domingo, 26 de agosto de 2012

Porque Te Amo!

O homem nasce uma "tabula rasa" ? Hoje sabemos que não. Ele nasce bem" suprido", como uma sementeira onde um conjunto de forminhas embrionárias determinarão seus traços físicos e comportamentais. O DNA de seus ancestrais se encarregará de compor o novo ser com aspectos e comportamentos futuros que serão revelados progressivamente ao longo do seu desenvolvimento.
Esse conjunto de traços vem com duas orientações básicas: a de formar um ser que será único e distinto de todos quantos existirem além dele e a de que o seu desenvolvimento não será fatal nem homogêneo no decorrer da vida mas sofrerá mudanças e variações sob a influência dos fatores ambientais onde irá viver.
Estou fazendo estas afirmações gerais, provavelmente de conhecimento de todos, porque são importantes para clareza de meu ponto de vista a respeito do amor na vida humana.

A meu ver o amor é a característica fundamental do comportamento do homem. Sua origem antecede a dos traços ancestrais, é encontrada na origem da própria espécie e vai além, talvez esteja na própria essência do ser vivo pois, de uma forma primitiva, reações de amor parecem existir também na vida animal. Vejam por exemplo o "amor- proteção"das fêmeas por seus filhotes, o "amor-adoração" do cão por seu dono.

De um modo geral, o amor se expressa como uma dádiva e um ato de proteção. O sentido do amor está intimamente ligado ao da morte. O amor dá a vida e para defende- la da extinção dá a morte. A questão do amor- morte permeia , direta ou indiretamente toda vida do homem a tal ponto que em certos casos extremos o ato de amor pode se confundir com o de morte."Eu mato porque te amo!" Faz sentido para você? Pensada friamente, não. Mas para quem assim age em situações extremas faz e muito! Exemplos disso são os crimes passionais e a eutanásia.

Mas para que minhas idéias fiquem claras para todos - até para mim, pois o amor é bem complicado - vou tratar dele como o vejo e experimento, pois esta questão me veio à mente quando comecei a pensar: Puxa! Como pode caber em mim tanto amor quando minha família está tão grande! Afora os amores antigos por avós, pais, marido, alguns tios, primos e amigos, todos já falecidos (e o amor continua presente na lembrança), ainda há os amores vivos e participantes pelos filhos e suas novas famílias, netos, bisnetos e daí por diante... Cruzes! E todos cabem no meu coração! Alegro- me com eles, sofro por e com eles! Então penso que amor e dor também convivem como partes de um todo, unidos pelo medo do sofrimento pela perda - morte do amor ou da vida- do ser amado. " Quem ama sofre" diz sabiamente um ditado popular. Nem sempre eles são simultâneos, mas até podem ser. A saudade, por exemplo, é um amor pungente que traz em si própria um sofrimento que até parece físico, um aperto no coração. Ora, já ouvi dizer que a sede do amor é o fígado mas eu - e acho que todas as pessoas que a sentiram - não acredito, pois a sinto no coração.
O amor, então, pode trazer alegria, satisfação e ao menor sinal de perigo, inquietação e sofrimento. Ele é sempre uma dádiva, uma doação de alma que pode ou não se traduzir em ação. Eu acho que deve sempre levar a uma ação pois um ato de amor que fica na intenção e deixa passar a oportunidade da ação guarda para sempre um laivo amargo de remorso e arrependimento.
Às vezes o amor é manifestado por uma ação que na verdade não o traduz claramente pois foi impulsionada pela dor e pelo sofrimento e daí.... não se pode mais "deletar" o ato. Por exemplo é comum a gente, por excesso de preocupação além do razoável, dizer o que na verdade não queria... e o mal está feito! Resta explicar o mais honestamente possível as razões que determinaram o ato. Mas então entra o orgulho e o amor-próprio que impedem voltar atrás.Vejam como não é fácil "dar a volta por cima" nos casos de amor! O dar e receber amor exige em primeiro lugar a confiança, isto é, a certeza de que " chova ou faça sol" ele existe e de que, no fundo, ele é o esteio que garante a continuidade e impede a extinção, a morte do amor.
O exemplo mais sublime do amor/dádiva é o de Cristo na crucificação. Dar a vida pelo homem sem perguntar se a quer, sem esperar compreensão ou aceitação? Isto é no mínimo um ato de tremenda coragem e confiança! É Amor!
Quando uma mãe deixa de comer, rouba ou até se prostitui para dar alimento a seus filhos ela faz uma doação, uma escolha, embora envolva sofrimento. E onde está o amor da mãe que deixa seus filhos subnutridos até a morte para freqüentar o bar da esquina? Vemos constantemente notícias de casos de abandono de crianças, de assassinatos de recém- nascidos. Será que o foram por amor? Precisaríamos conhecer as causas destrutivas do amor materno no ambiente de vida dessas mães e averiguar quais fatores foram suficientemente fortes para bloquear o amor materno transformando o valor da vida do filho em valor do descanso da morte! Talvez essas mães tenham pensado que morrendo o filho estaria a salvo do sofrimento da vida que ela conhecia tão bem.
Um processo mental semelhante poderia ocorrer, por exemplo, no descaso pela vida e bloqueio do amor na mente de criminosos, especialmente no sistema carcerário. Mas em uma coisa eu acredito: Se "descascarmos essas cebolas podres", bem lá no fundo estará o amor obstruído pelo medo do mundo e do homem, sem poder fugir mais. Se fosse possível recomeçar de novo o amor poderia ressurgir. Infelizmente em raros casos isto acontece e um novo ser emerge.

