quarta-feira, 14 de outubro de 2015

TAI-CHI-CHUAN - A NATUREZA E AS LINHAS DO VIVER

Tai Chi Chuan, três palavrinhas cheias de mistério para os ocidentais e muito respeitadas pelos orientais. No mundo ocidental muitos já ouviram falar sobre o Tai Chi Chuan, poucos conhecem a sua prática e menos ainda o praticam com compreensão. Entretanto cada vez mais indivíduos buscam conhecer a sua importância para a vida do homem com o homem no mundo.

O Tai Chi Chuan é considerado uma arte taoista porque sua filosofia e prática derivam do Tao Te King de Lao Tsê, o mais representativo e autorizado nos ensinamentos taoistas.( o "livro completo do Tai Chi Chuan", escrito por Wong Kiew Kit é um manual pormenorizado de seus princípios e práticas). 
Lao-Tsê (velho sábio em chinês) é considerado o criador do taoismo. Foi ele o elo de ligação entre o animismo e a magia pré-histórica e as bases da crença religiosa que na China foi chamado TAO ( "Tau Te King"; Lao Tsê; Hemus ed.)

A teoria mais popular sobre a origem do Tai Chi Chuan cabe ao sacerdote taoista Zhang San Feng que viveu no sec.XIII. Depois de se formar no conhecido Mosteiro Shaolin continuou a praticar artes marciais e o desenvolvimento espiritual.
Um dia Zhang San Feng testemunhou uma luta entre uma serpente e um grou o que o inspirou a modificar o seu Kung-Fu Shaolin para um estilo mais suave que passou a ser conhecido como Os 32 Estilos do Wudang do Punho Longo. Este mais tarde desenvolveu-se no Tai Chi Chuan.
Zhang San Feng foi o primeiro mestre a descartar os métodos de treinamento exterior e estimular os métodos interiores como o controle da respiração, o fluxo do "Chi" e a visualização. Por isso ficou conhecido como o primeiro patriarca do Kung-Fu Interior, arte que abrange o Tai Chi Chuan, o Kung-Fu  Pakuá e o Kung- Fu Hsing Y. 

TAI significa muito grande, mundo, UNIVERSO.
CHI pode ser entendido como sopro, força interior,  movimento, ENERGIA
CHUAN tem seu significado dado por uma simbologia: o homem entre o céu e a terra na dualidade de sua constituição mente e corpo e na bipolaridade de sua energia, (bem-mal, alegria-tristeza, luz-trevas, etc.). É representado pelas energias do YIN e YANG (cheio e vazio). 

Este símbolo parece resumir o conjunto de conceitos contidos no Tai Chi Chuan:
- A dualidade da energia que compõe a matéria e o conhecimento  do homem: alto-baixo, magro-gordo, claro-escuro, noite-dia, bem-mal, triste-alegre, longo-curto, etc.
- A sua complementaridade pois um não pode existir sem o outro, um contém o outro.
- A mudança (aceleração e direção) na medida que o gordo pode emagrecer e vice-versa, a noite caminha para o dia e vice-versa, o que é bem (ou bom) pode se transformar em mal (ou o mau) e assim por diante.                                               
Finalmente, o sentido de cheio (da metade branca, Yang) e de vazio (da metade preta, Yin) na composição dual de todas as coisas. 
Exemplo interessante disso encontramos  na escala das cores.
O branco é o conjunto de todas as cores. Se colorirmos um círculo dividido em partes iguais com as cores dos raios solares que vemos no  arco-íris e o girarmos rapidamente, à nossos olhos ele se tornará branco.
Constituído por todas as cores, o branco não absorve os raios solares  e, porque já os contém, os reflete. Por isso os tecidos brancos são menos quentes ou mais frescos do que seu oposto, o preto que, por ser a ausência de todas as cores absorve todos os raios solares e aquece.

Ao longo do tempo, respeitando seus movimentos básicos e princípios, vários estudiosos vêm introduzindo mudanças nos movimentos do Tai Chi Chuan, o que deu origem a determinadas linhas ou estilos nessa prática. Em todas as linhagens o Tai Chi resulta  da observação dos movimentos da Terra e  da Natureza, dos seres que nela vivem e das atividades ou trabalho do próprio homem no campo e na cidade. 
A base comum a todas as modalidades da pratica está nas Artes Marciais entendidas  como movimentos  orientados para a harmonia e equilíbrio do corpo e da mente, assim como para a garantia da sobrevivência quando esta exige a defesa contra um perigo ou ataque iminente.

O Tai Chi Chuan vê o homem como um dos elementos do Universo em movimento. A parte do Universo que ele habita -o Planeta Terra -  é, então, uma  estrutura composta de elementos constituídos de partículas de energia as quais, interligadas, compõem o planeta em movimento - uma Unidade Global Viva - capaz de produzir  e sofrer mudanças. A Física nos mostra que numa partícula, o movimento ocorre segundo um processo contínuo de aceleração e lentidão (ascenção) e a mudança em quantidade e qualidade (direção) segundo um deslocamento bipolar que vai do menos para o mais e volta do mais para o menos e vice-versa.
Por essa razão encontramos na dualidade da composição do Universo - e na do homem como um de seus elementos  - esse movimento bipolar. Nascer-morrer, construir-destruir, iluminar-escurecer, embelezar-enfeiar, crescer-diminuir, etc. Todos  referidos à percepção humana. 
Daí a importância da percepção, consciência, referência e valor na vida humana. De acordo com seu ciclo de vida, dado por seu movimento no universo, o homem assinala em si próprio e no mundo, graus de movimento e mudança em termos de Tempo e, de acordo com os valores atribuídos a eles, emite julgamentos e toma decisões sobre os que deve retardar, acelerar, modificar, explorar, destruir, etc. A isso chamamos Aprendizagem, isto é, o desenvolvimento da capacidade consciente de julgar e introduzir mudanças em si próprio e no mundo.

