quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Nossas Escolhas, Nossos Valores, Nosso Mundo

Certo dia li  uma mensagem  no meu face. O autor se referia a capacidade de Julgar. A maneira como  o tema foi colocado, assim como os comentários - todos pertinentes - que se seguiam, me levaram a pensar na importância das escolhas e julgamentos para a nossa vida.
O autor dizia que devemos julgar sob duas condições: 
- vendo alem das aparências e
- com o objetivo de ajudar a corrigir o erro e não para condenar pelo erro cometido.
Nesse sentido salientava o papel da justiça no resultado do julgamento.
Concluía dizendo que julgarmos e nos deixarmos ser julgados com justiça é o caminho para o crescimento mútuo.
Por fim fundamentava os critérios de tal julgamento na Religião quando  observava  que Jesus disse (Jo, 7:24): "não julgueis segundo a aparência mas julgai segundo a reta justiça".

 Achei que nesse texto havia muitos conceitos de profunda importância colocados sem análise, como se fossem verdades em si próprios, principalmente quando o autor coloca  um dogma religioso como o mais forte alicerce de suas afirmações :"....julgai segundo a reta justiça". 
Isso, de início, já coloca a justiça acima de qualquer sentido lógico e discussão humana. 
Inclui a pressuposição de que, não só a justiça é um fato, mas também que ela pode ser um instrumento a  ser utilizado pelo homem. Supõe que, tendo uma existência própria, ela pode ser encontrada e definida por suas características, independente de quem a pratica.

Ora, para mim o conceito de justiça é uma abstração; é a expressão final de um processo mental intelectual que decorre de escolha e julgamento. Com base nesse julgamento é que haverá uma decisão e uma proposta de ação (justiça) que poderá ser uma punição (castigo) ou uma colaboração (ajuda). Em ambos os casos o objetivo será sempre a correção de um erro cometido.
O processo de detectar e analisar o erro para fazer justiça, assim colocado bem poderia ser simples, reto e,  como o autor quer, conduzir ao crescimento mutuo - do justiçado e do justiceiro . Por que, então, é um dos comportamentos humanos mais difíceis de realizar e aceitar sem discutir

Vejo que, enquanto o resultado de um julgamento (justiça) vai depender das conclusões às quais todos ou a maioria dos envolvidos no julgamento chegarem, a decisão que dela decorrerá estará atrelada aos conceitos e valores morais, éticos e religiosos do ou de cada um dos indivíduos aos quais caberá decidir sobre o castigo e/ou a ajuda; àqueles que melhor corresponderem  à correção da falta cometida.
Acontece, porém, que tais conceitos e  valores são tão individuais quanto o são os indivíduos entre si e por isso sempre haverá dúvida quanto à aplicação da justiça em cada caso.
Essa é uma das  razões pelas quais a ação da justiça sempre leva em conta - pelo menos em teoria - todos ou a maioria dos julgamentos. Isto significa que a a ação da justiça  não será mais do que a do poder de convencimento  de uns indivíduos sobre outros e, assim mesmo,  com base em diferentes conceitos de valores. 

Lembramos ainda que os conceitos -  e os valores deles decorrentes  - sempre poderão sofrer, no mesmo indivíduo, mudanças no tempo e no espaço. Por exemplo, quem é a favor da pena de morte pode ter por base diferentes conceitos e valores: porque ela "corta o mal pela raiz"; é menos trabalhoso e econômico do que cuidar do criminoso numa cadeia; é caridoso pois impede sofrimentos do culpado com outros tipos de castigos; impede que o mal atinja vítimas futuras ou simplesmente porque não crê na reabilitação social do criminoso! 
Algum tempo depois, o mesmo indivíduo que julgou poderá modificar seus conceitos sob a influência de suas experiências de vida.
Assim, o resultado de um julgamento será sempre discutível, isto é, sempre poderá ser  passível de discussão como todas e quaisquer formas do comportamento humano nas relações interpessoais. 

