domingo, 26 de agosto de 2012

Porque Te Amo!

O homem nasce uma "tabula rasa" ? Hoje sabemos que não. Ele nasce bem" suprido", como uma sementeira onde um conjunto de forminhas embrionárias determinarão seus traços físicos e comportamentais. O DNA de seus ancestrais se encarregará de compor o novo ser com aspectos e comportamentos futuros que serão revelados progressivamente ao longo do seu desenvolvimento.
Esse conjunto de traços vem com duas orientações básicas: a de formar um ser que será único e distinto de todos quantos existirem além dele e a de que o seu desenvolvimento não será fatal nem homogêneo no decorrer da vida mas sofrerá mudanças e variações sob a influência dos fatores ambientais onde irá viver.
Estou fazendo estas afirmações gerais, provavelmente de conhecimento de todos, porque são importantes para clareza de meu ponto de vista a respeito do amor na vida humana.

A meu ver o amor é a característica fundamental do comportamento do homem. Sua origem antecede a dos traços ancestrais, é encontrada na origem da própria espécie e vai além, talvez esteja na própria essência do ser vivo pois, de uma forma primitiva, reações de amor parecem existir também na vida animal. Vejam por exemplo o "amor- proteção"das fêmeas por seus filhotes, o "amor-adoração" do cão por seu dono.

De um modo geral, o amor se expressa como uma dádiva e um ato de proteção. O sentido do amor está intimamente ligado ao da morte. O amor dá a vida e para defende- la da extinção dá a morte. A questão do amor- morte permeia , direta ou indiretamente toda vida do homem a tal ponto que em certos casos extremos o ato de amor pode se confundir com o de morte."Eu mato porque te amo!" Faz sentido para você? Pensada friamente, não. Mas para quem assim age em situações extremas faz e muito! Exemplos disso são os crimes passionais e a eutanásia.

Mas para que minhas idéias fiquem claras para todos - até para mim, pois o amor é bem complicado - vou tratar dele como o vejo e experimento, pois esta questão me veio à mente quando comecei a pensar: Puxa! Como pode caber em mim tanto amor quando minha família está tão grande! Afora os amores antigos por avós, pais, marido, alguns tios, primos e amigos, todos já falecidos (e o amor continua presente na lembrança), ainda há os amores vivos e participantes pelos filhos e suas novas famílias, netos, bisnetos e daí por diante... Cruzes! E todos cabem no meu coração! Alegro- me com eles, sofro por e com eles! Então penso que amor e dor também convivem como partes de um todo, unidos pelo medo do sofrimento pela perda - morte do amor ou da vida- do ser amado. " Quem ama sofre" diz sabiamente um ditado popular. Nem sempre eles são simultâneos, mas até podem ser. A saudade, por exemplo, é um amor pungente que traz em si própria um sofrimento que até parece físico, um aperto no coração. Ora, já ouvi dizer que a sede do amor é o fígado mas eu - e acho que todas as pessoas que a sentiram - não acredito, pois a sinto no coração.
O amor, então, pode trazer alegria, satisfação e ao menor sinal de perigo, inquietação e sofrimento. Ele é sempre uma dádiva, uma doação de alma que pode ou não se traduzir em ação. Eu acho que deve sempre levar a uma ação pois um ato de amor que fica na intenção e deixa passar a oportunidade da ação guarda para sempre um laivo amargo de remorso e arrependimento.
Às vezes o amor é manifestado por uma ação que na verdade não o traduz claramente pois foi impulsionada pela dor e pelo sofrimento e daí.... não se pode mais "deletar" o ato. Por exemplo é comum a gente, por excesso de preocupação além do razoável, dizer o que na verdade não queria... e o mal está feito! Resta explicar o mais honestamente possível as razões que determinaram o ato. Mas então entra o orgulho e o amor-próprio que impedem voltar atrás.Vejam como não é fácil "dar a volta por cima" nos casos de amor! O dar e receber amor exige em primeiro lugar a confiança, isto é, a certeza de que " chova ou faça sol" ele existe e de que, no fundo, ele é o esteio que garante a continuidade e impede a extinção, a morte do amor.
O exemplo mais sublime do amor/dádiva é o de Cristo na crucificação. Dar a vida pelo homem sem perguntar se a quer, sem esperar compreensão ou aceitação? Isto é no mínimo um ato de tremenda coragem e confiança! É Amor!
Quando uma mãe deixa de comer, rouba ou até se prostitui para dar alimento a seus filhos ela faz uma doação, uma escolha, embora envolva sofrimento. E onde está o amor da mãe que deixa seus filhos subnutridos até a morte para freqüentar o bar da esquina? Vemos constantemente notícias de casos de abandono de crianças, de assassinatos de recém- nascidos. Será que o foram por amor? Precisaríamos conhecer as causas destrutivas do amor materno no ambiente de vida dessas mães e averiguar quais fatores foram suficientemente fortes para bloquear o amor materno transformando o valor da vida do filho em valor do descanso da morte! Talvez essas mães tenham pensado que morrendo o filho estaria a salvo do sofrimento da vida que ela conhecia tão bem.
Um processo mental semelhante poderia ocorrer, por exemplo, no descaso pela vida e bloqueio do amor na mente de criminosos, especialmente no sistema carcerário. Mas em uma coisa eu acredito: Se "descascarmos essas cebolas podres", bem lá no fundo estará o amor obstruído pelo medo do mundo e do homem, sem poder fugir mais. Se fosse possível recomeçar de novo o amor poderia ressurgir. Infelizmente em raros casos isto acontece e um novo ser emerge.

