terça-feira, 3 de março de 2015

A vida que Merecemos

Hoje vemos que uma  parte cada vez maior da população humana começa a tomar consciência e se preocupar não só com a qualidade mas com a continuidade da vida na Terra.
Tanto para cientistas, ambientalistas, filósofos e religiosos como para o trabalhador comum e sua família, as consequências funestas de desastres ecológicos, novas doenças e epidemias, greves, violências entre países e crimes em comunidades, estão fazendo surgir perguntas que exigem respostas urgentes.  

Perdido entre receios e dúvidas, o homem pensa: 
Poderá ser a multiplicação do ser humano na Terra uma razão para o valor da vida estar tão baixo?
Por que mudanças climáticas nunca vistas ocorrem cada vez mais violentas e com maior frequência?
É a Terra mandando seu recado, dando um basta nas ações predatórias do homem?
Será possível encontrar as causas e definir as probabilidades de estabilizar e/ou reverter esse processo?
As buscas de respostas deverão  se concentrar no homem, no mundo ou na interação dos dois?

Muitos se perguntam o que deverão fazer porque temem a aproximação da crescente onda de ameaças da natureza e da sociedade que aumentam os problemas de sobrevivência dos habitantes em muitas regiões da terra.

 Um bom começo para enfrentar o problema seria não somente se  conscientizar da gravidade  dos fatos, mas cada um analisar  seu comportamento em relação ao dos seus semelhantes e a sua convivência com os demais seres vivos e com a natureza que o rodeia.
Por exemplo, como você se comporta diante de torcedores do time rival numa competição esportiva? Qual é sua atitude quando uma lei ou norma social a ou o impede de tomar uma iniciativa prazeirosa ou de retaliação num dado momento?  Ou, ainda, você se preocupa em analisar os valore contidos em situações tais como a da família  homossexual,  de preconceitos raciais, de distribuição de renda, do sacrifício ou da matança gratuita de animais etc., antes de julga-las? Você aprecia conhecer fatos e histórias sobre a vida no seu planeta? Você costuma estabelecer relação entre sua saúde e os incentivos de consumo que lhe são oferecidos através da propaganda e da mídia?

Ninguém pode negar que dependemos do nosso planeta para viver. Ele é que nos fornece alimento, água e ar. Sem ele o homem não desenvolveria as experiências que marcam suas histórias de vida.  Então precisamos verificar a situação desses recursos diante das necessidades da população mundial  e que mudanças eles vêm  sofrendo  em termos de quantidade e qualidade.
Em seguida devemos analisar os procedimentos que têm sido usados para obter da terra o que precisamos e desejamos.  Se e quando o homem se preocupou em repor, com a mesma qualidade, o que  continuamente a terra lhe tem fornecido.  Afinal, cuidar do planeta em que vivemos é cuidar de nossa própria vida. 

Importante é lembrar, ainda, que cada um dos elementos que compõem o nosso mundo ocupa um lugar definido e exerce uma função na extensa cadeia alimentar - deveríamos chamar  de intersustentação -  que define suas características. Apenas um, o homem, parece não reconhecer sua função e lugar. A sua inteligência, voltada para a satisfação de necessidades muitas vezes criadas e nele inculcadas, cada vez mais prementes e diversificadas, o tem levado a introduzir mudanças em vários elementos dessa cadeia. Por exemplo, a sua interferência na composição genética de animais e vegetais dos quais depende para a alimentação, trabalho e lazer, pode levar a resultados negativos ao seu próprio organismo e comportamento. Do mesmo modo, a emissão cada vez maior de gases deletérios na  atmosfera a vai tornando nociva para o homem. Esses são alguns exemplos de comportamentos  inadequados a uma interrelação saudável com o ambiente.

A falsa presunção de que o planeta terra existe para servir ao homem tem levado à suposição de que ao se acabarem os recursos de que os seres precisam  para viver, a terra estará extinta. Perigoso engano! Ao contrário, ela irá responder modificando-se para se adequar a um novo ciclo de vida diferente. O mundo se transformará, no caso de a espécie humana - a exemplo dos dinossauros - encontrar a sua era do gelo... do calor...ou de ambos...sei lá! Só o futuro o dirá!

Fica, então, bem claro que o  homem não tem uma existência independente do mundo, mas uma coexistência com ele.
Ele coexiste com o seu ambiente e, dentro dele com seus semelhantes, com os outros seres vivos - animais e vegetais - e com a própria terra.
Portanto, se as relações não vão bem entre a vida do homem e as condições da terra devemos buscar as respostas no comportamento do homem. Ele deverá mudar sua interação com o mundo a fim de que ambos possam readquirir uma boa convivência.

Para encontrar o que e por que estão ocorrendo erros na relação homem-mundo, é preciso, então, ter sempre em mente estas afirmações básicas: 
- O comportamento humano é o produto das interrelações do homem com seu ambiente (seus semelhantes, os demais seres vivos, as condições físicas do ambiente).
- O comportamento ambiental é o produto das interrelações entre os seres animados e inanimados que o compõem.