Entretanto, escolher, julgar, decidir e agir são procedimentos tão importantes à vida que existem e acompanham passo a passo o desenvolvimento do homem desde o nascimento. O próprio ato infantil de aceitar ou rejeitar um alimento pode decorrer de uma escolha que está ligada a um julgamento incipiente - o instinto. Por fim, a escolha de um dado procedimento pode modificar um futuro e até mesmo ser a diferença entre perder ou não uma vida. Por exemplo o caso do indivíduo que decidiu ser mais importante comparecer a uma entrevista do que voltar mais cedo para casa; o ônibus em que ia embarcar sofreu um acidente do qual, por sua escolha e julgamento ele se livrou.

A capacidade de fazer escolhas vai se desenvolvendo e sofisticando no homem por força  de  elementos do ambiente, da educação e da inteligência. Na convivência com os outros  o homem desenvolve, para base de seus julgamentos, valores sociais considerados desejáveis sendo o mais sofisticado - critério para examinar os demais - a RESPONSABILIDADE.  A responsabilidade que uma pessoa tem em relação aos seus julgamentos e atos para com sua  própria vida e a de outros é que vai pautar a ação que lhe compete com base nos elementos e valores de que dispõe. 
A responsabilidade pode levar a situações de conflito entre os valores e as ações deles decorrentes. Por  exemplo, a pena de morte pode ser julgada justa e reta diante de um crime cometido, mas pode também ir contra os princípios e valores humanitários de quem deve julgar. Um juiz pode sentir-se intimamente violentado e angustiado por decretar uma pena de morte embora saiba que está fazendo justiça.

 De outro lado, escolhas, julgamentos e decisões podem levar à superações, conquistas e realizações. As maiores vitórias da humanidade em todos os campos das ciências, das artes e da comunicação são resultados da curiosidade inata ao homem que o  leva a procurar, aceitar ou recusar , julgar e transformar o que em sucessivos desafios a mente e o mundo lhe apresentam.

Se pensarmos em todo tipo de comportamento humano em todas as situações de vida, entenderemos  que a capacidade de fazer escolhas, julgar, decidir e agir é o que torna a vida ao mesmo tempo tão rica quanto complexa pois leva ao crescimento.

A capacidade humana de ESCOLHER e JULGAR com base nos elementos de cada situação, face aos seus valores deverá conduzir ao aperfeiçoamento desses mesmos valores frente a sua própria vida, a de outros seres vivos, abrangendo, enfim, o mundo em que o homem habita.
A capacidade de DECIDIR e AGIR  envolve a Responsabilidade, isto é, depende de valores e julgamentos que cada um acredita justos e de consenso ou seja, do julgamento de outras pessoas sempre que a decisão envolva situações de vida e/ou a liberdade de alguém.
Podemos dizer, então, que a capacidade de JULGAR é individual e natural por ser necessária ao desenvolvimento do ser humano enquanto a AÇÃO dela decorrente deve ser determinada  por valores, não só individuais mas também sociais, porque sempre irá se refletir, não só na sua própria vida como na vida de outra ou de muitas pessoas e no mundo em que vivem.
 
As consequências sociais de uma ação julgada correta (justa) sempre serão atribuídas à responsabilidade de quem por fim a decretou.
Por isso um juiz se apoia num corpo de jurados, os pais buscam reforço para educar seus filhos nos valores familiares e sociais, os jovens fortalecem suas ações com os valores e julgamentos dos amigos, etc. Os valores do grupo sempre diminuem a responsabilidade de quem decreta o ato pretensamente justo.