O Tai Chi Chuan é, portanto, uma Prática Física  e Mental mas, na medida que seus julgamentos e objetivos deverão seguir princípios éticos universais dados pela observação da natureza e do mundo, é também uma Filosofia de Vida.  
Se de um lado é possível ao homem observar e compreender o equilíbrio e a harmonia existentes nos movimentos e mudanças que ocorrem nos seres e elementos do planeta que habita, de outro lado ficam patentes os resultados da sua ação predatória que vêm trazendo desequilíbrio e desarmonia na Natureza e no Mundo.

 Com base na observação do Mundo e da Natureza o Tai Chi procura levar o homem a aprender uma nova forma de interagir consigo próprio, com os demais seres e o mundo . A observação do Mundo e da Natureza deverá ensina-lo a controlar sua energia interna e externa para encontrar sua posição na cadeia dos elementos   que movimentam o Planeta Terra.
Talvez por ser o único ser dotado de Consciência alem de Inteligência, apenas o homem pode e deve aprender para cumprir a sua missão de elo de ligação entre os vários elementos e formas de vida que constituem o planeta, interagindo assim com o mundo no sentido da sua evolução. (No homem se encontram o Céu e a Terra, segundo a filosofia Taoista).
Porque no Planeta Terra, O HOMEM É O ÚNICO SER CAPAZ DE MODIFICAR CONSCIENTEMENTE A SI PRÓPRIO E O MUNDO ONDE VIVE.

O objetivo do Tai Chi, enquanto Filosofia é a busca do Equilíbrio  e Harmonia do homem,  consigo próprio na sua dualidade mente-corpo e com o mundo, o Planeta TERRA.
Uma Pedagogia da educação para encontrar  esse equilíbrio e harmonia ele pode encontrar no estudo dos padrões de comportamento das espécies e elementos que compõem o seu mundo.
Por exemplo, da descoberta na Física, da interação energética entre as partículas que formam o mundo e o tornam uma  Unidade Global, decorrem  os conceitos das relações entre as mudanças que ocorrem nas condições da natureza, ar, terra, água, fogo, metais e as que ocorrem no organismo das espécies. Das mudanças na natureza decorrem, por exemplo, as características das Estações: Primavera, Verão, Outono e Inverno e as relações entre as mudanças de estação e certas alterações na saúde  do organismo humano. 

 Os estudos científicos cada vez mais apurados com os recursos da tecnologia avançada ( a Física Quântica, por exemplo ), fundamentam uma tendência moderna para considerar a energia que movimenta todos os elementos do Universo (desde as mais complexas de dimensão planetária às mais simples e microscópicas como a dos espermatozoides), decorrente de uma energia conjunta, uma Unidade Cósmica. Por essa razão mudanças isoladas introduzidas num todo que é interligado numa Unidade Global pode e tem levado a consequências inesperadas e/ou não desejadas (a exemplo da relação entre certas ações do homem, as mudanças climáticas e os inesperados e indesejados desastres ecológicos).
Segundo essa teoria toda partícula de energia tem origem nessa Unidade e para ela volta. (A Rev.Bras.de ensino da Física",vol.35 no.1, S.P. jan/mar 2013, aborda o estudo dos raios cósmicos, mini-buracos negros, enfim, a energia armazenada em diferentes formas e modelos das partículas elementares)

A observação dos padrões dos movimentos e mudanças na natureza, assim como dos padrões de  comportamento observados nos  seres que nela habitam,  possibilitaram a proposta dos movimentos que compõem as atividades físicas e mentais do Tai Chi Chuan, visando o equilíbrio e a harmonia do organismo e mente do homem na sua relação consigo próprio, com os outros seres e com a Natureza.

Generalizando, podemos dizer que foram os estudos modernos realizados tanto no campo da Física e Química quanto no da Biologia  e da Psicologia Clínica que  chegaram a duas conclusões muito  importantes para a fundamentação científica do Tai Chi.
 A primeira é a de que nada no Universo é estático. Tudo se move continuamente em diferentes direções e graus de aceleração. O que pensamos ser estático, na verdade tem movimentos e direções que nos passam  desapercebidos ( acontece quando olhamos uma ave dormindo sobre uma perna só, a postura de um animal acuando a  presa, uma pessoa em meditação ).
A segunda conclusão aceita em qualquer campo de estudo e que complementa a primeira citada é a de que  toda partícula ou forma em expansão, tem um movimento helicoidal que se desenvolve de forma ascendente segundo uma espiral . Os lentos movimento de vai e vem quando tentamos permanecer parados, os deslocamentos  laterais de um trem ao começar a desenvolver velocidade,  são exemplos de movimentos helicoidais (de direção).  Quanto  maior for a velocidade de um trem no seu movimento espiral ascendente (de aceleração) menor será seu deslocamento lateral.  Um  avião precisa acelerar até uma certa velocidade para levantar vôo. Daí a dificuldade crescente para um motorista mudar a direção e desviar seu carro de um obstáculo quanto maior for sua  velocidade.  Também significa que ao caminhar, uma pessoa adquire mais equilíbrio do que parada sem apoio por longo tempo. Tanto maior será a dificuldade para manter o equilíbrio quanto menor for o controle das oscilações do corpo e vice-versa.
Aplicados em movimentos do Tai Chi Chuan, princípios decorrentes dessas observações  podem melhorar o equilíbrio, controlar movimentos e, numa luta, fazer a diferença entre o fracasso e a vitória.

