domingo, 29 de julho de 2012

Sentir a Vida

Fiquei muito feliz por vocês se lembrarem e - importante - terem se comunicado comigo no Dia dos Avós. Para mim isso teve um grande significado, pois me fez acordar para um acontecimento óbvio, nem sempre entendido, porem sentido pelos idosos, o qual chamarei de Evolução do Sentir a Vida.

Eu o defino como um ciclo do viver que, para cada casal tem início com a geração de seu primeiro filho. Esta criança se torna o centro, a primeira e maior razão do viver dos pais, os quais passam a ocupar lugar secundário na ordem de importância na familia.

Entretanto eles continuam sendo os primeiros, os principais, pois deles dependeu a formação da nova vida e a responsabilidade sobre seu desenvolvimento em termos de cuidados, amor e proteção. Este amor acompanhará o filho por toda a sua vida - e além da vida.

Ainda que o filho se torne cada vez mais independente em muitos aspectos materiais e sentimentais,ele será, para os pais, sempre o bebezinho fragil que precisa de proteção e carinho (embora muitas vezes mal interpretados pelo filho e contra a sua vontade).

O desenvolvimento de novos interesses, de necessidades naturais às sucessivas faixas etárias, assim como as variadas tarefas que a vida impõe provoca um distanciamento crescente de comunicação, identidade e comunhão entre os pais e cada um de seus filhos, em diferentes graus.

O Sentir a Vida vai se tornando particular e individual e, sem uso, os canais de comunicação vão enfraquecendo cada vez mais. Tal processo tende a ocorrer com maior ou menor intensidade em todas as familias e só sofrerá nova mudança em sua natureza, em um certo e importante momento na vida de cada um: quando os filhos tiverem seus próprios primeiros filhos. Então o ciclo recomeça mais uma vez.

Mas... e quando os pais se tornam avós?

Há sempre uma grande festa emocional, quando os avós recebem seus netinhos e com eles convivem - em geral por pouco tempo. Faz parte da evolução natural que o distanciamento crescente entre os netos e seus avós seja maior do que entre os filhos e seus pais. É tambem natural que os avós estejam emotivamente (demonstração de carinho e não a falta de amor) mais ligados aos netos fisicamente mais proximos.

Neste caso o enfraquecimento dos laços familiares tende a não ocorrer, podendo ser fortalecidos pelo maior uso dos canais de comunicação, atualização de outros canais já existentes e a criação de novos canais que permitam maior comunicação e identidade entre as gerações. E o ciclo continua...

O que dizer, então dos bisnetos e seus respectivos bisavós?

Não é sem razão que já se pode pensar nisto pois a expectativa de vida está aí pelos 100 aninhos...
Há uma necessidade cada vez maior de participação socio-econômica na solução de problemas, inclusive de sobrevivência, de idosos. De outro lado, há um contingente significativo de aposentados em condições de usufruir do que a vida tem a oferecer.

O interesse financeiro e comercial, atualmente voltado para a clientela infantil, começa a descobrir um novo veio promissor: a terceira e/ou melhor idade. O que o Comércio faz melhor é pesquisar e responder aos interesses e necessidades da sociedade. Com a extensão crescente da vida individual, as famílias e as comunidades se veêm obrigadas a pensar mais frequentemente nos avós e bisavós - esperando-se que o "Alemão" esteja cada vez mais controlado para não levar grande parte dos velhinhos a "praias distantes".

Penso que o amor (não a piedade), o carinho (não a subserviência) e a convivência (não a proximidade apenas física), representam um fator emocional e emotivo capaz de ajudar a corrigir o desgaste do viver que se instala com o distanciamento crescente entre as gerações dentro da família.

É preciso entender tambem que tal processo tende a acelerar com a crescente e absorvente agitação da vida moderna. Daí a preocupação cada vez maior da família com o que fazer com o contingente de avós e bisavós "distantes e dependentes".

Muitas vezes idosos em famílias bem estruturadas emotiva e emocionalmente demonstram tanta vitalidade e alegria de viver que amigos e conhecidos dizem admirados: "Parece que o tempo não passou para voce!" . Ora, o tempo não se vê nem se mede; logo, não existe! O que se pode quantificar são as mudanças que ocorrem no espaço e que o definem. Daí o descompasso entre a idade cronológica (proposta social) e a " idade de vida" (determinada pelo Sentir a Vida). Por isso encontramos jovens "velhos" e velhos "jovens".