Então é impossível ao homem viver somente pelo amor - e seu correlato, a paz? "Paz e Amor" como queriam os " hippies"- hoje praticamente substituídos por outros movimentos menos pacíficos - seria o Paraíso na Terra? Não sei, o que sei com certeza é que o homem não é tão inteligente quando se trata de viver. Tenta chegar às estrelas com sua inteligência e ao mesmo tempo, muitas vezes, pode "cair no fundo do poço" levando seu bom senso e sentido de vida pessoal.
Olhando a vida da humanidade parece ter havido sempre um descompasso entre a Paz /Amor e a Violência/Morte. Seria possível conciliar ambos ? Talvez se o homem buscasse a Harmonia! Nela se encontraria o equilíbrio da vida humana: o bem e o mal, o amor e a morte, o dar e o receber. Várias civilizações do mundo em diferentes épocas têm buscado esse equilíbrio e a harmonia dele decorrente através de filosofias de vida, disciplinas sociais e preceitos religiosos. Mas até o momento, com exceção de alguns grupos sociais, as nações não se esqueceram das disputas, das guerras, da destruição do homem e de seu mundo. Isso quase sempre em nome da Paz, do Amor, da Religião e da Justiça, o que mostra a deformação imposta pelo homem no sentido primitivo de amor e morte na vida humana. O amor fazia a vida, a morte a defendia dos predadores. Entretanto, com a evolução e o progresso, o ato do amor foi se sofisticando e os predadores desapareceram mas o homem parece não perceber que o único predador do homem que restou é ele próprio.
Mas a literatura que defende certas teorias filosóficas assim como práticas de vida, a exemplo do "tai-chi-chuan" e linhas correlatas, mostram a satisfação e o vigor da vida alcançada por seus seguidores em busca da harmonia com o mundo. Estas filosofias não pregam uma paz estagnada mas também a defesa dessa paz através de movimentos corporais que seguem os movimentos da natureza e do universo. Segundo as práticas corporais chinesas as artes marciais fazem parte da harmonia do homem consigo próprio e com o universo pelo equilíbrio do corpo em movimento. Com o movimento do corpo o homem dá origem à vida, a um novo ser; com o movimento do corpo o homem a defende e dá a morte.

É, então, da maior importância para a vida do homem ( não apenas a sua existência ) buscar essa harmonia e acho que ela está viva e embrionária no amor. Vejamos se é possível descobri-la e resgata-la pela observação do amor no decorrer do desenvolvimento do ser humano desde o seu nascimento.

O desejo de lutar pela vida do filho começa antes mesmo do seu nascimento. A gestação coloca a mãe num estado de alerta emotivo todo especial. O mundo se torna diferente e ela começa a sentir que seu corpo não é mais só seu mas o responsável por uma nova vida que começa. Vive esse período com a preocupação de saber como será e viverá seu filho. Hoje a tecnologia já permite levantar a ponta do véu desse antigo mistério. A mãe perde um pouco de sua ansiedade quando,a partir do quarto ou quinto mês de gestação ,ficar conhecendo as condições da saúde e o sexo do filho. Atualmente, ao nascer a criança encontra tudo facilitado para ela, até seu próprio nascimento pois são raros os casos de parto natural. A mãe quer tudo de melhor para seu filho e defende sua vida com o amor/ proteção.

Pensem um pouco o que era ter filhos antigamente . No meu tempo a criança nascia em uma cama, no quarto, às mãos da parteira (melhores do que muitos obstetras que marcam cesariana às sextas feiras para não perderem o descanso do fim de semana ou em dias que não atrapalhem suas viagens! ). E o bebê? Não tem seu dia certo e natural para nascer? A natureza tem seu relógio, o homem o altera. O parto forçado apareceu para beneficiar o bebê em caso de complicação e não para "descomplicar" a vida do médico. Está muito claro para mim que no parto natural a mãe não só "sabe" mas "sente" o seu bebê nascer. Ela e o filho " trabalham" juntos o nascimento e seu amor o acompanha.

Do nascimento até quatro ou cinco meses a criança dá trabalho pra valer. Quase não há tempo para os pais externarem a alegria com sua presença. Hoje o pai colabora muito mais do que antigamente nos cuidados com o bebê e assim mesmo haja saúde e amor/paciência! A criança chora e ninguém sabe o porque; dorme e acorda às horas mais inusitadas e não para de fazer xixi e cocô....e tudo recomeça noite e dia, dia e noite. Parece não acabar nunca... mas a mãe mesmo " acabada" sempre tem um sorriso lindo quando diz feliz: "Meu filho está ótimo, já engordou e cresceu bastante!" É o "padecer no paraíso" como diziam os antigos sobre o amor materno.
Finalmente a criança encontra sua rotina e percebe que há uma noite para dormir e um dia para ficar mais acordada do que dormindo. Arre! Agora a mãe pode brincar, amar e exibir seu "trofeuzinho "para os parentes e amigos.

Esse amor/proteção dos pais acompanha a vida do filho durante toda a infância quando ele vai aprendendo, aos poucos, hábitos, normas e os primeiros valores da vida na família. Na infância ele ainda recebe e aprende o que os pais ensinarem, principalmente pelo exemplo. No final da infância o papel do pai - até então um amigo brincalhão - adquire importância com a participação em atividades que alargam o campo das experiências sociais da criança. Cabe a ele impor e explicar algumas regras da vida- não mais só as da casa. Seu amor tem uma expressão nova, a da disciplina, da força de vontade, da coragem, da aceitação dos desafios da primeira comunidade da qual a criança irá fazer parte- a escola. Ele é o " durão" mas também o companheiro, o que ensina e cobra deveres, elogia, incentiva e castiga quando necessário. Ao filho ou filha sem um dos pais falta uma parte vital em seu desenvolvimento. Acredite, a vida conjugal da mãe com o pai, segundo a minha experiência, representa o conjunto das partes da vida dos filhos a serem desenvolvidas.

