terça-feira, 17 de junho de 2014

Somos nós ou o Brasil que está mudando?

Neste ano de 2014 está ocorrendo na sociedade brasileira uma série de movimentos e violências que deverão ficar marcados na nossa História. A nova eleição presidencial deverá levar a uma bela conquista  ou a uma amarga derrota para o país.

Será que outras pessoas também estão preocupadas com o amanhã? Seriam sinais disso a insegurança, o cuidado ao ouvir as  notícias, os pronunciamentos de autoridades,  o medo ao pensar em  fatos já ocorridos e os que estão previstos para acontecer?
Como eu, meus vizinhos também ficam tensos, olhando temerosos à sua volta para ruas escuras e vazias quando precisam sair à noite ou muito cedo para ir até a farmácia ou à panificadora buscar o pãozinho quente, coisas tão comuns e pacíficas até pouco tempo atrás?

Nosso viver está mudando ou o mundo é que está ficando diferente? Eu penso e não consigo isolar um do outro.  Sei que mudando seu comportamento as pessoas podem levar o mundo a mudar. Por sua vez as mudanças crescentes do mundo provocam novas mudanças no comportamento social.
 
Em muitos países as exigências colocadas pelas mudanças vêm provocando transformações no comportamento das pessoas. Mas em lugar de melhorar a vida, elas parecem conduzir cada vez mais ao caos, às lutas e guerras, a mais fome, miséria e doenças. Fico angustiada pensando em nosso país. Mas o que fazer? 

Entro na internet para saber o que dizem as pessoas interessadas, especializadas, busco notícias em jornais sobre os fatos que estão acontecendo... e nada parece ter um suporte crível. São reclamações e desmandos em todas as classes sociais, desde aquelas que sempre foram objeto de nossa admiração e respeito - como a dos médicos - até a que deveria ser um baluarte na formação de nossas crianças e jovens - a dos professores. 
De outro lado, aqueles que deveriam nos representar e ao nosso país lá fora parecem hoje concentrar certos elementos da mais baixa escória de nossa sociedade: a classe política. A nossa imagem levada ao mundo deve ser a de um país crivado de sonegadores, criminosos e desonestos em todos os setores. 

Pergunto: Isso é uma Democracia? Nem  uma existência de "laissez-faire" justificaria o caos político e social porque não é só a "liberdade para o fazer" nem o "viva e deixe viver" mas uma luta constante de "viva e  deixe o outro morrer!"  É só olhar os habitantes pobres das favelas - porque nelas há ricos ocultos também - e a das periferias das cidades, sem luz, água encanada e saneamento básico. A população de regiões inteiras permanece sem uma educação de base satisfatória.
Podemos cogitar se é o aumento acelerado da população e o crescimento indiscriminado das cidades e estados o que impede cada governante de governar bem seu território. Mas quando candidato ele já sabia disso e aceitou a responsabilidade. Será que se não recebesse um pagamento principesco pelo cargo, além de outras "facilidades", o aceitaria por amor à pátria? 

Sei que outros lugares do mundo enfrentaram e enfrentam problemas semelhantes. Mas se cada país se preocupasse em resolver seus próprios problemas sem neles envolver outros povos ou grupos econômicos para com eles fazer conchavos, tudo seria mais honesto. Então realmente os países poderiam  se ajudar mutuamente sem se sujeitar a interesses egoístas pelo caminho.

Eu penso no mundo - porque hoje temos meios de acompanhar o que nele acontece até em tempo real - e vejo povos com histórias antigas de grandes mudanças, suas vidas e suas experiências, e as comparo com as nossas. Será nossa imaturidade como nação uma boa explicação para este fracasso? Não creio, pois outros países tão jovens quanto o nosso tiveram muito mais sucesso no campo da economia e da política -só para citar algumas áreas socialmente significativas. Entretanto, a mim parece não faltar - nem ao país nem ao brasileiro - potencial para o sucesso... 
Então é preciso encontrar a ou as falhas que impedem o Brasil de crescer para um dia ocupar, como igual, seu lugar junto às demais nações desenvolvidas.