Uma resposta positiva e promissora está nos interesses sociais e governamentais pela criação de atividades socio-culturais e físicas compatíveis com a 3a. - e por que não - 4a. idades. Neste sentido, está crescendo o interesse por um atendimento especial aos idosos, isto é, aqueles que estão "na melhor idade".

Morrer é um FATO e não um PROBLEMA, como diz minha neta Aninha. Então procuraremos resolver os problemas de "como" , "quanto" e "com que qualidade de vida" devemos e podemos viver.

Viver Sentindo a Vida deverá ser nossa meta, que envolverá bisavós, avós, pais, filhos, netos e bisnetos, pois todos deverão passar por esta escala (na melhor das hipóteses), até o dia e a hora que formos chamados de Volta para Casa.

Colocando minha vida numa balança, vejo que tenho muito a agradecer pelas graças abundantes que tenho recebido de nosso Pai Maior e por ter sido, por Ele, abençoada toda a minha família.

Por razões desta natureza fiquei muito feliz com o Dia dos Avós e aguardo a chegada do Dia dos Bisavós.

8 comentários:

  1. Lindo texto vó, adorei seu blog!!! Beijao, te amo, saudades!!!

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  2. Vó Lilia, adorei!

    Vou "sentindo a vida" todos os dias, e espero chegar onde a senhora chegou. Logo mais uma bisneta por aí...
    Um beijo gigante :)

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  3. Portas para o Mundo
    Oi mãe, muito legal o seu texto, claro, lúcido e didático. Eu digo lúcido sem me referir à sua idade mas sim à clareza do texto, coisa que muita gente nos quarenta e no pico da produtividade não consegue ter. Meu único reparo fica ao uso das vírgulas, mas isso é detalhe menor e tem a ver com o maneirismo de cada um ou, talvez, com a antiga professora que ensinou o aluno a se manifestar do seu jeito ;o) O mais bacana da sua argumentação, entretanto, não se relaciona ao vernáculo mas sim à idéia colocada sobre as Portas para o Mundo. O que eu concluo depois da leitura da sua linda mensagem é que você tece uma ode à informática, maravilhada com a fantástica possibilidade que ela abre para a comunicação entre os seres humanos. Hoje eu, por exemplo, acesso a bula de um medicamento apertando uns poucos botões no meu Mac Air enquanto falo com o meu paciente, podendo dessa forma saber qual a dosagem exata para o seu caso, quais as contra-indicações e efeitos colaterais. Não preciso mais saber "de cor" - linda essa expressão não?. Isso é bom: muito mais segurança para o meu paciente. Isso é ruim: menos necessidade de exercitar a memória. Este é um pequeno exemplo do alcance da informática, mas serve para o meu propósito que é argumentar que, como tudo, pode servir para um dos três lados da existência: é bom, é ruim ou é indiferente. Dentro da minha fantasia pessoal a Porta para o Mundo já existe, sempre existiu, e está ao alcance de todos. O problema é que, por ser também a Porta Para Todas as Coisas ou a Porta Para Saltar Dessa Para Outra Com o Conhecimento Cristalizado, ela é extremamente difícil de ser encontrada e depois aberta. Não acredito que o avanço tecnológico por si seja significado de avanço evolutivo do ser humano, muitos destes avanços são até deletérios trazem péssimos resultados. Fica aí o meu desassossego em relação à tecnologia, como fica também a minha eterna gratidão à informática pelo lindo presente que me dá ao permitir que eu tenha acesso às idéias da minha prendada mãe que vêm daí, de Santos, e me alegram e enriquecem o coração aqui, em Sampa, entre duas consultas. Um beijo, Mãe, do marco.