O início da puberdade e da adolescência marca uma fase totalmente nova para o ser humano em desenvolvimento. Ele começa a sentir em si novas forças, energias e a fazer indagações que irão desenvolver seu espírito crítico e o questionamento do que é sua vida e de quem ele é. Sente- se capaz de fazer tudo sozinho e quer provar sua independência dos pais e da família. Há uma desconfiança e afastamento dos valores recebidos e uma busca por novos valores. É preciso muito amor dos pais para uma convivência pacifica com os filhos nessa idade e para compreende- los. Obviamente a cobrança aumenta assim como as reclamações e as punições e o filho ou filha começa a se ver como um intruso na família. Então procura os amigos, " irmãos de infortúnio". Eles representam a compreensão, a aceitação, os elogios, as alegrias e tentações fáceis, a seu alcance porque " estão no mesmo barco" . Felizmente há os bons amigos que são menos acessíveis, mais reservados, menos atraentes e que precisam ser reconhecidos como tal pelo adolescente. Somente a capacidade de ponderar e julgar, aprendida com os pais é que irá possibilitar esse reconhecimento.
Os bons amigos o amam pelo que ele é; os outros amigos - inimigos ocultos- só o amam como espelho do amor egocêntrico que sentem por si próprios.
Mas então, como reconhecer o bom e o mau amigo? Primeiro é preciso que o adolescente aprenda a distinguir o Bem do Mal, o que não parece fácil, principalmente nessa fase tumultuada. Cabe aos pais mostrar de maneira simples e prática que será o Bem tudo que não cause sofrimento atual ou futuro para outra pessoa. Um bem pode não ser agradável no momento ( como o castigo, por exemplo) mas certamente trará satisfação no futuro. O mal sempre trará sofrimento no futuro embora possa parecer agradável no momento ( as drogas, por exemplo). Se o adolescente conseguir raciocinar poderá ver facilmente o logro. Aliás, na maioria das vezes o adolescente tem consciência do mal presente em seu comportamento mas fecha os olhos para as conseqüências.
No meu entender, por trás dos males do mundo está sempre o inimigo do amor - o medo. O medo do mundo, dos pais, da sociedade e de não poder mais confiar em suas próprias forças leva o adolescente a " fugir da luta" e aceitar a satisfação fácil, já conhecida. O medo pode impedir que o filho ou filha procure a ajuda dos pais e/ou da sociedade e pode conduzir ao crime contra si próprio ( enfrentamento da morte) ou contra outros (sofrimento ou morte). Ele ou ela encobre o medo com falsas justificativas: " Eu não preciso confessar nada"," Eu assumo meus riscos" , " Sou homem (ou mulher) suficiente para fazer isso". Por isso, a confiança- que é uma prova do amor- deve ser demonstrada pelos pais sob a forma de apoio moral e material no momento em que o filho ou filha puderem recebe- lo.

Uma família desestruturada é um conjunto de abismos onde o amor não encontra caminho para se expressar o que obriga o filho a procurar o amor/ apoio com outras pessoas. Mas ainda que encontre bons amigos, o adolescente não fica inteiramente satisfeito. Ele sente a necessidade crescente de um amor diferente que o complete. É um impulso que leva a jovem ou o jovem a buscar seu companheiro ou companheira.

Finalmente o filho ou filha "cresceu" e arranjou uma namorada (o)! Parece ter saído da fase mais crítica da "aborrescência". E os pais com alívio acham que agora vai " assentar a cabeça". Já não demonstra tanto interesse pelos amigos do "oba! oba!" e começa a ver outras atividades com bons olhos: cinema, teatro, festas familiares e outros lugares onde possa levar a companheira ou o namorado. Nesse momento a preocupação com o futuro do filho é maior do que com a filha. Será ela, a namorada, sua futura esposa? Terá ele uma futura esposa quando, nos dias de hoje, a "paquera" e o "ficar" podem levar ao mesmo lugar que a esposa? E o amor dos pais se desdobra novamente em preocupações mas já menos sofredoras, com mais alegria e expectativas. Seu amor será menos protetor e ficará mais à distância ( não distante) a fim de deixar espaço e liberdade para planejamento da vida futura dos dois.
Nesta época maravilhosa do amor/paixão, o mundo todo é belo e é deles. É hora de definir seu caminho e planejar seu futuro e a família estará a seu lado para apoia-lo. Para o novo casal o amor está na sua forma mais completa, pois envolve o ser humano como um todo e seu ambiente de vida: corpo, sentimento e participação na sociedade. É preciso re conhecer este valor e não malbarata- lo. Entretanto, esse amor completo pode ser banalizado, vilipendiado e até desvirtuado por hábitos sociais de jovens que dele retiram a mera satisfação física (é a "química do amor", dizem eles) . O amor que vem somente do desejo conduz ao ato sexual que mutila o amor, o que talvez explique por que muitas vezes não é amada a vida que ele gerou. O amor na juventude é uma doação de corpo e alma. O parceiro é parte da sua alma, a "outra metade da laranja", " da maçã" ou seja lá de que fruta for!