O dogma religioso seria, então, a forma mais perfeita de isentar de responsabilidade o ou os indivíduos aos quais couber fazer justiça, passando-a para as mãos DAQUELE QUE TUDO SABE E TUDO VÊ.  
Por isso é tão importante, por exemplo, que a maior autoridade de uma Igreja não se apoie apenas em dogmas mas mostre a sua capacidade humana de julgar e decidir mediante valores pessoais e sociais, morais e éticos alem de religiosos. Exemplo disso é a admiração despertada  pela pessoa, pelo trabalho assim como pelas mensagens que o nosso atual papa Francisco dirige ao povo em todos os lugares do mundo onde tem ido.
Enfim, vemos que também a Orientação Divina e a justiça dela decorrente - por depender do homem -  pode variar em diferentes épocas e lugares, de oriente à ocidente, de norte à sul. 
 Por força de um dogma religioso, um povo pode considerar crime gravíssimo e decretar a amputação do dedo mindinho como o primeiro castigo por roubar assim como a decapitação por divergência de idéias políticas ou religiosas. Para outro povo esses crimes podem não passar de simples enganos ou direitos do homem livre.

Não só nesses  mas em vários outros aspectos da vida humana, vemos que as consequências de certos julgamentos e ações podem adquirir grande importância. Hoje, cada vez mais o homem está sendo colocado diante de novos desafios para enfrentar graves ameaças tanto a sua sobrevivência quanto a da própria Terra.
Já começaram a surgir teorias e discussões  em torno de novos conceitos tais como Eco-sistema, Ambientalismo, Clima Planetário,  etc. e suas implicações na vida dos seres que habitam a Terra.

É preciso, portanto, alertar sobre o fato de que, ao lado do extrema importância  da prática da liberdade de escolher, estabelecer valores e agir como um direito de conquistar uma vida cada vez mais confortável,  corre o perigo dos julgamentos e ações levianas, sem  suficientes  bases científicas, sociais, morais e éticas. E as suas consequências  não só podem como já estão afetando tanto a espécie humana e os demais seres como o próprio planeta onde vivem.
As catástrofes ambientais decorrentes das ações predatórias do homem contra a Natureza são sinais de alerta sobre esses  perigos. Talvez pelas ameaças ao conforto que a Terra sempre lhe ofereceu ou porque chegou o momento em que o homem cresceu o suficiente para compreender as implicações vitais dos desequilíbrios provocados na harmonia das interações Homem-Mundo, ou ainda em decorrência de ambos, o fato é que o homem está acordando para uma nova realidade e seu maior desafio.

Na perspectiva da realidade atual o nosso planeta  já não cabe mais no conceito de propriedade do homem. Os acontecimentos estão mostrando que os seres humanos devem começar a perceber a Terra como um planeta vivo, capaz de reagir e se defender das suas ações destrutivas.  Podemos afirmar que uma das razões de o homem não ter percebido mais cedo esse perigo que vinha se alastrando era não ter ainda crescido o suficiente  para avaliar e julgar mudanças que ocorriam em câmera muito lenta diante de seu tempo de vida.
Hoje estudiosos e cientistas pesquisam para descobrir o que fazer pela vida humana diante dessa nova realidade e de um novo conceito das relações Homem-Mundo como um organismo vivo e interligado. 

Apoiado em vários trabalhos científicos James Lovelock, expõe uma teoria sobre o planeta Terra que ele denomina GAIA, com o  significado de Planeta Vivo. 
Procura mostrar que o homem já está ultrapassando (ou já ultrapassou) o ponto em que poderia reverter o processo de destruição da vida ( nas condições que conhecemos) na Terra.
Para ele a Terra não se auto-destruirá mas se adaptará sem considerar a destruição dos seres vivos que nela habitam. Não seria mais o caso de tentar reverter o mundo às antigas condições de uma Terra a Serviço do Homem  mas sim de encontrar meios de Cuidar da Terra e Modificar  seus Valores para Preservar a Vida dos Seres que nela habitam.

E assim chegamos, não a um julgamento conclusivo mas a uma pergunta cuja resposta pode conter uma solução:
É possível hoje,  a capacidade intelectual do homem julgar, encontrar e aplicar com justiça para com todas as formas de vida, uma SENTENÇA CORRETIVA PARA O HOMEM SALVAR A SUA VIDA PELA RENOVAÇÃO DE SEUS CONCEITOS E VALORES  ASSIM COMO DAS CONDIÇÕES DA TERRA?
 


 
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