domingo, 13 de setembro de 2020

UMA VISÃO HOLÍSTICA DO HOMEM NA TERRA

    Físico e Ambientalista austríaco, Capra expôs de maneira clara e expressiva sua teoria sobre as interrelações do homem com a Natureza no Ciclo de Conferências “Fronteiras do Pensamento” com o Tema “ Reinvenção do Humano”(18/11/2020,  Porto Alegre, RS). 


Físico teórico, Diretor do Centro de Alfabetização Ecológica (sede em Berkeley-California), desenvolveu uma pedagogia holística para ser aplicada em escolas públicas de ensino fundamental ao colegial.


Há décadas vem denunciando o caráter predatório da economia global capitalista, extrativista e o corporativismo de uma política dominada por interesses econômicos com prejuízo dos recursos naturais do mundo. Vê o planeta Terra como um organismo vivo (que denomina Gaia em homenagem à mitologia grega) capaz de dar respostas à altura da ação exploradora e auto-destrutiva do homem. Para ele, as ciências humanas podem mostrar o caminho da Moral à Economia e à Política da maioria dos países denominados civilizados.


Com a instrumentação da Física Moderna, Capra põe em evidência , através da perspectiva holística, a ação da humanidade como elemento capaz de produzir desequilíbrios no ciclo das mutações do planeta Terra. 

Por exemplo, acreditar num crescimento econômico ilimitado em um planeta finito é uma ilusão do homem em relação aos nossos recursos naturais. É o choque entre um pensamento linear, previsível, da humanidade e os padrões de comportamento não lineares e imprevisíveis da Natureza. 

Em suas obras, Fritjof Capra vem mostrando que a rede global da Terra, altamente não linear,  contém recursos inesperados para regular o equilíbrio do planeta.

Segundo ele, a pandemia deixa claro o perigo contido num incontrolável ponto de desequilíbrio entre a exagerada importância de ganhar dinheiro e o desrespeito aos direitos humanos, à democracia e à proteção ambiental.


Para Capra, esse processo pode ser revertido uma vez que, não decorrendo  das  leis naturais, fica submetido à energia restauradora do planeta.

Considera que o problema não está na evolução explosiva da Tecnologia - mero instrumento do homem - mas na Política que regula os movimentos sociais.

Assinala alguns potentes movimentos independentes que começam a emergir na sociedade global.

 Eles têm por base a busca de respeito e volta à Natureza por parte de comunidades no mundo todo.

Essas comunidades têm em comum princípios e valores sobre economia compartilhada, trabalho comunitário, auto-sustentabilidade, respeito à privacidade, à vida de todos os seres e à do homem em todas as idades.


 Na medida que entendemos nosso compartilhamento não só com as moléculas básicas da vida, mas também com os princípios básicos de organização, comuns a todos os elementos que compõem o mundo, percebemos o quanto fazemos parte do Plano da Terra. Que cuidar do planeta é garantir a sobrevivência da nossa espécie como humanidade.

Daí entendemos as lições da pandemia:

a) Expõe as inúmeras injustiças ecológicas e sociais sempre ocultas por justificativas politicas seguidas de  estratégias das mídias organizadas. Assim a politica social assume um papel de importância mundial através de ações coletivas.

b) Desvenda um cantinho do que seria uma Terra sem o homem. Foi maravilhoso ver como num curto espaço de tempo, a contenção da mobilidade fez a poluição quase desaparecer em vários lugares do mundo. 

Isso renova nossa esperança na capacidade da Terra para se regenerar.

Segundo ele as mudanças de paradigma necessárias já são possíveis tendo em vista a evolução do conhecimento humano e da tecnologia necessária.  

O que falta, então,  é a vontade política de fazer um bom governo e uma conscientização social sobre a Moral dessa politica.


Capra trabalha com a interconectividade entre as  ciências e os conceitos filosóficos para aproximar o homem de sua humanidade.

Como físico teórico se encantou com as implicações humanas da Física Quântica quando considerada segundo uma visão histórica da filosofia taoista.

Mostra que o mundo material não é uma máquina gigante mas uma rede  tecida por padrões de interrelações. 


A partir de 1980, das pesquisas na área das ciências humanas, emergiu um novo conceito de vida como uma energia comum em constante movimento e mutações, que confirma a fundamental interconectividade e interdependência entre todos os fenômenos naturais.