É preciso, então, encontrar algumas regras de vida para que o casamento não "vá para o espaço". Sentar e conversar para acertar as coisas. Lembrar que cada pessoa é uma individualidade e ninguém é, nem irá ficar, cópia do outro- só porque o outro quer. Então, a individualidade de cada um deverá ser respeitada assim como a sua privacidade de pensamento e opções sabendo que tudo que for feito o será com amor/confiança ,pensando no bem comum dos dois. Em segundo lugar deverá haver, sim, lugar para mudança de comportamento. O homem precisa e deve mudar sempre que for para melhorar a sua vida familiar. Assim, com sorte e boa vontade a vida do casal vai se estruturando e seu amor se torna mais forte e amplo, pois alem da paixão começa a incluir a cumplicidade nas ações dos dois. Mas esse amor tamanho família, não significa que a vida será " um mar de rosas". Sempre haverá dificuldades, ameaças ao amor e alguns desentendimentos.

Com os filhos pouco a pouco saindo da casa dos pais, a vida destes entra em uma nova fase, a do amor/ ternura, caracterizada pelo companheirismo, busca de novas atividades e valores, de uma nova filosofia de vida. O casal ( ou um deles, se o outro já não estiver mais junto) terá mais tempo para si próprio. O seu amor se amplia cada vez mais abraçando os novos membros de sua família e se alegrando com as novas vidinhas que vão chegando.

Não há limite para esse amor. Ele não tem mais a intensidade do amor/paixão, mas abrange tudo e todos, os porteiros do prédio, as pessoas que passam e desejam um bom dia, as árvores da praça, as ondas do mar e até seu cão que o recebe em casa abanando a cauda. É uma época de plenitude mas não de apatia. De busca de atividades com qualidade de vida, de fazer o bem sempre que possível, de buscar a harmonia consigo próprio, com a natureza e com o mundo. É saber que nunca estará sozinho pois faz parte de uma família cada vez maior que sempre lhe dará o amor.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Portas Para o Mundo

O mundo terá portas? Então o homem ainda não as achou e, muito menos, encontrou chaves que as abrissem. É de conhecimento geral a afirmação de que se o homem não tivesse uma linguagem falada e escrita estaria no estágio dos animais irracionais. Será mesmo? Será a linguagem a única chave para o homem interagir com seus semelhantes no mundo? Daí a grande interrogação: o homem fala porque pensa ou pensa porque fala ? A dificuldade crescente que o idoso manifesta para se comunicar, seria decorrente de falhas em seu pensamento ou perda de vocabulário? Tanta gente fala, fala, e não diz nada e quantos, com  uma simples frase "mandam claramente o seu recado" ! Vamos pensar um pouco (falar consigo próprio) sobre a linguagem humana e tentar não partir de premissas falsas para não chegar a conclusões erradas.

Certa vez, em minha carreira profissional, realizei um estudo com o objetivo de identificar e analisar alguns aspectos da aprendizagem da leitura e da escrita por crianças recém-alfabetizadas. Em outras palavras, eu queria saber em que medida o aluno demonstra, com a aprendizagem da linguagem falada e escrita, estar encontrando um instrumento eficaz para interagir com as outras pessoas em seu ambiente de vida.
Nesse trabalho, procurei focalizar os exercícios de redação de alunos da 1a. série do ensino fundamental realizados do início ao final do ano letivo. 
Obtive várias informações interessantes e, dentre elas, alguns resultados se destacaram pela importância que me pareceram ter diante da questão proposta sobre o papel da internet no dia a dia do homem em todas as idades.


Oque pude observar, a partir dos resultados em destaque, ficará mais claro pela análise de dois exemplos de exercícios escolares nos quais os alunos deveriam formar sentenças (frases) com palavras dadas. 

Em um dos exercícios examinados, realizados no início do ano letivo, a criança deveria formar uma sentença utilizando a palavra " boneca". A aluna escreveu: "Ganhei uma boneca loura com cabelos louros". A professora riscou em vermelho "...com cabelos louros." e explicou à criança que a frase estava errada porque "uma boneca loura" já significava que tinha cabelos louros. Não deveria repetir, era uma redundância dizer a mesma coisa duas vezes.
No caderno de um aluno de outra classe, também realizado no início do ano, o exercício era escrever uma sentença com a palavra "galinha" . E o aluno escreveu : "Minha mãe pôs para chocar uma galinha choca ". Do mesmo modo a professora considerou errada a frase, pois não se poderia colocar para chocar uma galinha que não estivesse choca!

Ora, em ambos os casos as professoras é que estavam erradas em sua avaliação dos dois alunos.
No primeiro exemplo porque não levou em consideração o fato de que nem todas as pessoas de pele clara (louras) têm cabelos louros, assim como muitas morenas se apresentam louríssimas (os cosméticos que o digam!). E, naturalmente, para a criança as bonecas representam pessoas como as que conhece.
De maneira semelhante, a professora errou no segundo exemplo por não saber que nem toda galinha choca é deixada para chocar. Ao entrar em choco, a galinha pára de pôr ovos durante um certo período de tempo. Entretanto, se não encontrar ovos nem puder fazer ninho, em pouco tempo ela sairá do choco e voltará a pôr ovos. Nas zonas rurais, é o que as pessoas as vezes faziam: prendiam a galinha no galinheiro. Sem ter ninho nem ovos para deitar sobre eles e chocar, em dois ou três dias a galinha choca saía do choco e a sua postura não ficará interrompida.

Então, o que faltou, a essas professoras, aprender para que o seu ensino da linguagem pudesse desenvolver no aluno a capacidade de se comunicar de modo claro pela escrita, mas sem perder a capacidade de nela expressar a sua maneira de ver e sentir o que desejava comunicar?

