela de pintura impressionista cada indivíduo vê o que sua própria emoção traduz em formas e cores. Mas, porque foge ao domínio das ciências, sozinha, ainda não é suficiente para uma interação satisfatória e completa do homem com o homem no mundo.

Ao contrário da linguagem de expressão, a de comunicação ( que, como vimos, precisa ser aprendida ), é codificada . O prazer que desperta é primeiramente intelectual. Ela não é universal, difere segundo os diferentes países. Já podemos concordar que há uma violência ao nosso pensamento quando tentamos colocá-lo nos moldes linguísticos, isto é, nas palavras, parágrafos, acentos, enfim, todas as exigências vernáculas destinadas a deixa-la  clara para o outro.
Se é um processo difícil o da aprendizagem da língua materna, imagine, então, a aprendizagem de uma língua estrangeira! E com o progresso da ciência e da tecnologia, que aproximam o mundo do homem, cresce, também, a necessidade de se conhecer outras línguas.

O fato de que a língua de comunicação constitui um código que precisa ser constantemente decodificado explica por que cada povo tem a sua língua própria, diferente das demais. Curioso, segundo o Dicionário Enciclopédico Brasileiro Ilustrado - 6a.ed.,1957 - naquela época já havia 50 alfabetos em uso, portanto, 50 "nomes" para a mesma coisa. Ainda quando dois países tenham a mesma língua - Portugal/Brasil, Inglaterra/ Estados Unidos, Espanha/Argentina, por exemplo-, este fato ocorreu  pelo efeito da colonização de um pelo outro. Mas, logo, as diferenças linguísticas começam a aparecer na fala e na escrita de tal modo que ambas não mais se confundem. 
Uma diferenciação desse tipo, embora menos profunda, ocorre na linguagem de algumas regiões do mesmo país. Cada região pode desenvolver expressões próprias, assim como um "ritmo" ou "melodia" que a identifica. São expressões idiomáticas que diferenciam a linguagem do homem do campo do habitante da cidade, a do nordestino do sulista, e assim por diante. Os “sotaques” são bons exemplos disso.
Ainda um outro tipo de diferenciação ocorre frequentemente na linguagem de comunicação pela influência de interesses e hábitos em grupos de indivíduos unidos por profissões  e interesses sociais muitas vezes decorrentes da faixa etária. É o caso dos modismos (palavras e expressões que são criadas e depois desaparecem da linguagem). Por exemplo a gíria dos adolescentes: "ficar", "mandar ver", "legal" , "jóia ", a linguagem usada por pessoas do mesmo ambiente de vida, trabalho ou profissão. São exemplos os termos usados entre os adeptos do futebol, a linguagem dos mecânicos, dos médicos, dentre outros.

Portanto, nenhuma dessas formas de linguagem, isoladas ou coexistentes, tem se mostrado um instrumento eficaz , uma chave para abrir as portas do mundo e permitir a todos os homens lá entrarem para uma integração harmônica com a natureza e os outros homens. 

Será, então, impossível a criação de uma linguagem universal? 
O famoso"Esperanto", língua auxiliar da comunicação universal ( elaborada pelo médico judeu Ludwig L. Zamenhof e divulgada em 1887 ), aparentemente não saiu da intenção.

Mas eu, assim como muitas outras pessoas, não posso acreditar nisso. O tempo de vida do homem na Terra foi relativamente curto frente ao que ele já conquistou. Se precisa de uma chave para as portas do mundo, mais cedo ou mais tarde ele a irá criar.

Será que já não a criou?
Será que as portas do mundo já estão abertas, apenas nós não as vemos?
A chave que as abriu não estará na nossa frente e não estamos fazendo uso dela?
Penso... não...!, já é uma realidade que a tecnologia abriu para o homem as portas do mundo. E acredito que também forneceu o instrumento, a chave para lá chegarmos.

Mas como foi criado tal instrumento?

Ele foi criado por várias pessoas, em várias partes do mundo e em diferentes campos do conhecimento. Seu objetivo não é ser algo à parte, mas parte do todo humano, independente de raça, credo ou sistema social.

Mas como ele é?
Enquanto linguagem, sua função é permitir a interação do ser humano com o mundo "sem sair do lugar" . 
Vários conhecimentos e idéias, descobertos, elaborados e testados de diferentes maneiras para vários fins, como "pedaços" de uma linguagem, se atraíram, puxados pelo imã do reconhecimento de uma identidade mútua em torno de interesses comuns. Se encontraram, distribuíram e aglutinaram, assumindo, finalmente (mas não com um fim), uma forma de linguagem. Esta linguagem, ou língua universal, por ser extremamente técnica (não humana), não sofre as limitações humanas do homem,  mas respeita, igualmente, suas características particulares, pessoais, assim como as grupais e sociais. Haja vista a importância dos movimentos universais de ajuda humanitária, tais como o dos “Médicos sem Fronteiras" .

Gente! Isto é a Informática! 
Nada entendo de seus componentes, seus códigos, mas posso utilizá-la. Não sou bloqueada pelas distâncias nem por outras línguas, pois uma tradução ou instruções vem para mim "quentinha" me permitindo obter o conhecimento que desejo ou o material de que necessito. Preciso somente ter “uma tela ou um cartão tamanho família” ( para eu poder enxergar bem ) chamado, respectivamente computador ou Ipad, ou ainda um “cartãozinho” chamado celular e vontade de aprender a "ler" sua linguagem intuitiva para que ... as portas do mundo se abram para mim com suas estradas, caminhos e atalhos iluminados, dirigidos para conhecimentos, lazer, diálogos, compras, eventos e notícias do mundo todo, enfim, traz para mim o Mundo Atual que se prepara para o Futuro. E,mais importante, eu não sou mais uma simples observadora. Eu posso "entrar nele" e participar; quem sabe, até, colocar nele uma sementinha de mudança para o Amanhã!

Este campo da Informática - a INTERNET - tal como uma linguagem universal que tem a chave para as portas do mundo, tem o mundo por pátria. É feita e constantemente renovada por pessoas especiais de todos os lugares, unidos por um objetivo comum : o de encurtar distâncias, de aproximar os homens uns dos outros para somar ideias e experiências.
Na medida em que permite a expressão sem limites, ela é reconhecida pela criança, que dela se apodera e utiliza sem dificuldade.

Entretanto, o mesmo poder que confere e que atrai, principalmente crianças e jovens, guarda um grande perigo: o de não incluir em seu mecanismo inumano - alheio ao sentimento de humanidade - os valores, tanto individuais quanto sociais, éticos e morais. Sendo inexoravelmente humanos, estes sempre dependerão dos homens.
Mas, será esta a grande falha técnica da informática?
Talvez seja, antes, uma falha humana, uma vez que os próprios homens não se entendem quanto ao significado desses valores!




 
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