Esses princípios, aqui expostos de maneira muito ampla e geral, podem conter as explicações cientificas para o que a milenar medicina oriental chinesa já encontrara pela observação da Natureza e dos trabalhos do homem no campo, nas fábricas e indústrias. Por exemplo, que um movimento repetido por tempo além da energia disponível, quebra o equilíbrio e a harmonia necessários a saúde do organismo como um todo e provoca o desequilíbrio no conjunto das funções  inclusive as  psicológicas no indivíduo que o praticou. É exemplo disso a  famosa lesão por esforço repetitivo ( L.E.R.) que provocava moléstias observadas entre os operários. Observaram que com a introdução de certas mudanças nos movimentos a intervalos regulares ocorria o fortalecimento e menor desgaste do organismo com consequente aumento da saúde -física e mental - e de rendimento no trabalho ( exemplo disso são os exercícios das "dobras" no Tai Chi Chuan praticadas a certos intervalos pelos operários em grandes indústrias na China.
 A mudança de um movimento ou energia de uma para outra parte do corpo é, portanto, a fórmula para o que comumente chamamos "descanso" ,  na realidade um novo movimento que permite a renovação dessa energia pelo seu redirecionamento a outras no organismo.

A aplicação desses princípios está presente nos exercícios preparatórios e nos movimentos marciais nas diferentes modalidades do Tai Chi Chuan. Eles orientam, por exemplo, as bases dos movimentos entre o Yin e o Yang e justificam a importância do deslocamento de peso nas várias partes do corpo para a reorientação da energia e garantir o equilíbrio e a harmonia dos movimentos. Explicam também a utilização dos movimentos do Tai Chi para redirecionar e acelerar a energia do oponente contra ele próprio ( princípio da alavanca).( Sobre os conceitos e práticas do Tai Chi Chuan, ver Wong Kiew Kit " O livro completo do Tai Chi Chuan, Pensamento, S.P. 2005)

Daí o Tai Chi Chuan ser uma Arte Marcial ao mesmo tempo que uma Filosofia de Vida orientada para a paz e a meditação através de movimentos lentos, suaves e delicados. O que fica oculto por trás dessa aparente fragilidade é a capacidade de utilizar sua própria energia e as existentes no oponente e no ambiente, prontas a serem aplicadas em movimentos inesperados. Além disso é também uma Arte porque, como acontece com todos os seres da natureza, se expressa pela harmonia e beleza de movimentos, de sons e de cores. 
Embora  encontre suas bases  em princípios das ciências e da tecnologia, ainda que seus movimentos espelhem o equilíbrio e a harmonia dos elementos da natureza e possam  compor uma filosofia de vida, o que define o Tai Chi Chuan é seu destino final,  um processo de educação da mente e do corpo para o homem ocupar com competência seu devido lugar no mundo.


O TAI CHI DEVE SER ENTENDIDO COMO A BUSCA DA SAÚDE ATRAVÉS DE UM CONJUNTO DE MOVIMENTOS FÍSICOS E PROCESSOS MENTAIS QUE PODEM LEVAR O HOMEM À HARMONIA  E EQUILÍBRIO CONSIGO MESMO, COM OS DEMAIS SERES E O MUNDO SENDO CAPAZ DE UTILIZAR, SE NECESSÁRIO, A SUA ENERGIA E A DO MUNDO NA LUTA PELA PAZ.



Um pequeno exemplo resume o que foi dito a respeito dos conhecimentos obtidos através de estudos científicos e da observação da Natureza na pratica do TAI Chi Chuan.

Palavras do mestre em Tai Chi Chuan, Liu Pai Lin em uma aula sobre longevidade ( 02 de julho de 1994). (Tabata R. Katytuxkias, "O homem entre o céu e a terra" via  internet, rede social, 06/09/2015).

" Diante  do símbolo do Tao ( * ) ele disse:  " a Vida contém o princípio da Morte e a Morte contém  o princípio da Vida."
 Apontando para o ponto negro dentro da metade branca no símbolo, diz que os cientistas conhecem bem o buraco negro que tudo engole; que ele está ligado às emoções e pensamentos negativos de desejo, raiva, ignorância. Aponta para o buraco branco na metade negra - ainda desconhecido dos cientistas - e diz que está relacionado aos sentimentos positivos que doam luz e a vida.  
Afirma que o treino do coração pode despertar a inteligência superior que se alinha ao buraco branco. Quando as pessoas entram numa relação de disputa, com  egoísmo e atitudes contrárias às relações de amor, elas embotam a inteligência, o sangue fica impuro e a vida é encurtada.
O conhecimento do Yin e do Yang  implica em colaboração e união das energias do corpo e ajuda mútua com energias fora dele.  Quando não houver, haverá lesões em todas as partes envolvidas. Não entrar nessa frequência é permanecer com o sangue puro e longa vida. 
O homem deve se despojar de todo supérfluo pois sendo desapegado o coração está tranquilo e maior é a facilidade de se conectar com a natureza.
Perguntado sobre as agressões do homem à natureza, responde que a Terra oferece ao homem o que está à sua vista. Que num ciclo de 126.000 anos ela se auto-regenera sempre; o perigo é para o homem que pode desaparecer."