Ficou patente que, antes de ensinar a criança a falar e escrever com a "sua" 
linguagem (da professora), cada professora deveria procurar conhecer as razões que levavam seus alunos a perderem a sua linguagem própria. Deveriam  procurar, no ambiente do aluno, os fatores (forças), responsáveis pela formação e pelo significado das expressões peculiares que a criança, na escola, aprende a desprezar na sua escrita.
Essa constatação justifica, por exemplo, o fato de que, para o aluno de zona rural, não tem sentido resolver um problema sobre a deterioração de alimentos em "conteiners" por greve dos funcionários da "Libra Terminais" assim como para o aluno da Baixada Santista não interessa o problema dos efeitos desastrosos para os trabalhadores da cidade, causados pela paralisação do Metrô.

Pude observar, não só a distância entre a linguagem expressiva que a criança traz para a escola e a linguagem do professor, como as mudanças na linguagem da criança, sob a influência do professor no decorrer do ano letivo. Este  resultado importante do estudo foi obtido pela comparação da evolução dos primeiros aos últimos exercícios, dos mesmos alunos, realizados no ano letivo. Verificamos que, muito freqüentemente, no final do ano o trabalho escolar do aluno refletia as características da linguagem do professor. No decorrer do ano letivo o aluno aprendia a "copiar" a linguagem do professor provavelmente com a perda correspondente da sua espontaneidade e autenticidade de expressão.

Posso entender, então, que, enquanto com o ensino da linguagem escrita e falada, o professor abre para seu aluno uma porta para o mundo, ele pode estar, também, reduzindo ou desvirtuando sua capacidade criativa e sua espontaneidade. Você já não teve a sensação de que, quanto mais se tenta escrever corretamente, mais vazio e insosso parece ficar o pensamento que pretendemos transmitir através das palavras? Nossa mensagem fica fria e impessoal. Transmite o que criamos intelectualmente, o que é tudo o que sentimos emocionalmente. O processo da transmissão esvazia e muda o sentimento que quisemos comunicar. A linguagem de comunicação, é uma porta para o mundo intelectual, das idéias, da ciência, da tecnologia, não acessível a todos os indivíduos, nem a mais adequada a todas as situações.

Sozinha, a linguagem de comunicação é insuficiente, ... e o homem dela se defende!
Ao lado da linguagem falada e escrita, destinada a ser instrumento de comunicação, se desenvolve um outro tipo de linguagem, a de expressão. Enquanto a primeira é ensinada e aprendida, portanto se forma de "fora para dentro", esta, a de expressão, não é formada- ela nasce com o homem e se desenvolve segundo forças internas do indivíduo e compartilhamento da sociedade; portanto,"de dentro para fora".
Há uma imensidade de sinais sonoros, gráficos , visuais e táteis ligados aos nossos órgãos dos sentidos, que compõem uma linguagem universal entendida por todos. Esta linguagem, a expressiva, constitui uma porta para o mundo do pensamento, da emoção, do sentimento, enfim, toda a "manifestação"do que cada um tem de particular e que não cabe, inteira, na comunicação. É um meio de "pôr pra fora " algo que não suportamos guardar e que está além de uma comunicação fria e impessoal.
Inicialmente, o ser humano expressa suas necessidades pelo grito e choro, sua alegria pelo riso, seu interesse pelos movimentos. Mais tarde, estas reações vão ficando cada vez mais sofisticadas . Uma criança pode chorar quando tem dor, mais tarde chorar de saudade, de tristeza, ou de alegria por ter merecido uma medalha nas Olimpíadas ou, ainda, de emoção pela homenagem recebida dos filhos em seu aniversário. E ninguém deixará de entender o sentido de cada "choro". De outro lado, a expressão de uma emoção muito forte pode ir além das palavras e se traduzir por uma reação espontânea de movimento . A raiva pode levar à agressão física a outra pessoa ou mesmo a uma parede, com risco de quebrar a mão! 
As manifestações artísticas constituem a linguagem de expressão em sua forma mais sofisticada. São eternas e universais e têm merecido um lugar especial na escala das comunicações expressivas do homem.

Ainda que a linguagem expressiva não precise ser aprendida, para ser transmitida ela assume uma forma especial de comunicação; quando a sua manifestação exige  um instrumento, uma técnica. Por exemplo, técnicas de pintura, de escultura, de música etc. Ela é prazerosa e tem um efeito catártico no indivíduo mas, frequentemente é uma comunicação através dos sentidos. A linguagem de expressão não tem fronteiras. Pode ser reconhecida e interpretada por todos, e essa interpretação é particular, de cada um. Uma bailarina pode criar os movimentos de sua dança, assim como numa tela de pintura impressionista cada indivíduo vê o que sua própria emoção traduz em formas e cores. Mas, porque foge ao domínio das ciências, sozinha, ainda não é suficiente para uma interação satisfatória e completa do homem com o homem no mundo.

Ao contrário da linguagem de expressão, a de comunicação ( que, como vimos, precisa ser aprendida ), é codificada . O prazer que desperta é primeiramente intelectual. Ela não é universal, difere segundo os diferentes países. Já podemos concordar que há uma violência ao nosso pensamento quando tentamos colocá-lo nos moldes linguísticos, isto é, nas palavras, parágrafos, acentos, enfim, todas as exigências vernáculas destinadas a deixa-la  clara para o outro.
Se é um processo difícil o da aprendizagem da língua materna, imagine, então, a aprendizagem de uma língua estrangeira! E com o progresso da ciência e da tecnologia, que aproximam o mundo do homem, cresce, também, a necessidade de se conhecer outras línguas.