Com base na Física Moderna, Capra  coloca, numa perspectiva holística, a vida no planeta e os fenômenos naturais e aí insere a humanidade e suas ações no ciclo de transformações da vida no planeta.


Finalmente, o discurso de Fritjof Capra coloca o homem diante de seu destino e  aponta o caminho para a Gaia, a Terra Nova. Só não pode escolher por ele! Essa escolha deve ser um ato da Humanidade.



Bibliografia (dentre as obras de Fritjof Capra):h


  1. VISÃO SISTÊMICA DA VIDA: Uma Concepção Unificada e suas Implicações. (Ed. Cultrix - 2014)
  2. AS CONEXÕES OCULTAS: Ciência para uma Vida Sustentável. (Ed. Cultrix - agosto / 2002) 
  3. O PONTO DE MUTAÇÃO: A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente (Ed. Cultrix - jan./1982)
  4. O TAO DA FÍSICA: Uma Análise dos Paralelos  entre a Física Moderna e o Misticismo Oriental (Ed. Cultrix - julho/2011)
  5. A TEIA DA VIDA:  Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos (Ed. Cultrix - 1ªed. abril/ 2012)




 











  




sábado, 25 de julho de 2020

NOVAS FORMAS DE VIVER PARA A LONGEVIDADE

Segundo pesquisas de vários estudiosos, a exemplo da psicóloga Ellen Langer, da Harvard, que esteve há pouco tempo no Brasil, as conexões sociais são o mais importante fator para a saúde e a longevidade do homem atual.
Junto a um grupo de estudiosos, sua pesquisa foi realizada nas “Blue Zones”, os paraísos da longevidade no Planeta, que incluiram comunidades nas seguintes localidades: Ilhas da Sardenha na Itália, arquipélago de Okinawa no Japão, ilha de Icária na Grécia, a península de Nikoya na Costa Rica e a Comunidade Adventista de Loma Linda no condado da California, EUA. Mais tarde foi contatada uma comunidade no vale do rio Hunza, na fronteira da Índia com o Paquistão.

      Foi constatado que o isolamento e a solidão estão entre os maiores problemas enfrentados pela população que envelhece. As maneiras de lidar com esse desafio estão na pauta das organizações que se propõem vislumbrar um futuro melhor em Moradia e Convivência para a longevidade.
A pesquisa de Langer comprova os impactos da qualidade das relações humanas para a saúde e o bem estar do idoso.
Pesquisa da Cohousing USA( Associação das Cohousings dos EUA ) mostra que as pessoas que moram em Cohousing vivem em média 07 anos a mais do que as que moram em outros lugares.

      A Free Aging, em parceria com o SECOVI, trouxe a arquiteta, fundadora e moradora há 20 anos no Pioneer Walley Cohousing (Estados Unidos), Laura Fitch para relatar sua experiencia e abrir novas possibilidades,  no “I Curso de Planejamento e Implantação de Cohousing em São Paulo” no Secovi (Vila Madalena), realizado de 19 a 21 de outubro de 2018.

      É quase inevitável comparar os Cohousings às Moradias, Vivendas e Espaços de Trabalhos Compartilhados que hoje se espalham pelo mundo, a exemplo dos Coliving, Coworking, Repúblicas, Hostels etc. Apesar de filosofias e alguns pensamentos comuns, as práticas apresentam muitas diferenças. O “Manifesto Coliving”, criado pela Coliving Org. resume os principais fundamentos dos movimentos desse tipo:
        . Comunidade em harmonia com a Individualidade.
        . Aproximação de pessoas e troca de experiências.
        . Consumo colaborativo.
        . Compartilhamento de espaços comuns.
        . Economia com o uso de recursos naturais.
        . Divisão de trabalho.
 Todas as bases desses movimentos se aproximam dos ideais de reaproveitamento e economia colaborativa ou solidária que vem ganhando cada vez mais força no mundo.

       O tipo de economia sempre caracterizou a evolução dos grupamentos humanos. Houve três grandes mudanças na vida do homem que definiram a sua economia:
      . A primeira, rural, de troca, quando ele deixa de ser nômade para fixar sua residência e trabalhar a terra.
      . A segunda, trazida pela industrialização, tipicamente urbana, que trouxe de gancho o capitalismo, o individualismo e a competitividade.
       . A terceira, atual, a era da tecnologia quando, com um novo olhar, o homem começa a se voltar para a Natureza,  para o compartilhamento e a economia solidária onde, com a  aproximação especialmente do produtor e consumidor, ambas as partes saem ganhando.