Então é impossível ao homem viver somente pelo amor - e seu correlato, a paz? "Paz e Amor" como queriam os " hippies"- hoje praticamente substituídos por outros movimentos menos pacíficos - seria o Paraíso na Terra? Não sei, o que sei com certeza é que o homem não é tão inteligente quando se trata de viver. Tenta chegar às estrelas com sua inteligência e ao mesmo tempo, muitas vezes, pode "cair no fundo do poço" levando seu bom senso e sentido de vida pessoal.
Olhando a vida da humanidade parece ter havido sempre um descompasso entre a Paz /Amor e a Violência/Morte. Seria possível conciliar ambos ? Talvez se o homem buscasse a Harmonia! Nela se encontraria o equilíbrio da vida humana: o bem e o mal, o amor e a morte, o dar e o receber. Várias civilizações do mundo em diferentes épocas têm buscado esse equilíbrio e a harmonia dele decorrente através de filosofias de vida, disciplinas sociais e preceitos religiosos. Mas até o momento, com exceção de alguns grupos sociais, as nações não se esqueceram das disputas, das guerras, da destruição do homem e de seu mundo. Isso quase sempre em nome da Paz, do Amor, da Religião e da Justiça, o que mostra a deformação imposta pelo homem no sentido primitivo de amor e morte na vida humana. O amor fazia a vida, a morte a defendia dos predadores. Entretanto, com a evolução e o progresso, o ato do amor foi se sofisticando e os predadores desapareceram mas o homem parece não perceber que o único predador do homem que restou é ele próprio.
Mas a literatura que defende certas teorias filosóficas assim como práticas de vida, a exemplo do "tai-chi-chuan" e linhas correlatas, mostram a satisfação e o vigor da vida alcançada por seus seguidores em busca da harmonia com o mundo. Estas filosofias não pregam uma paz estagnada mas também a defesa dessa paz através de movimentos corporais que seguem os movimentos da natureza e do universo. Segundo as práticas corporais chinesas as artes marciais fazem parte da harmonia do homem consigo próprio e com o universo pelo equilíbrio do corpo em movimento. Com o movimento do corpo o homem dá origem à vida, a um novo ser; com o movimento do corpo o homem a defende e dá a morte.

É, então, da maior importância para a vida do homem ( não apenas a sua existência ) buscar essa harmonia e acho que ela está viva e embrionária no amor. Vejamos se é possível descobri-la e resgata-la pela observação do amor no decorrer do desenvolvimento do ser humano desde o seu nascimento.

O desejo de lutar pela vida do filho começa antes mesmo do seu nascimento. A gestação coloca a mãe num estado de alerta emotivo todo especial. O mundo se torna diferente e ela começa a sentir que seu corpo não é mais só seu mas o responsável por uma nova vida que começa. Vive esse período com a preocupação de saber como será e viverá seu filho. Hoje a tecnologia já permite levantar a ponta do véu desse antigo mistério. A mãe perde um pouco de sua ansiedade quando,a partir do quarto ou quinto mês de gestação ,ficar conhecendo as condições da saúde e o sexo do filho. Atualmente, ao nascer a criança encontra tudo facilitado para ela, até seu próprio nascimento pois são raros os casos de parto natural. A mãe quer tudo de melhor para seu filho e defende sua vida com o amor/ proteção.

Pensem um pouco o que era ter filhos antigamente . No meu tempo a criança nascia em uma cama, no quarto, às mãos da parteira (melhores do que muitos obstetras que marcam cesariana às sextas feiras para não perderem o descanso do fim de semana ou em dias que não atrapalhem suas viagens! ). E o bebê? Não tem seu dia certo e natural para nascer? A natureza tem seu relógio, o homem o altera. O parto forçado apareceu para beneficiar o bebê em caso de complicação e não para "descomplicar" a vida do médico. Está muito claro para mim que no parto natural a mãe não só "sabe" mas "sente" o seu bebê nascer. Ela e o filho " trabalham" juntos o nascimento e seu amor o acompanha.

