sábado, 22 de setembro de 2012

Querer é Poder?

Minha experiência de vida me mostrou que é muito importante entender claramente o significado de certos conceitos, pois eles têm o poder de determinar nosso comportamento presente e futuro. Por exemplo:

O "querer" envolve escolha, julgamento, decisão, um ato de vontade.
O "desejar" contém um componente emocional, a expectativa de uma satisfação, de uma experiência agradável, do gostar.
O "precisar" conduz à busca da resposta a uma necessidade, a uma carência, ao preenchimento de uma falta, de uma ausência.
O "dever" inclui uma obrigação imposta ou auto-imposta de fazer algo.

No decorrer de toda nossa vida queremos, desejamos e precisamos de coisas e pessoas, ou, ainda, pensamos ser nosso dever fazer algo. São conceitos que definem as forças motivadoras para vivermos.
Aprender a analisar esses conceitos nos permite compreender a natureza dos fatores que nos levam a decidir sobre as mais variadas formas de comportamento, pois eles podem determinar o caráter de um indivíduo, sua personalidade e, em última análise, seu futuro.

A primeira forma - o querer - constitui o resultado das duas seguintes, o desejar e o precisar. Eu desejo porque eu preciso, então eu quero. O querer envolve a consciência e a decisão para se fazer certa coisa embora nem sempre se goste, não se fique satisfeito ou ainda pode acontecer que se sofra com isso. Eu posso deixar de fazer um passeio porque minha mãe está doente e, embora não fique satisfeito com isso, é uma decisão que eu tomei. Às vezes pode até não haver necessidade, mas eu decidi e quero fazer tal coisa. Neste caso a necessidade é criada por alguma circunstância externa. Ela não é natural mas auto- imposta.
Um caso clássico de decisão por necessidade imposta é a do filho que escolhe uma profissão por influência do pai. É o exemplo do filho que estuda medicina porque o pai sempre quis ser médico. Também observamos a pressão, as vezes involuntária, da família (por exemplo de militares) para que os filhos sigam a mesma carreira.

Em todos esses casos citados a decisão foi tomada sem a consideração de dois fatores importantes para o futuro do jovem: a vocação e a aptidão exigidas para a harmonia do indivíduo e sua atividade futura. O jovem pode gostar (ter vocação) ou ser levado a gostar de uma profissão mas não ter a aptidão necessária ao seu bom desempenho. Ele será sempre medíocre e infeliz a não ser que encontre uma atividade na mesma área para a qual tenha aptidão (capacidade). É um exemplo deste caso o do indivíduo que gosta e entende tudo de futebol mas não tem a habilidade necessária para ser um bom jogador. Entretanto ele poderá se um ótimo juiz ou técnico. Mas nem todo bom jogador será um bom técnico, assim como um bom técnico nem sempre precisa ser ou ter sido um bom jogador.

Por razões dessa natureza é que nos cursos profissionalizantes existe um período de prática, estágio ou experimentação no final dos estudos, a fim de que os futuros profissionais se familiarizem com o seu trabalho. A meu ver isso é um grande erro. É com a demonstração, a experimentação e a participação que o aluno pode avaliar e julgar sua vocação e aptidão. Então, esse período não deverá ocorrer no final do curso mas sim no início, para o aluno ter condições de julgar e redefinir sua opção de estudo e profissão. A frequencia das mudanças que ocorrem nas primeiras etapas desses cursos profissionalizantes demonstram cabalmente a procedência desta afirmação.

Saber discernir as coisas, entender quando se deve fazer algo, seja atuando, recebendo ou simplesmente deixando acontecer (observando), é importante para se poder controlar os resultados ou consequências de uma ação. Para que se possa tomar sempre a melhor decisão é necessário o conhecimento e a análise do maior número possível dos fatores envolvidos na situação.

Estamos continuamente fazendo julgamentos e escolhas em nosso dia a dia. Entretanto, uma decisão é um ato muito complexo ligado a uma multiplicidade de fatores mentais que decorrem de experiências passadas, de situações do momento e de previsões futuras. Daí o valor da experiência na tomada de decisões, o que explica a importância da idade dos membros de "Conselhos " principalmente em épocas anteriores. No entanto, com a modernidade, as mudanças aceleradas e o acesso cada vez mais fácil e rápido às informações, o peso da palavra dos idosos parece não só diminuir como se tornar inócuo ou ridículo perante a importância de certas decisões. Assim, vemos que, enquanto a criança não tem suficiente experiência de vida para tomar decisões satisfatórias nas situações que se apresentam, as decisões que os idosos propõem não são consideradas satisfatórias por ultrapassadas.

Este é um exemplo de conclusão falsa pela desconsideração de um fator, o sensato julgamento da capacidade intelectual do idoso. Se ele for mentalmente são e tiver o domínio dos mesmos recursos tecnológicos tão familiares aos jovens, imagine a força de sua capacidade de opinar considerando-se sua experiência acrescida das informações disponíveis! Não é pois, para se jogar fora como inúteis as opiniões e os julgamentos dos nossos pais e avós, pois a natureza das diferentes situações e problemas da vida, se retirarmos as variações circunstanciais da época e do momento, é basicamente a mesma, quase cíclica.

É possível, portanto, os pais se apoiarem em certos parâmetros para tomarem decisões a respeito de suas atitudes em relação aos problemas com seus filhos pela análise cuidadosa dos fatores ( forças motivadoras) envolvidos nas situações. Tais parâmetros podem incluir ajuda especializada, pesquisas de casos, conselho de família, ou apenas apoio moral através de diálogo. Uma das medidas mais importantes seria ajudar o filho a aprender a tomar suas próprias decisões pela análise da situação. Isto seria o "não dar o peixe mas ensinar a pescar", algo que ficará com ele pelo resto de sua vida.

Quando o jovem aprender a analisar dessa maneira todas as situações que envolvem problemas de difícil decisão, ele estará mais apto para enfrentar os desafios da vida. Sua personalidade e caráter "amadurecem" mais rapidamente, crescendo em sua capacidade de decisão com maior probabilidade de ser um vencedor nas competições do dia a dia. Ele aprenderá a querer e desejar o que lhe trará benefícios não somente materiais, mas também morais e éticos, capazes de torná-lo respeitado não no pódio do sucesso discutível mas da confiança . Aprenderá a desejar o que possa alcançar com sua própria capacidade e a respeitar os direitos dos outros ( sem usá-los como escada). Aprenderá a fazer respeitar os seus direitos para isso impondo-se objetivos e deveres. Enfim, aprenderá a julgar e decidir com responsabilidade.

Apesar de parecer difícil, tais normas constituem uma filosofia de vida muito satisfatória por trazerem alegria, paz, respeito e amor da e pela família, pelos amigos , por si próprio e pela vida em geral.
 
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