O mundo evolui quando as mudanças nos diferentes ambientes o levam em direção ao equilíbrio e harmonia entre ele e os seres que nele habitam.
O homem evolui quando as mudanças em seu comportamento e as do seu ambiente levam ao aumento do equilíbrio e harmonia da sua relação consigo próprio, com os outros homens e com o mundo. 
Concluímos, então, que o grau de equilíbrio e harmonia - evolução - da vida humana está atrelada ao grau de  equilíbrio e harmonia das interrelações homem-ambiente-mundo.

Um olhar à história  do homem na terra nos permite ver que as mudanças decorrentes  dessas relações de interdependência não têm ocorrido de forma ordenada e gradual mas aos saltos e de forma variada nas diferentes regiões e até mesmo entre habitantes de uma mesma região.

Não há parâmetros para quantificar os graus da evolução humana porque não há definição objetiva das características de seu início, meio e fim. É necessário, então, qualificar, em termos de ações e suas consequências, as interações que têm levado ou não ao equilíbrio e à harmonia dos homens entre si, com seu  ambiente e o mundo.

 A comparação das diferentes e variadas maneiras que os povos se desenvolveram pode assinalar etapas qualitativas no processo de sua evolução, mas se desconsiderarmos  o conjunto,  nenhuma etnia sozinha pode indicar uma etapa definida de desenvolvimento de seu povo.
 Esse processo irregular de avanço em alguns aspectos e, por vezes, estagnação em outros, que só pode ser assinalado a partir da comparação das  formas de comportamento dos povos entre si, também pode fornecer dados para indicar aspectos  no desenvolvimento de um mesmo povo num determinado tempo e espaço (a exemplo das consequências mundiais e locais do preconceito racial germânico em uma dada época).

Até hoje, toda tentativa de alcançar o pleno desenvolvimento do ser humano a partir de uma só etnia ou "raça pura" tem levado  ao fracasso e ao desenvolvimento de traços comportamentais rígidos, pré-fixados e até mesmo indesejáveis que bloqueiam a busca do equilíbrio e harmonia  entre os homens e entre estes e o mundo. Exemplos desse tipo de comportamento podem ser encontrados em várias épocas na história do homem.

De outro lado a observação da evolução do ser humano em geral, tem mostrado que certos  grupos de etnia diversificada parecem ter alcançado -  em alguns aspectos do viver - um grau mais elevado de comportamento individual e social na busca da sua evolução em harmonia com o seu ambiente e o mundo.

A observação desses grupos, ainda que superficial,  parece indicar que os indivíduos que os compõem se destacam por alguns padrões comuns de comportamento, a saber: 
- a  reflexão, a afetividade, a comunhão e o compartilhamento, expressos através de cultos, ideais, crenças e filosofias de vida; 
- os indivíduos que compõem esses grupos podem ser, e na sua grande maioria o são, de                      
várias etnias e procedências. São exemplos desse tipo de comportamento alguns cultos e filosofias orientais, certas doutrinas  espiritualistas, a medicina tradicional chinesa, o ambientalismo, a antroposofia e algumas formas de expressão social tais como, dentre outras, a organização não governamental Greenpeace, as associações não governamentais de trabalho voluntário ONGs, a democracia ocidental suíça e a forma social comunitária da tribo da Guiné.
Considerados em certos aspectos relevantes, os comportamentos desses grupos humanos tem demonstrado um avanço considerável na sua coexistência com os elementos de seu ambiente e do mundo.

Se o que buscamos é encontrar as forças que podem bloquear ou acelerar a evolução global do homem com o homem e o mundo em que vive, poderíamos sugerir o seguinte roteiro: 
Em primeiro lugar propor estudos comparativos dos aspectos da vida humana em sua interação com o ambiente, que têm evoluído nesses grupos.
Em segundo lugar buscar nos resultados desses estudos algumas respostas em termos de idéias e consequentes comportamentos, capazes de descobrir e interferir nas forças que bloqueiam ou aceleram essa evolução. 
Por último, analisar essas idéias e comportamentos frente aos resultados dos estudos e pesquisas sobre a evolução das condições existentes em nosso planeta em relação às necessidades vitais da espécie humana no momento.
James Lovelock, um dos cientistas vivos mais influentes no campo dos estudos das mudanças climáticas na terra introduziu o conceito de Gaia - a idéia de que a biosfera da terra se comporta como se fosse um organismo único.  ( Lovelock, J., 1919. Trad. Gaia: alerta final - Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010 ).
Segundo a sua teoria,  talvez nossa civilização possa fazer uma passagem sem dramas para um futuro onde a biodiversidade e a mudança climática já empobreceram o ecossistema a um ponto quase inóspito para os seres humanos.
 Mas isso irá depender de medidas governamentais urgentes e decisivas e de campanhas sustentadas que consigam transformar atitudes coletivas e estilos de vida. Tais medidas envolverão valores que o homem estabelece nas suas relações consigo mesmo e com a comunidade; com os seres vivos em geral e com o mundo que habita.

E, finalmente, devemos aguardar com fé em nosso Criador que nós, humanos, tendo mudado nossos valores e, consequentemente, nossos comportamentos, a Terra  nos aceite novamente como seus  parceiros no Universo.


Quando eu mudo, o mundo se transforma....
 
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