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  4. Marco, adorei seu comentário! É isso mesmo que eu espero: crítica, opiniões  e sugestões. Achei muito bom que, depois de fazer a lição de casa - elogiar-, você entrar  firme nas críticas e dar a sua visão da  Internet. Quanto às vírgulas, acho que eu me preocupo em dar espaço para o leitor pensar e também para não ficar "roxinho" sem pausa para respirar; é meu  jeito! Mas o mais importante mesmo é ver a sua preocupação com os "efeitos deletérios da informática". Ora, este é outro tema; eu só o assinalei pois, a meu ver, o defeito da informática decorre do uso que o homem faz  da Internet. Ela é como  uma arma: a bala atinge o que você apontar e nem sempre é o que desejaria se pudesse  pensar melhor antes de atirar. Enfim, se em alguns casos a informática permite a perda de memória pelo desuso, há coisas muito mais importantes onde  usar a memória  do que decorando bula de medicamentos. Por exemplo, dialogando com o paciente de modo a que ele se sinta " gente" e não "um paciente de uma fila de pacientes" . Você sabe muito bem disso  porque seus pacientes logo deixam de sê-los, apenas, para se tornarem amigos. Assim,  viva a tecnologia que nos permite ter às mãos uma calculadora em lugar das tabuadas! Sei que seu tempo é sempre curto mas experimente utilizar outros recursos que o seu Mac Air tem.
    Outra coisa importante: você pensa que  há muitas outras Portas para o Mundo? Eu gostaria que esclarecesse melhor seu  pensamento. Se está se referindo ao conhecimento  das coisas do mundo " in loco" eu concordo plenamente . Será que a gente conseguiria pelo menos 10% da população do mundo com condições de ir atrás do que deseja conhecer? É preciso ter recursos financeiros em primeiro lugar. Depois poder se deslocar sozinho ou com a família, isto é, não ter alguma enfermidade, nem ser portador de deficiência física (neste  caso até poderia mas imagine as despesas!), etc. Veja a maravilha para o conhecimento que é o Intercâmbio Cultural para estudantes. Mas veja também as dificuldades envolvidas. Praticamente está destinado á população de média ou alta renda. 
    Filho, preciso conhecer mais as suas idéias sobre as Portas. Elas sempre existiram?  Estão ao nosso redor?  Onde? Pegue o seu Mac Air, leve-o com você para o Sítio, deixe os passarinhos em paz e me escreva mais sobre as Portas para o Mundo!  Beijos carinhosos da tua mãe.

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  5. Thais, obrigada por sua participação. Fico feliz e espero que essa vidinha maravilhosa que está com você (mas o Ivan está junto na torcida que eu sei) venha logo participar da família.

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  6. Janinha,beijão também!
    Joia você estar lendo meu blog. Não só leia mas aproveite, pense e me diga alguma coisa sobre o que você leu. Beijo também para o Henrique.

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  7. Oi mãe, desculpe a demora, tenho pensado muito em te responder, o difícil é criar o espaço para sentar e acalmar o espírito para falar com o coração, escrevendo sem muita interrupção para que o pensamento possa fluir solto e encadeado.
    Estamos falando das Portas, assunto levantado na sua colocação das Porta Para o Mundo.
    Respondendo a sua pergunta sobre o que, ou como, eu entendo isso, eu quero dizer que para mim trata-se de um Conhecimento a ser conquistado ao longo da existência quando ela é conduzida de maneira proveitosa para o nosso Ser. Podemos simplificar este conceito: quando uma pessoa se dedica a responder as suas perguntas existenciais sem se perder seriamente ao longo do caminho ao se iludir demais com as alucinações existenciais provocadas pelos prazeres da vida material. Xi(ou Chi), ficou mais confuso agora? Bom , vamos tentar de outro jeito, quando as pessoas passam a se dedicar somente a sua condição material, seu vínculo com o palpável à sua volta e se esquecem da sua finitude. Acho que agora arranhei o que quero dizer, mas isso tudo para contra-argumentar a sua colocação de que é preciso dinheiro para isso. Não penso assim, acho que as portas para um melhor conhecimento da razão da nossa existência na Terra estão ao alcance de qualquer um que se dedique a isso com esforço, mantendo a sua cabeça limpa e clara, vivendo o momento presente com atenção, sem viajar para a frente ou para trás o tempo todo, sem escapar de forma alucinógina pelo álcool ou por drogas a qualquer obstáculo que surja, ou seja, de cara limpa e com curiosidade constante e, também, sem medo de sofrer, pois o sofrimento faz parte do nosso mundo povoado de sentimentos e de emoções. Acima de tudo, tendo bem claro o conceito da finitude do ser humano, percebendo que temos um tempo a ser usado no nosso trabalho, e que ele não volta para trás.
    Ao te ver chegar neste lindo outono, mãe, e vendo a sua trajetória de vida, corajosa, sem jamais entregar a peteca seja a quem for, eu sinto que eu também posso fazer isso, ganho força, e meu orgulho de fazer parte da vida de alguém como você.
    E posso dizer com conhecimento de causa que você não precisou de muito dinheiro para ser o que é, só de coragem e coração. Muitas Portas foram abertas no seu caminho, vc pode olhar para trás e ver um longo trajeto percorrido. Quantas pessoas podem dizer isso? Será que 10%? Acho que não, infelizmente, mas a "culpa" é de cada um, ficaram pelo caminho, ou estão ficando, porque enquanto há vida sempre se pode abrir mais uma Porta.
    Um grande e grato beijo, com muito amor, marco

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  8. Muito boa suas reflexões

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