Penso se essas falhas teriam alguma relação com os nossos colonizadores de Portugal.
Do ponto de vista da etnia, nosso país é hoje uma mistura de nacionalidades. O homem brasileiro formou-se basicamente a partir da miscigenação do português e do africano com o indígena nativo; depois vieram o italiano, o holandês, o alemão, o francês e algumas outras nacionalidades de quebra - pois as portas sempre estiveram abertas. Será esse caldeirão de raças responsável pelos traços comportamentais mais evidentes do brasileiro como sejam a emotividade, a alegria, a irresponsabilidade e a instabilidade? Bem, se for isso, nada a fazer a não ser procurar direcionar essa energia, juntamente com outros traços positivos que caracterizam nosso povo tais como a inteligência e a criatividade.

Estaremos neste aspecto num beco sem saída? Devemos continuar esperando a calamidade que parece pairar no céu brasileiro cair sobre nosso país? Somos nós, nossas famílias, filhos, maridos, parentes, vizinhos e amigos que precisam de um Brasil melhor... e por isso estão nas ruas, nas reivindicações, sem saber quando terroristas e vândalos "alugados" aparecerão para transformar passeatas em tragédias! Onde vamos buscar soluções mais pacíficas para nossos problemas, cuja gravidade está acendendo a luz vermelha e exigindo U.T.I.?

Se todos pensarem com bom senso, positivamente, algumas idéias razoáveis deverão surgir - pelo menos para organizar os problemas e hierarquiza-los. Lógico, existem as pessoas especializadas em todos os campos. Elas poderão - e muitas talvez já estejam neste momento tomando iniciativas - elaborar uma relação do que o povo precisa que mude já, o que será depois e o que mais tarde. Em seguida, propor o que fazer para efetivar e administrar essas mudanças. 

Não temos uma longa História própria para nos orientar sobre quais seriam os melhores caminhos para nossa vida social e econômica dar certo e explicar os fracassos. Mas podemos também aprender com a experiência de outros povos. Não buscar modelos - pois nunca dois países poderão ser iguais e nenhum há que não tenha sofrido mudanças com o tempo. Mas podemos aprender com a análise de certas experiências tendo em vista algumas características de nosso  país. Por exemplo, eu não preciso pôr a mão no fogo para saber que queima; mas a criança precisa porque o fogo é belo e ela desconhece as suas consequências. Então aprender com a experiência dos outros é prova de maturidade e inteligência. 
Vamos pensar qual povo, em seu desenvolvimento, apresentaria  uma tradição cultural e étnica com características que nos levassem a compreender melhor nossos problemas. Para um estudo desse tipo meus conhecimentos são praticamente nada, mas dentro do que sei, no continente europeu um deles, o suíço, me chama a atenção.  Parece-me que poderia ser um bom exemplo de diversidade étnica para analisar. 

O povo suíço descende de um caldeirão de etnias. Hoje é um país constituído como uma Federação de Cantões. A Suíça (Constituição Helvética) é formada por 26 cantões com direitos iguais dos quais três estão divididos em subcantões sendo a língua oficial o alemão. Cada cantão está ligado em origem e vizinhança a uma etnia e a uma língua: francesa, inglesa, austríaca, alemã, etc.  Portanto muitas formas de comunicação linguística e diferentes etnias participaram na formação da nacionalidade e da cultura suíça e tudo isso parece ter dado muito certo em todos os aspectos: sociais, éticos, morais, econômicos etc. Dentro dessa diversidade, em alguns pontos semelhante -não igual - à do brasileiro, seria interessante procurar saber que valores mantiveram e mantêm a coesão nacional dos cantões suíços com um forte sentido e orgulho de nação. 
De outro lado, se pensarmos no aspecto territorial, a Suíça é muito diferente do Brasil. Ela é uma nação de pequena extensão onde os Cantões ficam muito próximos uns dos outros assim como dos países limítrofes e a excelência do sistema viário se encarrega de aproxima-los ainda mais. Já o Brasil é um país de extensão continental e até pouco tempo atrás com vias de comunicação extremamente deficitárias.
 A nossa língua brasileira veio una e pronta de Portugal e se desenvolveu em diferentes regiões  com a influência dos idiomas nativos, africanos e de imigrantes de outros países. 
A distância territorial entre as Regiões e os Estados e a precariedade dos sistemas viários principalmente, podem ter sido fortes fatores a dificultar a coesão dos valores nacionais, éticos e morais para  a formação de um conceito de nação pleno e abrangente.
As revoluções no passado revelam a presença de fatores desse tipo nas tentativas para dividir o país em regiões independentes e nos diferentes costumes e valores sociais em várias regiões brasileiras. E precisaremos  de valores sociais com força e abrangência suficientes para manter as novas regras a serem estabelecidas. 