O sábio mestre Liu Pai Lin assim mostrava que a observação do mundo e da natureza já dava à medicina milenar na China informações que hoje as Ciências ainda descobrem e estudam com os modernos recursos da Tecnologia, a Arte vem exibindo  em vários estilos e escolas e cuja importância para a sobrevivência do ser humano a Filosofia reconhece. 

Todas essas considerações podem ser resumidas em um Conjunto de Princípios que explicam e justificam a importância e a necessidade do conhecimento e das práticas do Tai Chi Chuan e a sua importância para o futuro do homen na Terra:
  
- que o Universo (incluindo a Terra e o homem ) é constituído por um conjunto de partículas constantemente  em movimento e mudança; 
- o que promove essa mudança e movimento constantes é a energia, elemento constitutivo de todas as partículas portanto do Planeta Terra como um todo, o que a caracteriza como um Organismo Global Vivo. (Numa discussão sobre as mudanças climáticas no séc.XXI James Lovelock , em seu segundo livro "Gaia, Alerta Final" mostra os perigos da exploração da Terra pelo homem e a vê como um organismo vivo, capaz de se defender);

A Natureza oferece ao homem toda informação que ele precisa saber para uma vida plena -  para ocupar seu devido lugar na cadeia dos seres no mundo por eles  formado.
 À medida que é o homem o  único ser que precisa aprender a viver num planeta que sempre considerou objeto a ser explorado,  encontrará na perfeição dos movimentos dos elementos da natureza e dos seres que nela habitam as lições necessárias e suficientes para cumprir a missão de sua espécie.
O vôo das aves, o deslocamento dos animais durante uma  corrida, a sinuosidade das serpentes, a eclosão da planta em semente, o desabrochar de uma flor, o sabor de um fruto, a dança das árvores sob a brisa ou uma tempestade, o movimento preguiçoso ou violento das ondas do mar, são exemplos de direções e movimentos dos seres e elementos  da natureza que podem interagir com a energia física e mental do homem e o convidar a mudar seu comportamento. 

O símbolo do Homem entre o Céu e a Terra, o mostra com a cabeça no Céu,  como o único ser dotado das funções mentais - consciência, inteligência e emoções - necessárias para compreender a importância das interações que ligam todos os   seres e elementos que compõem o Planeta Terra. Os pés na Terra mostram a sua capacidade para reconhecer e se inserir nos movimentos e mudanças necessários à evolução desse Planeta como um todo.
Além da consciência que o diferencia das outras espécies,  o homem tem em seu corpo e mente os mesmos elementos, a mesma energia que forma o Universo do qual representa uma das partículas. Na cadeia do Cosmos,  como todas as partículas ele é um Microcosmo.

O quadro de princípios que encontramos mostra que a origem e o fim da energia que representa o ciclo ou vida de uma partícula (e a do Universo que elas compõem), estão contidos em si próprios uma vez que cada partícula de energia continua em outra numa cadeia infinita.  

A esperança de que o homem, com sua inteligência e consciência, seja capaz de resolver o problema das consequências da sua ação predatória no mundo está contida na equação paradoxal  de que essa mesma inteligência, há 219 anos atrás, levou Antoine Lavoisier a afirmar que  " No mundo nada se ganha e nada se perde, tudo se transforma", sem os recursos das ciências e tecnologia modernas.
Fritjof Capra, autor do livro O Tao da Física,  15 anos depois de sua publicação em 1975, reconhece que sua teoria sobre o paralelismo entre a física moderna e o misticismo oriental estava, de fato, chegando ao domínio do conhecimento comum.








terça-feira, 3 de março de 2015

A vida que Merecemos

Hoje vemos que uma  parte cada vez maior da população humana começa a tomar consciência e se preocupar não só com a qualidade mas com a continuidade da vida na Terra.
Tanto para cientistas, ambientalistas, filósofos e religiosos como para o trabalhador comum e sua família, as consequências funestas de desastres ecológicos, novas doenças e epidemias, greves, violências entre países e crimes em comunidades, estão fazendo surgir perguntas que exigem respostas urgentes.  

Perdido entre receios e dúvidas, o homem pensa: 
Poderá ser a multiplicação do ser humano na Terra uma razão para o valor da vida estar tão baixo?
Por que mudanças climáticas nunca vistas ocorrem cada vez mais violentas e com maior frequência?
É a Terra mandando seu recado, dando um basta nas ações predatórias do homem?
Será possível encontrar as causas e definir as probabilidades de estabilizar e/ou reverter esse processo?
As buscas de respostas deverão  se concentrar no homem, no mundo ou na interação dos dois?