O fato de que a língua de comunicação constitui um código que precisa ser constantemente decodificado explica por que cada povo tem a sua língua própria, diferente das demais. Curioso, segundo o Dicionário Enciclopédico Brasileiro Ilustrado - 6a.ed.,1957 - naquela época já havia 50 alfabetos em uso, portanto, 50 "nomes" para a mesma coisa. Ainda quando dois países tenham a mesma língua - Portugal/Brasil, Inglaterra/ Estados Unidos, Espanha/Argentina, por exemplo-, este fato ocorreu  pelo efeito da colonização de um pelo outro. Mas, logo, as diferenças linguísticas começam a aparecer na fala e na escrita de tal modo que ambas não mais se confundem. 
Uma diferenciação desse tipo, embora menos profunda, ocorre na linguagem de algumas regiões do mesmo país. Cada região pode desenvolver expressões próprias, assim como um "ritmo" ou "melodia" que a identifica. São expressões idiomáticas que diferenciam a linguagem do homem do campo do habitante da cidade, a do nordestino do sulista, e assim por diante. Os “sotaques” são bons exemplos disso.
Ainda um outro tipo de diferenciação ocorre frequentemente na linguagem de comunicação pela influência de interesses e hábitos em grupos de indivíduos unidos por profissões  e interesses sociais muitas vezes decorrentes da faixa etária. É o caso dos modismos (palavras e expressões que são criadas e depois desaparecem da linguagem). Por exemplo a gíria dos adolescentes: "ficar", "mandar ver", "legal" , "jóia ", a linguagem usada por pessoas do mesmo ambiente de vida, trabalho ou profissão. São exemplos os termos usados entre os adeptos do futebol, a linguagem dos mecânicos, dos médicos, dentre outros.

Portanto, nenhuma dessas formas de linguagem, isoladas ou coexistentes, tem se mostrado um instrumento eficaz , uma chave para abrir as portas do mundo e permitir a todos os homens lá entrarem para uma integração harmônica com a natureza e os outros homens. 

Será, então, impossível a criação de uma linguagem universal? 
O famoso"Esperanto", língua auxiliar da comunicação universal ( elaborada pelo médico judeu Ludwig L. Zamenhof e divulgada em 1887 ), aparentemente não saiu da intenção.

Mas eu, assim como muitas outras pessoas, não posso acreditar nisso. O tempo de vida do homem na Terra foi relativamente curto frente ao que ele já conquistou. Se precisa de uma chave para as portas do mundo, mais cedo ou mais tarde ele a irá criar.

Será que já não a criou?
Será que as portas do mundo já estão abertas, apenas nós não as vemos?
A chave que as abriu não estará na nossa frente e não estamos fazendo uso dela?
Penso... não...!, já é uma realidade que a tecnologia abriu para o homem as portas do mundo. E acredito que também forneceu o instrumento, a chave para lá chegarmos.

Mas como foi criado tal instrumento?

Ele foi criado por várias pessoas, em várias partes do mundo e em diferentes campos do conhecimento. Seu objetivo não é ser algo à parte, mas parte do todo humano, independente de raça, credo ou sistema social.

Mas como ele é?
Enquanto linguagem, sua função é permitir a interação do ser humano com o mundo "sem sair do lugar" . 
Vários conhecimentos e idéias, descobertos, elaborados e testados de diferentes maneiras para vários fins, como "pedaços" de uma linguagem, se atraíram, puxados pelo imã do reconhecimento de uma identidade mútua em torno de interesses comuns. Se encontraram, distribuíram e aglutinaram, assumindo, finalmente (mas não com um fim), uma forma de linguagem. Esta linguagem, ou língua universal, por ser extremamente técnica (não humana), não sofre as limitações humanas do homem,  mas respeita, igualmente, suas características particulares, pessoais, assim como as grupais e sociais. Haja vista a importância dos movimentos universais de ajuda humanitária, tais como o dos “Médicos sem Fronteiras" .

Gente! Isto é a Informática! 
Nada entendo de seus componentes, seus códigos, mas posso utilizá-la. Não sou bloqueada pelas distâncias nem por outras línguas, pois uma tradução ou instruções vem para mim "quentinha" me permitindo obter o conhecimento que desejo ou o material de que necessito. Preciso somente ter “uma tela ou um cartão tamanho família” ( para eu poder enxergar bem ) chamado, respectivamente computador ou Ipad, ou ainda um “cartãozinho” chamado celular e vontade de aprender a "ler" sua linguagem intuitiva para que ... as portas do mundo se abram para mim com suas estradas, caminhos e atalhos iluminados, dirigidos para conhecimentos, lazer, diálogos, compras, eventos e notícias do mundo todo, enfim, traz para mim o Mundo Atual que se prepara para o Futuro. E,mais importante, eu não sou mais uma simples observadora. Eu posso "entrar nele" e participar; quem sabe, até, colocar nele uma sementinha de mudança para o Amanhã!

Este campo da Informática - a INTERNET - tal como uma linguagem universal que tem a chave para as portas do mundo, tem o mundo por pátria. É feita e constantemente renovada por pessoas especiais de todos os lugares, unidos por um objetivo comum : o de encurtar distâncias, de aproximar os homens uns dos outros para somar ideias e experiências.
Na medida em que permite a expressão sem limites, ela é reconhecida pela criança, que dela se apodera e utiliza sem dificuldade.

