A VELHICE NÃO DEVE SER UM FARDO PARA A SOCIEDADE

Dr. Alexandre Kalache , um dos maiores especialistas em envelhecimento no mundo forneceu dados importantes para a compreensão do conjunto de fatores que determinam as condições de vida da população idosa no Brasil.

INTERGERACIONALIDADE E MULTINACIONALIDADE:

Em 1975, quando foi para a Inglaterra fazer o mestrado, observou o seguinte:

a) 83% dos médicos geriatras tinham vindo do sul da Ásia , do Paquistão  e da Índia e eram considerados de segunda classe pelos especialistas;

b) descobriu, junto à Sociedade Britânica de Medicina que, independente da sua 

nacionalidade, os geriatras eram os médicos mais satisfeitos com o seu trabalho;

c) pesquisando junto a grupos de alunos ao longo do ano, verificou que suas relações com os idosos melhoravam à medida que os conheciam.

Concluiu que a convivência e a familiaridade dos jovens com os idosos produzia fortes laços de amizade.

MUDANÇAS SOCIAIS

Estamos numa cultura onde está havendo todo tipo de mudanças.

-Nos anos 70, a população idosa brasileira era de 4 a 5% do total; hoje é de 14% e em 2050 a previsão é de 30% .

-O Brasil deixou de ser rural mas se urbanizou caoticamente.

-Está havendo uma revolução na estrutura familiar em termos de constituição e estilo de vida(filhos, pais, avós e outros idosos da família) quanto à Fé, à Educação,o Trabalho e o Lazer.

-Em 2007, uma pesquisa da OMS mostrou que em 2030, 2/3 da população mundial continuarão vivendo em zonas urbanas ainda não preparadas adequadamente para isso.

Nesse quadro, os idosos - porque considerados fora da população ativa -, inúteis e descartáveis embora cada vez mais longevos, são as maiores vítimas do progresso.

O QUE QUEREM OS IDOSOS

Os resultados de uma pesquisa informal, realizada por Kalache e apresentados no Congresso Internacional de Geriatria e Gerontologista em 2015, mostraram que a maioria dos idosos considera seus melhores amigos os porteiros dos prédios e seus maiores inimigos os motoristas de ônibus. Sua maior preocupação é com a segurança: criminosos, trânsito, discriminação, pedras e buracos nas ruas.

No ano 2000, o astrofísico e demógrafo  Michel Poulain visitou as aldeias da Sardenha na Itália, que eram famosas pela longevidade de seus habitantes, às  quais foi dado o nome de “Blue Zones”.

Em 2005 um grupo de estudiosos e pesquisadores chefiadas por Dan Buettner ampliou para o mundo os resultados das observações feitas sobre o estilo de vida da população da Sardenha, através de um projeto patrocinado pela National Geographic Society. Pesquisando em vários lugares do mundo onde os habitantes tinham vida mais longa do que o esperado (100 anos e mais) encontrou como principais fatores de motivação para viver o respeito da família e da sociedade e o acesso às condições de trabalho e lazer compatíveis com suas vocações e aptidões.

POLÍTICAS PÚBLICAS 

É preciso recorrer ao compromisso do poder público para que corresponda ao que dele se espera e exige a nossa Constituição.

-Em abril de 2018, o Ministério do Desenvolvimento Social lançou o Projeto “Cidade Amiga do Idoso”. No final de 2018 começou a ser trabalhado o Projeto “Brasil Amigo do Idoso “. Em 2019 foi desencadeada a série de Conferências sobre “As Políticas Públicas e os Direitos dos Idosos”, a nível Municipal , Estadual e Federal. 

O Brasil está agora, em 2022, através de todos os meios sociais e tecnológicos,  éticos e morais procurando elaborar políticas públicas que representem as melhores respostas aos “Desafios do Século XXI”.

ENVELHECIMENTO 

Kalache elenca 4 capitais que devem ser acumulados no decorrer da vida para que toda a população idosa possa envelhecer bem, com qualidade e longevidade.

1º) Capital Vital: manter a saúde, através de boa alimentação e hábitos saudáveis.

2º) Capital de Conhecimento: estar sempre aprendendo, ser aberto ao diferente e novo, descobrir novas perguntas em velhas respostas.

3º) Capital Social: fazer amigos, participar de grupos com atividades sociais.

4º) Capital Emocional: combater o pessimismo, o negativismo e ser otimista, ativo, cultivar a alegria e o bom humor.

PROPÓSITO DE VIDA

Mas tudo isso de nada adiantará se a pessoa idosa não tiver sempre objetivos a alcançar e propósitos de vida só possíveis com a motivação da auto-sustentabilidade e do trabalho, enquanto suas condições  genéticas e estilo de vida assim o permitir.

Concluem muitos estudiosos que  atualmente, 20% da longevidade é ditada pelos genes, 10% pela tecnologia e os outros 70% dependem do estilo de vida.

Santos, 08/08/2022

Lília Sampaio de Souza Pinto (CMI- Santos, C.Planejamento)