Muitos se perguntam o que deverão fazer porque temem a aproximação da crescente onda de ameaças da natureza e da sociedade que aumentam os problemas de sobrevivência dos habitantes em muitas regiões da terra.

 Um bom começo para enfrentar o problema seria não somente se  conscientizar da gravidade  dos fatos, mas cada um analisar  seu comportamento em relação ao dos seus semelhantes e a sua convivência com os demais seres vivos e com a natureza que o rodeia.
Por exemplo, como você se comporta diante de torcedores do time rival numa competição esportiva? Qual é sua atitude quando uma lei ou norma social a ou o impede de tomar uma iniciativa prazeirosa ou de retaliação num dado momento?  Ou, ainda, você se preocupa em analisar os valore contidos em situações tais como a da família  homossexual,  de preconceitos raciais, de distribuição de renda, do sacrifício ou da matança gratuita de animais etc., antes de julga-las? Você aprecia conhecer fatos e histórias sobre a vida no seu planeta? Você costuma estabelecer relação entre sua saúde e os incentivos de consumo que lhe são oferecidos através da propaganda e da mídia?

Ninguém pode negar que dependemos do nosso planeta para viver. Ele é que nos fornece alimento, água e ar. Sem ele o homem não desenvolveria as experiências que marcam suas histórias de vida.  Então precisamos verificar a situação desses recursos diante das necessidades da população mundial  e que mudanças eles vêm  sofrendo  em termos de quantidade e qualidade.
Em seguida devemos analisar os procedimentos que têm sido usados para obter da terra o que precisamos e desejamos.  Se e quando o homem se preocupou em repor, com a mesma qualidade, o que  continuamente a terra lhe tem fornecido.  Afinal, cuidar do planeta em que vivemos é cuidar de nossa própria vida. 

Importante é lembrar, ainda, que cada um dos elementos que compõem o nosso mundo ocupa um lugar definido e exerce uma função na extensa cadeia alimentar - deveríamos chamar  de intersustentação -  que define suas características. Apenas um, o homem, parece não reconhecer sua função e lugar. A sua inteligência, voltada para a satisfação de necessidades muitas vezes criadas e nele inculcadas, cada vez mais prementes e diversificadas, o tem levado a introduzir mudanças em vários elementos dessa cadeia. Por exemplo, a sua interferência na composição genética de animais e vegetais dos quais depende para a alimentação, trabalho e lazer, pode levar a resultados negativos ao seu próprio organismo e comportamento. Do mesmo modo, a emissão cada vez maior de gases deletérios na  atmosfera a vai tornando nociva para o homem. Esses são alguns exemplos de comportamentos  inadequados a uma interrelação saudável com o ambiente.

A falsa presunção de que o planeta terra existe para servir ao homem tem levado à suposição de que ao se acabarem os recursos de que os seres precisam  para viver, a terra estará extinta. Perigoso engano! Ao contrário, ela irá responder modificando-se para se adequar a um novo ciclo de vida diferente. O mundo se transformará, no caso de a espécie humana - a exemplo dos dinossauros - encontrar a sua era do gelo... do calor...ou de ambos...sei lá! Só o futuro o dirá!

Fica, então, bem claro que o  homem não tem uma existência independente do mundo, mas uma coexistência com ele.
Ele coexiste com o seu ambiente e, dentro dele com seus semelhantes, com os outros seres vivos - animais e vegetais - e com a própria terra.
Portanto, se as relações não vão bem entre a vida do homem e as condições da terra devemos buscar as respostas no comportamento do homem. Ele deverá mudar sua interação com o mundo a fim de que ambos possam readquirir uma boa convivência.

Para encontrar o que e por que estão ocorrendo erros na relação homem-mundo, é preciso, então, ter sempre em mente estas afirmações básicas: 
- O comportamento humano é o produto das interrelações do homem com seu ambiente (seus semelhantes, os demais seres vivos, as condições físicas do ambiente).
- O comportamento ambiental é o produto das interrelações entre os seres animados e inanimados que o compõem.

O mundo evolui quando as mudanças nos diferentes ambientes o levam em direção ao equilíbrio e harmonia entre ele e os seres que nele habitam.
O homem evolui quando as mudanças em seu comportamento e as do seu ambiente levam ao aumento do equilíbrio e harmonia da sua relação consigo próprio, com os outros homens e com o mundo. 
Concluímos, então, que o grau de equilíbrio e harmonia - evolução - da vida humana está atrelada ao grau de  equilíbrio e harmonia das interrelações homem-ambiente-mundo.

Um olhar à história  do homem na terra nos permite ver que as mudanças decorrentes  dessas relações de interdependência não têm ocorrido de forma ordenada e gradual mas aos saltos e de forma variada nas diferentes regiões e até mesmo entre habitantes de uma mesma região.

Não há parâmetros para quantificar os graus da evolução humana porque não há definição objetiva das características de seu início, meio e fim. É necessário, então, qualificar, em termos de ações e suas consequências, as interações que têm levado ou não ao equilíbrio e à harmonia dos homens entre si, com seu  ambiente e o mundo.