Entretanto, o mesmo poder que confere e que atrai, principalmente crianças e jovens, guarda um grande perigo: o de não incluir em seu mecanismo inumano - alheio ao sentimento de humanidade - os valores, tanto individuais quanto sociais, éticos e morais. Sendo inexoravelmente humanos, estes sempre dependerão dos homens.
Mas, será esta a grande falha técnica da informática?
Talvez seja, antes, uma falha humana, uma vez que os próprios homens não se entendem quanto ao significado desses valores!




terça-feira, 7 de agosto de 2012



Ditado popular que se aplica a 99% das pessoas (não fique triste, deixei 1% para você se incluir neles):

"A verdadeira sabedoria não está na tua capacidade de falar, mas sim na tua habilidade de ouvir o que os outros têm a dizer"

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Quem eu Sou?

Oba! Minha " Sementeira " já deu seu primeiro frutinho! Luana, minha neta, sugeriu um tema para ser pensado. Ele surgiu a partir da conversa com uma amiga e ela julgou interessante porque a afetou. Trata do efeito benéfico (que produz boas consequências) ou maléfico (cujas consequências são más) que as pessoas podem produzir, umas sobre o comportamento das outras.

A amiga de Luana, cardiologista de renome, foi uma menina tímida, "apagadinha", em sua infância. Estava cursando a 5a. série ginasial (ensino de nível médio) quando uma nova professora de Língua Portuguesa começou a trabalhar com a classe, em substituição à professora efetiva.
Recém- formada, idealista, resolveu esta professora (por coincidência minha filha) levar os alunos a aprender Literatura através da vivência: Organizou uma peça teatral onde os alunos representariam os personagens.
Colocada em foco, aplaudida, trabalhando em equipe, a aluna tímida descobriu em si própria, qualidades e capacidades que não julgava ter e, com prazer, percebeu que era "alguém" .
A amiga de Luana ficou muito feliz quando, no decorrer da conversa, soube que a tia de minha neta era a sua antiga professora de lembrança querida, e comovida, relatou a ela esse fato de sua vida.

Não a peça teatral, mas a atitude dos colegas, de amigos e professores é que provocou uma mudança em seu comportamento social, o qual passou a dirigir a evolução de sua vida, a partir de então.

Entretanto, nem sempre ocorrem boas influências que provocam mudanças positivas no comportamento dos indivíduos. Infelizmente, são mais freqüentes os comportamentos negativos que decorrem de influências perniciosas para o indivíduo e a sociedade, tais como a disseminação de vícios, a generalização da desonestidade e da violência. São exemplos de situações deste tipo os casos de aquisição dos vícios (hoje sob maior controle) do fumo e das bebidas alcoólicas.

Uma criança ou adolescente (dificilmente o vício é adquirido na fase adulta), aprende a fumar e/ou beber quase sempre pelo exemplo de amigos e familiares. Recebe um conjunto de informações e adquire valores sociais negativos, tais como: fumar e/ou beber é "gostoso" (porque muita gente acha e não por ter um bom sabor - aliás, o cigarro, não tem sabor algum, é só fumaça), é "bonito" e "importante" (pessoas admiradas , focalizadas pela sociedade, aparecem na mídia fumando e/ou bebendo), e assim por diante...

Tais valores, aceitos pela sociedade e por ela própria incentivados através da propaganda dos produtos (felizmente, hoje sob restrição), justificam os comportamentos deles decorrentes, pois o adulto, portador do vício, o aceita mesmo tendo consciência dos perigos nele envolvidos. O adulto tem conhecimentos e a capacidade de fazer julgamentos a fim de tomar decisões corretas, mas o vício já se instalou numa época em que seu pensamento crítico não estava plenamente desenvolvido.
Agora, a mudança para um retorno é muito sofrida , ao contrário daquela , prazeirosa , que provocou o vício .

Uma mudança de comportamento não é, necessariamente, dirigida para o bem ou para o mal.Ela é própria do organismo humano. Os valores sociais que a provocam são os que a qualificam e a dirigem.

No meu entender, então, uma mudança de comportamento começa com a provocação da curiosidade e do interesse - que constituem a mola propulsora para o conhecimento .
A aquisição do conhecimento permite um julgamento e uma tomada de decisão a respeito do objeto de seu interesse (no nosso exemplo, o álcool e o fumo).

Aí é que está o perigo! É no momento da decisão que atuam as influências - boas ou más - no sentido de dirigir o comportamento do indivíduo: o fornecimento de informações verdadeiras ou tendenciosas, de exemplos atraentes ou relevantes, etc.

Por isso é tão importante o papel da família, dos amigos e de pessoas especializadas, os quais, ao lado da firme intenção do paciente, podem levar á sua reintegração na sociedade ronde, infelizmente, irá se deparar novamente com todos os fatores negativos que provocaram o vício.
Por razões desta natureza é que muito mais fácil é evitar do que curar um vício.

Puxa vida!!! Mas como o homem muda! Ele nunca pára? Cada vez que se vê uma criança, ela está diferente! Cresce, encorpa, muda de fisionomia e de comportamento tão rapidamente que, quando "acordamos", está um adulto.
Precisamos aceitar o fato de que nosso filhinho é, hoje, um ser humano sério e ponderado, capaz de tomar conta de sua vida e, se "bobearmos", da nossa também. No entanto, nesse indivíduo sempre encontramos e reconhecemos nosso filhinho!

Apesar de toda mudança no aspecto físico, intelectual, emocional e social, o indivíduo consegue ser ele mesmo, manter sua identidade no decorrer de toda a sua vida. O velho se reconhece na criança e no jovem que foi. Ele se "sente" sempre ele mesmo e nunca outra pessoa.

