sábado, 25 de julho de 2020

NOVAS FORMAS DE VIVER PARA A LONGEVIDADE

Segundo pesquisas de vários estudiosos, a exemplo da psicóloga Ellen Langer, da Harvard, que esteve há pouco tempo no Brasil, as conexões sociais são o mais importante fator para a saúde e a longevidade do homem atual.
Junto a um grupo de estudiosos, sua pesquisa foi realizada nas “Blue Zones”, os paraísos da longevidade no Planeta, que incluiram comunidades nas seguintes localidades: Ilhas da Sardenha na Itália, arquipélago de Okinawa no Japão, ilha de Icária na Grécia, a península de Nikoya na Costa Rica e a Comunidade Adventista de Loma Linda no condado da California, EUA. Mais tarde foi contatada uma comunidade no vale do rio Hunza, na fronteira da Índia com o Paquistão.

      Foi constatado que o isolamento e a solidão estão entre os maiores problemas enfrentados pela população que envelhece. As maneiras de lidar com esse desafio estão na pauta das organizações que se propõem vislumbrar um futuro melhor em Moradia e Convivência para a longevidade.
A pesquisa de Langer comprova os impactos da qualidade das relações humanas para a saúde e o bem estar do idoso.
Pesquisa da Cohousing USA( Associação das Cohousings dos EUA ) mostra que as pessoas que moram em Cohousing vivem em média 07 anos a mais do que as que moram em outros lugares.

      A Free Aging, em parceria com o SECOVI, trouxe a arquiteta, fundadora e moradora há 20 anos no Pioneer Walley Cohousing (Estados Unidos), Laura Fitch para relatar sua experiencia e abrir novas possibilidades,  no “I Curso de Planejamento e Implantação de Cohousing em São Paulo” no Secovi (Vila Madalena), realizado de 19 a 21 de outubro de 2018.

      É quase inevitável comparar os Cohousings às Moradias, Vivendas e Espaços de Trabalhos Compartilhados que hoje se espalham pelo mundo, a exemplo dos Coliving, Coworking, Repúblicas, Hostels etc. Apesar de filosofias e alguns pensamentos comuns, as práticas apresentam muitas diferenças. O “Manifesto Coliving”, criado pela Coliving Org. resume os principais fundamentos dos movimentos desse tipo:
        . Comunidade em harmonia com a Individualidade.
        . Aproximação de pessoas e troca de experiências.
        . Consumo colaborativo.
        . Compartilhamento de espaços comuns.
        . Economia com o uso de recursos naturais.
        . Divisão de trabalho.
 Todas as bases desses movimentos se aproximam dos ideais de reaproveitamento e economia colaborativa ou solidária que vem ganhando cada vez mais força no mundo.

       O tipo de economia sempre caracterizou a evolução dos grupamentos humanos. Houve três grandes mudanças na vida do homem que definiram a sua economia:
      . A primeira, rural, de troca, quando ele deixa de ser nômade para fixar sua residência e trabalhar a terra.
      . A segunda, trazida pela industrialização, tipicamente urbana, que trouxe de gancho o capitalismo, o individualismo e a competitividade.
       . A terceira, atual, a era da tecnologia quando, com um novo olhar, o homem começa a se voltar para a Natureza,  para o compartilhamento e a economia solidária onde, com a  aproximação especialmente do produtor e consumidor, ambas as partes saem ganhando.

       O tamanho de um grupo de moradores que define uma Vila ou Moradia Compartilhada não pode ser nem muito grande nem muito pequeno. Muito pequeno se perdem as economias dos custos comuns; se muito grandes perde-se a  escala humana em que todos podem se conhecer e se relacionar.

       A Dra. Ana Claudia, medica Geriátrica pela USP, especialista que trabalha no Hospital Albert Einstein com pacientes terminais, aponta 5 arrependimentos que o homem pode sentir no final de sua vida:
       1º) Não ter vivido a sua vida por ter se dedicado à vida dos outros (família, trabalho etc.).
       2º) Não ter demonstrado suficientemente seu afeto. Ter escondido seus sentimentos por vergonha, medo de ser mal entendido, de ser expor. Por não perceber que expor sentimentos impede a amargura de reter as emoções.
       3º) Não ter ficado mais tempo com seus amigos. A família tende a ser cada vez mais disfuncional enquanto os amigos participam de um universo mais compatível com o dos idosos. Eles se aproximam por afinidade, espontaneamente.
       4º) Não ter trabalhado mais no que sempre gostou. O trabalho não deve ser desligado da vida e sim uma expressão de suas vocações e aptidões.
       5º) Não ter aberto sua vida para a felicidade.

      Se levarmos em conta, de um lado os resultados das experiencias no mundo todo com os idosos que residem em moradias compartilhadas ( cohousings,  vilas e ecovilas), com ou sem suas famílias e, de outro lado, os resultados de estudos e pesquisas realizados sobre o processo do envelhecimento, podemos chegar às seguintes conclusões: 
       a) a vida em uma Comunidade Compartilhada só de Idosos, pode proporcionar conexões sociais mais favoráveis à  qualidade de vida da população idosa.
       b) a habitação privativa para o idoso contribui para o respeito à individualidade, à segurança e à auto-identidade do homem no decorrer de todo o processo do seu  envelhecimento;
       c) o trabalho solidário na forma cooperativa dará ao idoso um envelhecimento ativo no sentido de pertencer a uma comunidade, de responsabilidade, de autonomia e de auto-sustentabilidade econômica, recolocando-o, após a aposentadoria, como elemento útil à sociedade.
       d) as conexões culturais com o mundo mostram-lhe que a evolução de sua sabedoria ainda tem muito a contribuir para as inovações do futuro.

      Neste sentido podemos afirmar que uma Moradia planejada para atender esses requisitos, não só dará aos idosos, após a aposentadoria, uma vida com qualidade como resultará em economia para o governo  assim como garantirá a inserção ativa e responsável do idoso na família e na sociedade.
Tal plano deverá ser sustentado por dois conceitos básicos: o de Moradia e o de Trabalho que serão os pilares e o diferencial no planejamento e execução de um Projeto de EcoVila Senior voltado para Idosos a partir dos 60 anos.
   - MORADIA - Não deve ser entendida apenas como o local onde o indivíduo habita       mas o espaço onde realiza regularmente suas atividades de rotina e onde há pessoas e grupos com os quais interage sistematicamente. Fazem parte da Moradia:  a família e o lar, os grupos e ambientes de trabalho, de lazer, de estudos, de esportes e saúde etc.
   - TRABALHO - Deve ser considerado como o conjunto de atividades organizadas e sistematizadas em função de um objetivo desejável a um grupo de indivíduos que o realiza espontaneamente como parte de sua vida. O objetivo poderá ser de economia, de lazer, de cultura, de troca dentre outros, e sua realização deverá ser sempre gratificante e saudável. 


       Quer queiramos ou não, o processo de evolução do homem na Terra, em direção a um envelhecimento longevo e feliz até a finitude, está definido dentro dessas linhas gerais. Apenas compete à geração atual trabalhar para que tal processo caminhe com melhor uso dos conhecimentos e inovações. Está nas mãos das sociedades e dos governos atuais prover para que as boas mudanças ocorram mais ou menos suavemente e de forma cada vez mais inclusiva e menos sofrida.
 
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