 A comparação das diferentes e variadas maneiras que os povos se desenvolveram pode assinalar etapas qualitativas no processo de sua evolução, mas se desconsiderarmos  o conjunto,  nenhuma etnia sozinha pode indicar uma etapa definida de desenvolvimento de seu povo.
 Esse processo irregular de avanço em alguns aspectos e, por vezes, estagnação em outros, que só pode ser assinalado a partir da comparação das  formas de comportamento dos povos entre si, também pode fornecer dados para indicar aspectos  no desenvolvimento de um mesmo povo num determinado tempo e espaço (a exemplo das consequências mundiais e locais do preconceito racial germânico em uma dada época).

Até hoje, toda tentativa de alcançar o pleno desenvolvimento do ser humano a partir de uma só etnia ou "raça pura" tem levado  ao fracasso e ao desenvolvimento de traços comportamentais rígidos, pré-fixados e até mesmo indesejáveis que bloqueiam a busca do equilíbrio e harmonia  entre os homens e entre estes e o mundo. Exemplos desse tipo de comportamento podem ser encontrados em várias épocas na história do homem.

De outro lado a observação da evolução do ser humano em geral, tem mostrado que certos  grupos de etnia diversificada parecem ter alcançado -  em alguns aspectos do viver - um grau mais elevado de comportamento individual e social na busca da sua evolução em harmonia com o seu ambiente e o mundo.

A observação desses grupos, ainda que superficial,  parece indicar que os indivíduos que os compõem se destacam por alguns padrões comuns de comportamento, a saber: 
- a  reflexão, a afetividade, a comunhão e o compartilhamento, expressos através de cultos, ideais, crenças e filosofias de vida; 
- os indivíduos que compõem esses grupos podem ser, e na sua grande maioria o são, de                      
várias etnias e procedências. São exemplos desse tipo de comportamento alguns cultos e filosofias orientais, certas doutrinas  espiritualistas, a medicina tradicional chinesa, o ambientalismo, a antroposofia e algumas formas de expressão social tais como, dentre outras, a organização não governamental Greenpeace, as associações não governamentais de trabalho voluntário ONGs, a democracia ocidental suíça e a forma social comunitária da tribo da Guiné.
Considerados em certos aspectos relevantes, os comportamentos desses grupos humanos tem demonstrado um avanço considerável na sua coexistência com os elementos de seu ambiente e do mundo.

Se o que buscamos é encontrar as forças que podem bloquear ou acelerar a evolução global do homem com o homem e o mundo em que vive, poderíamos sugerir o seguinte roteiro: 
Em primeiro lugar propor estudos comparativos dos aspectos da vida humana em sua interação com o ambiente, que têm evoluído nesses grupos.
Em segundo lugar buscar nos resultados desses estudos algumas respostas em termos de idéias e consequentes comportamentos, capazes de descobrir e interferir nas forças que bloqueiam ou aceleram essa evolução. 
Por último, analisar essas idéias e comportamentos frente aos resultados dos estudos e pesquisas sobre a evolução das condições existentes em nosso planeta em relação às necessidades vitais da espécie humana no momento.
James Lovelock, um dos cientistas vivos mais influentes no campo dos estudos das mudanças climáticas na terra introduziu o conceito de Gaia - a idéia de que a biosfera da terra se comporta como se fosse um organismo único.  ( Lovelock, J., 1919. Trad. Gaia: alerta final - Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010 ).
Segundo a sua teoria,  talvez nossa civilização possa fazer uma passagem sem dramas para um futuro onde a biodiversidade e a mudança climática já empobreceram o ecossistema a um ponto quase inóspito para os seres humanos.
 Mas isso irá depender de medidas governamentais urgentes e decisivas e de campanhas sustentadas que consigam transformar atitudes coletivas e estilos de vida. Tais medidas envolverão valores que o homem estabelece nas suas relações consigo mesmo e com a comunidade; com os seres vivos em geral e com o mundo que habita.

E, finalmente, devemos aguardar com fé em nosso Criador que nós, humanos, tendo mudado nossos valores e, consequentemente, nossos comportamentos, a Terra  nos aceite novamente como seus  parceiros no Universo.


Quando eu mudo, o mundo se transforma....

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Nossas Escolhas, Nossos Valores, Nosso Mundo

Certo dia li  uma mensagem  no meu face. O autor se referia a capacidade de Julgar. A maneira como  o tema foi colocado, assim como os comentários - todos pertinentes - que se seguiam, me levaram a pensar na importância das escolhas e julgamentos para a nossa vida.
O autor dizia que devemos julgar sob duas condições: 
- vendo alem das aparências e
- com o objetivo de ajudar a corrigir o erro e não para condenar pelo erro cometido.
Nesse sentido salientava o papel da justiça no resultado do julgamento.
Concluía dizendo que julgarmos e nos deixarmos ser julgados com justiça é o caminho para o crescimento mútuo.
Por fim fundamentava os critérios de tal julgamento na Religião quando  observava  que Jesus disse (Jo, 7:24): "não julgueis segundo a aparência mas julgai segundo a reta justiça".

 Achei que nesse texto havia muitos conceitos de profunda importância colocados sem análise, como se fossem verdades em si próprios, principalmente quando o autor coloca  um dogma religioso como o mais forte alicerce de suas afirmações :"....julgai segundo a reta justiça". 
Isso, de início, já coloca a justiça acima de qualquer sentido lógico e discussão humana. 
Inclui a pressuposição de que, não só a justiça é um fato, mas também que ela pode ser um instrumento a  ser utilizado pelo homem. Supõe que, tendo uma existência própria, ela pode ser encontrada e definida por suas características, independente de quem a pratica.