       O tamanho de um grupo de moradores que define uma Vila ou Moradia Compartilhada não pode ser nem muito grande nem muito pequeno. Muito pequeno se perdem as economias dos custos comuns; se muito grandes perde-se a  escala humana em que todos podem se conhecer e se relacionar.

       A Dra. Ana Claudia, medica Geriátrica pela USP, especialista que trabalha no Hospital Albert Einstein com pacientes terminais, aponta 5 arrependimentos que o homem pode sentir no final de sua vida:
       1º) Não ter vivido a sua vida por ter se dedicado à vida dos outros (família, trabalho etc.).
       2º) Não ter demonstrado suficientemente seu afeto. Ter escondido seus sentimentos por vergonha, medo de ser mal entendido, de ser expor. Por não perceber que expor sentimentos impede a amargura de reter as emoções.
       3º) Não ter ficado mais tempo com seus amigos. A família tende a ser cada vez mais disfuncional enquanto os amigos participam de um universo mais compatível com o dos idosos. Eles se aproximam por afinidade, espontaneamente.
       4º) Não ter trabalhado mais no que sempre gostou. O trabalho não deve ser desligado da vida e sim uma expressão de suas vocações e aptidões.
       5º) Não ter aberto sua vida para a felicidade.

      Se levarmos em conta, de um lado os resultados das experiencias no mundo todo com os idosos que residem em moradias compartilhadas ( cohousings,  vilas e ecovilas), com ou sem suas famílias e, de outro lado, os resultados de estudos e pesquisas realizados sobre o processo do envelhecimento, podemos chegar às seguintes conclusões: 
       a) a vida em uma Comunidade Compartilhada só de Idosos, pode proporcionar conexões sociais mais favoráveis à  qualidade de vida da população idosa.
       b) a habitação privativa para o idoso contribui para o respeito à individualidade, à segurança e à auto-identidade do homem no decorrer de todo o processo do seu  envelhecimento;
       c) o trabalho solidário na forma cooperativa dará ao idoso um envelhecimento ativo no sentido de pertencer a uma comunidade, de responsabilidade, de autonomia e de auto-sustentabilidade econômica, recolocando-o, após a aposentadoria, como elemento útil à sociedade.
       d) as conexões culturais com o mundo mostram-lhe que a evolução de sua sabedoria ainda tem muito a contribuir para as inovações do futuro.

      Neste sentido podemos afirmar que uma Moradia planejada para atender esses requisitos, não só dará aos idosos, após a aposentadoria, uma vida com qualidade como resultará em economia para o governo  assim como garantirá a inserção ativa e responsável do idoso na família e na sociedade.
Tal plano deverá ser sustentado por dois conceitos básicos: o de Moradia e o de Trabalho que serão os pilares e o diferencial no planejamento e execução de um Projeto de EcoVila Senior voltado para Idosos a partir dos 60 anos.
   - MORADIA - Não deve ser entendida apenas como o local onde o indivíduo habita       mas o espaço onde realiza regularmente suas atividades de rotina e onde há pessoas e grupos com os quais interage sistematicamente. Fazem parte da Moradia:  a família e o lar, os grupos e ambientes de trabalho, de lazer, de estudos, de esportes e saúde etc.
   - TRABALHO - Deve ser considerado como o conjunto de atividades organizadas e sistematizadas em função de um objetivo desejável a um grupo de indivíduos que o realiza espontaneamente como parte de sua vida. O objetivo poderá ser de economia, de lazer, de cultura, de troca dentre outros, e sua realização deverá ser sempre gratificante e saudável. 


       Quer queiramos ou não, o processo de evolução do homem na Terra, em direção a um envelhecimento longevo e feliz até a finitude, está definido dentro dessas linhas gerais. Apenas compete à geração atual trabalhar para que tal processo caminhe com melhor uso dos conhecimentos e inovações. Está nas mãos das sociedades e dos governos atuais prover para que as boas mudanças ocorram mais ou menos suavemente e de forma cada vez mais inclusiva e menos sofrida.
 
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