Enquanto no continente europeu o povo suíço pode ser considerado um bom exemplo de sociedade democrática, no continente americano os Estados Unidos da América do Norte apresentam, em seu desenvolvimento, características bem diferentes mas que também conduziram a uma democracia saudável.
Sua extensão territorial é semelhante à do Brasil e sua colonização, a partir da Inglaterra sofreu a forte influência de diferentes línguas e etnias, dentre outras a nativa e a africana.
Em seu desenvolvimento, de maneira semelhante ao nosso - e talvez com maior ênfase - houve tentativas de independência entre regiões norte e sul do país. E assim como nossa Língua Portuguesa, a Inglesa nos Estados Unidos hoje pode ser considerada  independente da sua língua-mãe. Ambas estão sendo merecedoras de estudos para uma composição vernácula específica.
Se juntarmos a isso a proximidade do tempo de existência desses dois países como nações americanas, as suas semelhanças significativas justificariam a previsão de uma evolução cultural no mesmo ritmo em ambos -  o que não aconteceu. 
Como uma democracia aberta e pujante os Estados Unidos da América do Norte têm sido, em vários aspectos - especialmente no econômico - líder no processo de desenvolvimento mundial e modelo para muitos países em desenvolvimento.
Dentre provavelmente outros, os dois exemplos de países que citamos o foram por apresentarem situações de origem e desenvolvimento bem diferentes - às vezes até opostas - e ocuparem hoje posições de destaque na economia mundial assim como entre as nações com sistema de governo  democrático.

Mas a economia e a democracia no Brasil nem sempre foram como se apresentam atualmente. Como em outros países, tivemos ao longo do tempo ótimos dirigentes assim como períodos de crises políticas com repercussões principalmente na área econômica. 
O que nos preocupa hoje - falo por mim mas essa preocupação está presente em todo povo brasileiro - são os aspectos negativos de uma crise de valores  que vêm solapando nosso processo de desenvolvimento. No entanto o Brasil tem ótimas condições para evoluir bem em todos os campos especialmente nos econômico e social. Já tivemos alguns períodos de bom governo. Podemos lembrar, pouco antes do atual governo, as iniciativas inteligentes e saneadoras na gestão de Fernando H. Cardoso.
Antigamente (alguém ainda se lembra?) nós tínhamos uma elite cultural dirigente, um sentido de caráter e idoneidade onde a palavra e o fio de barba eram suficientes para selar contratos rabiscados à mão e promessas verbais.
 Hoje temos pilhas de processos criminais e leis que se contradizem a si próprias... Vejam o caso do deputado federal Natan Donadon em exercício de seu cargo político enquanto na prisão por vários crimes contra o país.