Ora, para mim o conceito de justiça é uma abstração; é a expressão final de um processo mental intelectual que decorre de escolha e julgamento. Com base nesse julgamento é que haverá uma decisão e uma proposta de ação (justiça) que poderá ser uma punição (castigo) ou uma colaboração (ajuda). Em ambos os casos o objetivo será sempre a correção de um erro cometido.
O processo de detectar e analisar o erro para fazer justiça, assim colocado bem poderia ser simples, reto e,  como o autor quer, conduzir ao crescimento mutuo - do justiçado e do justiceiro . Por que, então, é um dos comportamentos humanos mais difíceis de realizar e aceitar sem discutir

Vejo que, enquanto o resultado de um julgamento (justiça) vai depender das conclusões às quais todos ou a maioria dos envolvidos no julgamento chegarem, a decisão que dela decorrerá estará atrelada aos conceitos e valores morais, éticos e religiosos do ou de cada um dos indivíduos aos quais caberá decidir sobre o castigo e/ou a ajuda; àqueles que melhor corresponderem  à correção da falta cometida.
Acontece, porém, que tais conceitos e  valores são tão individuais quanto o são os indivíduos entre si e por isso sempre haverá dúvida quanto à aplicação da justiça em cada caso.
Essa é uma das  razões pelas quais a ação da justiça sempre leva em conta - pelo menos em teoria - todos ou a maioria dos julgamentos. Isto significa que a a ação da justiça  não será mais do que a do poder de convencimento  de uns indivíduos sobre outros e, assim mesmo,  com base em diferentes conceitos de valores. 

Lembramos ainda que os conceitos -  e os valores deles decorrentes  - sempre poderão sofrer, no mesmo indivíduo, mudanças no tempo e no espaço. Por exemplo, quem é a favor da pena de morte pode ter por base diferentes conceitos e valores: porque ela "corta o mal pela raiz"; é menos trabalhoso e econômico do que cuidar do criminoso numa cadeia; é caridoso pois impede sofrimentos do culpado com outros tipos de castigos; impede que o mal atinja vítimas futuras ou simplesmente porque não crê na reabilitação social do criminoso! 
Algum tempo depois, o mesmo indivíduo que julgou poderá modificar seus conceitos sob a influência de suas experiências de vida.
Assim, o resultado de um julgamento será sempre discutível, isto é, sempre poderá ser  passível de discussão como todas e quaisquer formas do comportamento humano nas relações interpessoais. 

Entretanto, escolher, julgar, decidir e agir são procedimentos tão importantes à vida que existem e acompanham passo a passo o desenvolvimento do homem desde o nascimento. O próprio ato infantil de aceitar ou rejeitar um alimento pode decorrer de uma escolha que está ligada a um julgamento incipiente - o instinto. Por fim, a escolha de um dado procedimento pode modificar um futuro e até mesmo ser a diferença entre perder ou não uma vida. Por exemplo o caso do indivíduo que decidiu ser mais importante comparecer a uma entrevista do que voltar mais cedo para casa; o ônibus em que ia embarcar sofreu um acidente do qual, por sua escolha e julgamento ele se livrou.

A capacidade de fazer escolhas vai se desenvolvendo e sofisticando no homem por força  de  elementos do ambiente, da educação e da inteligência. Na convivência com os outros  o homem desenvolve, para base de seus julgamentos, valores sociais considerados desejáveis sendo o mais sofisticado - critério para examinar os demais - a RESPONSABILIDADE.  A responsabilidade que uma pessoa tem em relação aos seus julgamentos e atos para com sua  própria vida e a de outros é que vai pautar a ação que lhe compete com base nos elementos e valores de que dispõe. 
A responsabilidade pode levar a situações de conflito entre os valores e as ações deles decorrentes. Por  exemplo, a pena de morte pode ser julgada justa e reta diante de um crime cometido, mas pode também ir contra os princípios e valores humanitários de quem deve julgar. Um juiz pode sentir-se intimamente violentado e angustiado por decretar uma pena de morte embora saiba que está fazendo justiça.

 De outro lado, escolhas, julgamentos e decisões podem levar à superações, conquistas e realizações. As maiores vitórias da humanidade em todos os campos das ciências, das artes e da comunicação são resultados da curiosidade inata ao homem que o  leva a procurar, aceitar ou recusar , julgar e transformar o que em sucessivos desafios a mente e o mundo lhe apresentam.

Se pensarmos em todo tipo de comportamento humano em todas as situações de vida, entenderemos  que a capacidade de fazer escolhas, julgar, decidir e agir é o que torna a vida ao mesmo tempo tão rica quanto complexa pois leva ao crescimento.

A capacidade humana de ESCOLHER e JULGAR com base nos elementos de cada situação, face aos seus valores deverá conduzir ao aperfeiçoamento desses mesmos valores frente a sua própria vida, a de outros seres vivos, abrangendo, enfim, o mundo em que o homem habita.
A capacidade de DECIDIR e AGIR  envolve a Responsabilidade, isto é, depende de valores e julgamentos que cada um acredita justos e de consenso ou seja, do julgamento de outras pessoas sempre que a decisão envolva situações de vida e/ou a liberdade de alguém.
Podemos dizer, então, que a capacidade de JULGAR é individual e natural por ser necessária ao desenvolvimento do ser humano enquanto a AÇÃO dela decorrente deve ser determinada  por valores, não só individuais mas também sociais, porque sempre irá se refletir, não só na sua própria vida como na vida de outra ou de muitas pessoas e no mundo em que vivem.
 