Do nascimento até quatro ou cinco meses a criança dá trabalho pra valer. Quase não há tempo para os pais externarem a alegria com sua presença. Hoje o pai colabora muito mais do que antigamente nos cuidados com o bebê e assim mesmo haja saúde e amor/paciência! A criança chora e ninguém sabe o porque; dorme e acorda às horas mais inusitadas e não para de fazer xixi e cocô....e tudo recomeça noite e dia, dia e noite. Parece não acabar nunca... mas a mãe mesmo " acabada" sempre tem um sorriso lindo quando diz feliz: "Meu filho está ótimo, já engordou e cresceu bastante!" É o "padecer no paraíso" como diziam os antigos sobre o amor materno.
Finalmente a criança encontra sua rotina e percebe que há uma noite para dormir e um dia para ficar mais acordada do que dormindo. Arre! Agora a mãe pode brincar, amar e exibir seu "trofeuzinho "para os parentes e amigos.

Esse amor/proteção dos pais acompanha a vida do filho durante toda a infância quando ele vai aprendendo, aos poucos, hábitos, normas e os primeiros valores da vida na família. Na infância ele ainda recebe e aprende o que os pais ensinarem, principalmente pelo exemplo. No final da infância o papel do pai - até então um amigo brincalhão - adquire importância com a participação em atividades que alargam o campo das experiências sociais da criança. Cabe a ele impor e explicar algumas regras da vida- não mais só as da casa. Seu amor tem uma expressão nova, a da disciplina, da força de vontade, da coragem, da aceitação dos desafios da primeira comunidade da qual a criança irá fazer parte- a escola. Ele é o " durão" mas também o companheiro, o que ensina e cobra deveres, elogia, incentiva e castiga quando necessário. Ao filho ou filha sem um dos pais falta uma parte vital em seu desenvolvimento. Acredite, a vida conjugal da mãe com o pai, segundo a minha experiência, representa o conjunto das partes da vida dos filhos a serem desenvolvidas.

O início da puberdade e da adolescência marca uma fase totalmente nova para o ser humano em desenvolvimento. Ele começa a sentir em si novas forças, energias e a fazer indagações que irão desenvolver seu espírito crítico e o questionamento do que é sua vida e de quem ele é. Sente- se capaz de fazer tudo sozinho e quer provar sua independência dos pais e da família. Há uma desconfiança e afastamento dos valores recebidos e uma busca por novos valores. É preciso muito amor dos pais para uma convivência pacifica com os filhos nessa idade e para compreende- los. Obviamente a cobrança aumenta assim como as reclamações e as punições e o filho ou filha começa a se ver como um intruso na família. Então procura os amigos, " irmãos de infortúnio". Eles representam a compreensão, a aceitação, os elogios, as alegrias e tentações fáceis, a seu alcance porque " estão no mesmo barco" . Felizmente há os bons amigos que são menos acessíveis, mais reservados, menos atraentes e que precisam ser reconhecidos como tal pelo adolescente. Somente a capacidade de ponderar e julgar, aprendida com os pais é que irá possibilitar esse reconhecimento.
Os bons amigos o amam pelo que ele é; os outros amigos - inimigos ocultos- só o amam como espelho do amor egocêntrico que sentem por si próprios.
Mas então, como reconhecer o bom e o mau amigo? Primeiro é preciso que o adolescente aprenda a distinguir o Bem do Mal, o que não parece fácil, principalmente nessa fase tumultuada. Cabe aos pais mostrar de maneira simples e prática que será o Bem tudo que não cause sofrimento atual ou futuro para outra pessoa. Um bem pode não ser agradável no momento ( como o castigo, por exemplo) mas certamente trará satisfação no futuro. O mal sempre trará sofrimento no futuro embora possa parecer agradável no momento ( as drogas, por exemplo). Se o adolescente conseguir raciocinar poderá ver facilmente o logro. Aliás, na maioria das vezes o adolescente tem consciência do mal presente em seu comportamento mas fecha os olhos para as conseqüências.
No meu entender, por trás dos males do mundo está sempre o inimigo do amor - o medo. O medo do mundo, dos pais, da sociedade e de não poder mais confiar em suas próprias forças leva o adolescente a " fugir da luta" e aceitar a satisfação fácil, já conhecida. O medo pode impedir que o filho ou filha procure a ajuda dos pais e/ou da sociedade e pode conduzir ao crime contra si próprio ( enfrentamento da morte) ou contra outros (sofrimento ou morte). Ele ou ela encobre o medo com falsas justificativas: " Eu não preciso confessar nada"," Eu assumo meus riscos" , " Sou homem (ou mulher) suficiente para fazer isso". Por isso, a confiança- que é uma prova do amor- deve ser demonstrada pelos pais sob a forma de apoio moral e material no momento em que o filho ou filha puderem recebe- lo.