Mas, como eu posso ter tanta certeza de que eu sou eu? De que a pessoa que eu "penso " que sou, sou realmente "eu" ? De que no mundo inteiro não existe outra pessoa que seja eu? De que nem minha irmã gêmea pode ser a minha cópia, não pode ser eu?
Penso que é por "me sentir"sempre eu - por eu me reconhecer .
Minha identidade, então, não é dada apenas pelo conjunto de características que me definem, mas por algo que é único e pessoal dentro de mim.

No entanto, é possível a uma pessoa perder sua identidade para si própria e para os outros, quando um mal atinge suas funções cerebrais (é o caso do mal de Alzheimer,carinhosamente" apelidado "Alemão" por já fazer parte de inúmeras famílias) O doente que perdeu para si próprio sua identidade, não a mantém para os outros porque torna-se um estranho, física e mentalmente. Então, a identidade para os outros depende da consciência da identidade de si próprio: se eu sei quem eu sou, posso mostrar a você quem eu sou, mas se nem eu sei quem eu sou, como você pode saber quem eu sou?

Você entendeu? Parece claro? Mas não é, não!

Paradoxalmente, apesar de se reconhecer em qualquer situação e fase de sua vida, ninguém sabe quem realmente é. Se é quem pensa que é, quem desejaria ser, ou, mais freqüentemente, quem os outros acham que é.

A pessoa se conhece através dos outros. Quando muitas pessoas dizem que você é bonita, inteligente, simpática, você se sente assim e procura aprimorar e mostrar tais qualidades.

De outro lado, se, ao sair para o trabalho, uma pessoa encontra um amigo que lhe diz:" O que você tem? Está parecendo doente! ", pensa logo que ele está precisando de óculos, pois ela está se sentindo muito bem. Em seguida, no trabalho, um colega a olha cuidadosamente e diz: "Meu Deus! O que aconteceu com você? Está pálida, parece doente!" Imediatamente ela vai à toalete e se olha no espelho:"Puxa vida! Estou mesmo pálida! O que será?" E volta para o trabalho com "falta de ar". Todos olham e perguntam, agora com razão, se não está se sentindo bem. É a conta! Ela pede licença e vai ao médico, rezando para chegar com vida ao hospital.

Dizem,- para mim as más línguas - que o homem é produto do meio. Acho que ele é muito inteligente para ser só isso. É sempre possível fazer uma "mediazinha". Corresponder às expectativas sociais (as boas), procurando ser como os outros esperam que sejamos. Analisar criticamente nossas qualidades e capacidades e trabalhar no sentido de torná - las melhor. Tentar alcançar nossos "sonhos de consumo", em termos dos objetivos desejados, enquanto jovens , e, quando velhos, tentar sonhar em conservar o que alcançamos sem nada perder enquanto pudermos.

Sempre podemos encontrar motivos para ser feliz, encontrar objetivos a nosso alcance, em qualquer etapa de nossa vida.

Sentir a vida é uma forma de mudar nossa maneira de ver o mundo e as pessoas que nele vivem. Por exemplo, nem se precisa ser velho para gozar do prazer de uma boa companhia ao som de músicas suaves, sentir a calma das águas paradas e das árvores, dormitar com o barulhinho de uma cascata, suspirar pela paz como a de um por-do-sol, inspirar a energia de um amanhecer com os pássaros cantando...e assim por diante.

As pessoas podem aprender a ser uma boa influência para os outros. Devem começar por serem boas para si próprias - a "se gostarem" . Em outras palavras, quem não está bem consigo próprio não pode estar bem com os outros. Quem for capaz de ver o lado bom nos fatos de sua vida estará preparado para ser boa influência, pois poderá ver o lado bom dos outros e, assim, despertar qualidades adormecidas em seus semelhantes.

É preciso desenvolver esta capacidade, voltada para o bem , e excluir a tendência mais fácil de ver o mal em tudo o que acontece, procurando sempre um " bode expiatório".

As pessoas podem nos fazer bem ou mal com sua simples presença. "Sentimos", com maior ou menor intensidade, a "aura" das pessoas que se aproximam de nós. Dizemos que certas pessoas trazem "energia negativa". Quando chegam, parece que tudo fica escuro, pesado, triste. Outras, ao contrário, parecem trazer consigo a luz, a alegria, a energia: elevam "nosso astral" , fazendo eclodir qualidades que nem a gente sabia ter dentro de si.

Se uma pessoa pode mudar seu comportamento e se tornar uma boa influência para a mudança de comportamento de outra, por quê uma sociedade não pode se modificar na
direção do bem estar de todos?

O homem é o único ser consciente e racional equipado para dirigir sua própria evolução em termos de um verdadeiro progresso. Embora não se possa provar (pelo menos eu não posso) que, sem a influência do homem, a natureza e os animais seguiriam sua evolução de forma harmônica e equilibrada, estão perfeitamente claras as provas de que a ação do homem está destruindo a vida em nosso planeta.

Essa questão é tão importante que o mundo todo está voltado para ela. Mas não precisamos nos envergonhar da situação da vida em nosso país, pois, apesar de todos os povos estarem trabalhando no sentido de integrar harmonicamente as relações dos homens entre si e da preservação da natureza, a vida humana continua cada vez mais precária.

Isso não impede que nossa vida, a de nossos familiares e amigos, enfim, de todos que nos rodeiam, seja melhorada por nosso comportamento individual e que possamos nos aproximar, pouco a pouco, - talvez para nossos filhos ou descendentes - de uma harmonia universal.



 
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