As consequências sociais de uma ação julgada correta (justa) sempre serão atribuídas à responsabilidade de quem por fim a decretou.
Por isso um juiz se apoia num corpo de jurados, os pais buscam reforço para educar seus filhos nos valores familiares e sociais, os jovens fortalecem suas ações com os valores e julgamentos dos amigos, etc. Os valores do grupo sempre diminuem a responsabilidade de quem decreta o ato pretensamente justo.

O dogma religioso seria, então, a forma mais perfeita de isentar de responsabilidade o ou os indivíduos aos quais couber fazer justiça, passando-a para as mãos DAQUELE QUE TUDO SABE E TUDO VÊ.  
Por isso é tão importante, por exemplo, que a maior autoridade de uma Igreja não se apoie apenas em dogmas mas mostre a sua capacidade humana de julgar e decidir mediante valores pessoais e sociais, morais e éticos alem de religiosos. Exemplo disso é a admiração despertada  pela pessoa, pelo trabalho assim como pelas mensagens que o nosso atual papa Francisco dirige ao povo em todos os lugares do mundo onde tem ido.
Enfim, vemos que também a Orientação Divina e a justiça dela decorrente - por depender do homem -  pode variar em diferentes épocas e lugares, de oriente à ocidente, de norte à sul. 
 Por força de um dogma religioso, um povo pode considerar crime gravíssimo e decretar a amputação do dedo mindinho como o primeiro castigo por roubar assim como a decapitação por divergência de idéias políticas ou religiosas. Para outro povo esses crimes podem não passar de simples enganos ou direitos do homem livre.

Não só nesses  mas em vários outros aspectos da vida humana, vemos que as consequências de certos julgamentos e ações podem adquirir grande importância. Hoje, cada vez mais o homem está sendo colocado diante de novos desafios para enfrentar graves ameaças tanto a sua sobrevivência quanto a da própria Terra.
Já começaram a surgir teorias e discussões  em torno de novos conceitos tais como Eco-sistema, Ambientalismo, Clima Planetário,  etc. e suas implicações na vida dos seres que habitam a Terra.

É preciso, portanto, alertar sobre o fato de que, ao lado do extrema importância  da prática da liberdade de escolher, estabelecer valores e agir como um direito de conquistar uma vida cada vez mais confortável,  corre o perigo dos julgamentos e ações levianas, sem  suficientes  bases científicas, sociais, morais e éticas. E as suas consequências  não só podem como já estão afetando tanto a espécie humana e os demais seres como o próprio planeta onde vivem.
As catástrofes ambientais decorrentes das ações predatórias do homem contra a Natureza são sinais de alerta sobre esses  perigos. Talvez pelas ameaças ao conforto que a Terra sempre lhe ofereceu ou porque chegou o momento em que o homem cresceu o suficiente para compreender as implicações vitais dos desequilíbrios provocados na harmonia das interações Homem-Mundo, ou ainda em decorrência de ambos, o fato é que o homem está acordando para uma nova realidade e seu maior desafio.

Na perspectiva da realidade atual o nosso planeta  já não cabe mais no conceito de propriedade do homem. Os acontecimentos estão mostrando que os seres humanos devem começar a perceber a Terra como um planeta vivo, capaz de reagir e se defender das suas ações destrutivas.  Podemos afirmar que uma das razões de o homem não ter percebido mais cedo esse perigo que vinha se alastrando era não ter ainda crescido o suficiente  para avaliar e julgar mudanças que ocorriam em câmera muito lenta diante de seu tempo de vida.
Hoje estudiosos e cientistas pesquisam para descobrir o que fazer pela vida humana diante dessa nova realidade e de um novo conceito das relações Homem-Mundo como um organismo vivo e interligado. 

Apoiado em vários trabalhos científicos James Lovelock, expõe uma teoria sobre o planeta Terra que ele denomina GAIA, com o  significado de Planeta Vivo. 
Procura mostrar que o homem já está ultrapassando (ou já ultrapassou) o ponto em que poderia reverter o processo de destruição da vida ( nas condições que conhecemos) na Terra.
Para ele a Terra não se auto-destruirá mas se adaptará sem considerar a destruição dos seres vivos que nela habitam. Não seria mais o caso de tentar reverter o mundo às antigas condições de uma Terra a Serviço do Homem  mas sim de encontrar meios de Cuidar da Terra e Modificar  seus Valores para Preservar a Vida dos Seres que nela habitam.

E assim chegamos, não a um julgamento conclusivo mas a uma pergunta cuja resposta pode conter uma solução:
É possível hoje,  a capacidade intelectual do homem julgar, encontrar e aplicar com justiça para com todas as formas de vida, uma SENTENÇA CORRETIVA PARA O HOMEM SALVAR A SUA VIDA PELA RENOVAÇÃO DE SEUS CONCEITOS E VALORES  ASSIM COMO DAS CONDIÇÕES DA TERRA?
 


 
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