Estas considerações, ainda que superficiais, poderiam nos fazer vislumbrar alguma luz no fim do túnel? 
O que esperar? O que pode ser feito... hoje?
Vimos que nem a variedade de etnias com uma herança cultural antiga, nem os problemas sociais e econômicos decorrentes de sistemas viários e da extensão territorial foram obstáculos ao desenvolvimento satisfatório dos dois países considerados,essencialmente diferentes nesses aspectos.
Do ponto de vista econômico e cultural, a educação no Brasil se apresentou desde o início profundamente dividida. De um lado, uma elite formada pelos portugueses colonizadores que aqui se estabeleceram dando origem à classe  sócio-econômica dos donatários, fazendeiros e latifundiários. De outro lado uma classe servil composta predominantemente pelos nativos, africanos e imigrantes de outros países incluindo, com o tempo, os mestiços descendentes dessas várias etnias.
A educação da elite, nos moldes europeus, era sofisticada e distante da realidade brasileira. A outra grande parte da população recebia educação através do contato com os senhores - quando escravos -  e dos patrões -  se empregados e colonos nas fazendas.
Na medida em que a população pobre e inculta aumentava muito mais rapidamente do que a da elite, o nível cultural desta começava a baixar por falta de um ambiente social no mesmo nível e a de atualização cultural.
De seu lado, na crescente população pobre e analfabeta, os escravos ganhavam liberdade e  juntamente com os empregados, aprendiam formas de trabalho para sobrevivência. Alguns poucos ganhavam ou compravam pequenas porções de terras e se livravam do jugo dos senhores e patrões.
Assim, através de lutas e solavancos, a grande massa do povo brasileiro alcançou um tipo de educação baseada na curiosidade, criatividade e inteligência voltadas  para a obtenção de facilidades aqui e agora, aparentemente sem capacidade de pensar nem planejar  o futuro. O desinteresse por tudo que não lhes rendesse vantagens no momento tornou esse povo despreparado para corresponder às necessidades de um processo de desenvolvimento sério que servisse de base à evolução econômica e social de uma nação.  Além disso - e mais grave - esse tipo de atitude tornou o povo vítima fácil de autoridades dominantes, cada vez mais oriundas dessa mesma massa popular.
 
A meu ver, portanto, mudar aspectos importantes no processo educativo do povo brasileiro deve ser o primeiro passo para começar a mudar a situação do país. E isso só pode ser feito a médio e longo prazo, quando um planejamento da educação realmente de base começar pelo conhecimento da realidade social e econômica de cada região. Isso só poderá ser feito através  de trabalhos e estudos de pesquisadores e professores para isso bem preparados.
A educação de dentro para fora - isto é, de um começo baseado na realidade brasileira, que tenha em vista um fim em direção ao qual objetivos concretos estejam colocados -  estará voltada para a nossa realidade e a nossa cultura. Nesse processo jamais será suficiente para que a educação melhore, o Governo fornecer doações às famílias e estabelecer que a Escola cuide  de seus filhos em tempo integral fornecendo-lhes também a  alimentação. Vai, sim, dar continuidade a um processo vicioso e dar a muitas mães,  mais tempo de ócio para ficarem à porta de casa ou na vizinhança somando reclamações e comparando posições financeiras. Oferecer às famílias trabalhos remunerados, sim, mas presentes, nunca. É dar o peixe sem ensinar a pescar.
Enquanto uma nova educação planejada para a realidade brasileira e a partir dela não começar a dar seus frutos - pois nem o brasileiro conseguirá um "jeitinho"  para que essa mudança se complete aqui e agora - precisamos de bons dirigentes que administrem o processo.

O que eu digo neste momento parte de pensamentos e idéias que representam um grito de socorro. A angústia por meus filhos, netos e bisnetos; por todas as famílias brasileiras que neste momento estão sendo espoliadas de sua herança pátria e corrompida por valores sociais, morais e éticos deformados.

Neste momento só posso pensar, preocupar-me e orar. Quem sabe seja esta a oportunidade para alguém dirigir com bom senso as mudanças que deverão ocorrer proximamente em nossa nação. Encontrar talvez a chave para abrir as portas a uma nova era de paz, harmonia e bem estar para um povo mais amadurecido e voltado para as necessidades e interesses de todos e não de alguns.

Uma coisa é certa. Na presente situação nós precisamos mudar nosso comportamento para mudar a vida no Brasil. 
Afinal, não se paga para começar a pensar e sonhar e a esperança por enquanto não tem preço...
 
 
;