Uma família desestruturada é um conjunto de abismos onde o amor não encontra caminho para se expressar o que obriga o filho a procurar o amor/ apoio com outras pessoas. Mas ainda que encontre bons amigos, o adolescente não fica inteiramente satisfeito. Ele sente a necessidade crescente de um amor diferente que o complete. É um impulso que leva a jovem ou o jovem a buscar seu companheiro ou companheira.

Finalmente o filho ou filha "cresceu" e arranjou uma namorada (o)! Parece ter saído da fase mais crítica da "aborrescência". E os pais com alívio acham que agora vai " assentar a cabeça". Já não demonstra tanto interesse pelos amigos do "oba! oba!" e começa a ver outras atividades com bons olhos: cinema, teatro, festas familiares e outros lugares onde possa levar a companheira ou o namorado. Nesse momento a preocupação com o futuro do filho é maior do que com a filha. Será ela, a namorada, sua futura esposa? Terá ele uma futura esposa quando, nos dias de hoje, a "paquera" e o "ficar" podem levar ao mesmo lugar que a esposa? E o amor dos pais se desdobra novamente em preocupações mas já menos sofredoras, com mais alegria e expectativas. Seu amor será menos protetor e ficará mais à distância ( não distante) a fim de deixar espaço e liberdade para planejamento da vida futura dos dois.
Nesta época maravilhosa do amor/paixão, o mundo todo é belo e é deles. É hora de definir seu caminho e planejar seu futuro e a família estará a seu lado para apoia-lo. Para o novo casal o amor está na sua forma mais completa, pois envolve o ser humano como um todo e seu ambiente de vida: corpo, sentimento e participação na sociedade. É preciso re conhecer este valor e não malbarata- lo. Entretanto, esse amor completo pode ser banalizado, vilipendiado e até desvirtuado por hábitos sociais de jovens que dele retiram a mera satisfação física (é a "química do amor", dizem eles) . O amor que vem somente do desejo conduz ao ato sexual que mutila o amor, o que talvez explique por que muitas vezes não é amada a vida que ele gerou. O amor na juventude é uma doação de corpo e alma. O parceiro é parte da sua alma, a "outra metade da laranja", " da maçã" ou seja lá de que fruta for!

É preciso, então, encontrar algumas regras de vida para que o casamento não "vá para o espaço". Sentar e conversar para acertar as coisas. Lembrar que cada pessoa é uma individualidade e ninguém é, nem irá ficar, cópia do outro- só porque o outro quer. Então, a individualidade de cada um deverá ser respeitada assim como a sua privacidade de pensamento e opções sabendo que tudo que for feito o será com amor/confiança ,pensando no bem comum dos dois. Em segundo lugar deverá haver, sim, lugar para mudança de comportamento. O homem precisa e deve mudar sempre que for para melhorar a sua vida familiar. Assim, com sorte e boa vontade a vida do casal vai se estruturando e seu amor se torna mais forte e amplo, pois alem da paixão começa a incluir a cumplicidade nas ações dos dois. Mas esse amor tamanho família, não significa que a vida será " um mar de rosas". Sempre haverá dificuldades, ameaças ao amor e alguns desentendimentos.

Com os filhos pouco a pouco saindo da casa dos pais, a vida destes entra em uma nova fase, a do amor/ ternura, caracterizada pelo companheirismo, busca de novas atividades e valores, de uma nova filosofia de vida. O casal ( ou um deles, se o outro já não estiver mais junto) terá mais tempo para si próprio. O seu amor se amplia cada vez mais abraçando os novos membros de sua família e se alegrando com as novas vidinhas que vão chegando.

Não há limite para esse amor. Ele não tem mais a intensidade do amor/paixão, mas abrange tudo e todos, os porteiros do prédio, as pessoas que passam e desejam um bom dia, as árvores da praça, as ondas do mar e até seu cão que o recebe em casa abanando a cauda. É uma época de plenitude mas não de apatia. De busca de atividades com qualidade de vida, de fazer o bem sempre que possível, de buscar a harmonia consigo próprio, com a natureza e com o mundo. É saber que nunca estará sozinho pois faz parte de uma família cada vez maior que sempre lhe dará o amor.

2 comentários:

  1. AMEI!!!

    Que esse amor continue se ampliando cada vez mais mesmo...

    Um beijo enorme

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  2. Muito lindo o texto, ricas e reais as colocações!!!! Parabens pela clareza das reflexóes!!!Bjsssss

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